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Muito antes da invenção da moeda metálica padronizada, diferentes civilizações encontraram formas diversas de representar valor, realizar trocas e acumular riqueza. Desde séculos antes de Cristo, objetos como sal, chá, gado, lingotes metálicos, conchas, contas de vidro, bambu e ferramentas agrícolas serviram como instrumentos monetários — as chamadas moedas-mercadoria, ou protomoedas.
As protomoedas têm valor intrínseco e foram utilizadas tanto como meio de troca quanto como forma de ostentação, pagamento de tributos ou reservas de valor. Seu uso remonta há mais de 5 mil anos, quando o escambo predominava, e algumas delas coexistiram com moedas metálicas até o século XX. Em muitos casos, deixaram um legado duradouro — inclusive em palavras do nosso vocabulário cotidiano.
O sal que virou salário
O sal foi um dos primeiros bens a ser utilizado como moeda. Civilizações antigas como a Babilônia, o Egito, a China e sociedades pré-colombianas atribuíam a ele alto valor, especialmente por sua importância na conservação de alimentos. Na Roma Antiga, parte do pagamento dos soldados era feito em sal, prática que deu origem à palavra “salário”.
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Cauris: a moeda mais utilizada da história
As conchas cauri, de coloração branca e formato característico, foram amplamente empregadas como dinheiro por mais de 3 mil anos. Originárias dos oceanos tropicais, elas circularam da China até a África Ocidental, passando por Índia, Sudeste Asiático e até o Pacífico Sul. Pequenas, duráveis e esteticamente valorizadas, os cauris foram tão relevantes que chegaram a representar a principal forma de pagamento em diversas sociedades, inclusive no comércio de escravizados e bens valiosos.

Ferro, ferramentas e valor simbólico
Na África, o ferro foi não apenas matéria-prima de ferramentas e armas, mas também instrumento monetário. Ele circulava de diferentes formas — desde o metal bruto até objetos elaborados. Entre os exemplos mais marcantes estão os Kissi pennies e as Manillas — pulseiras metálicas usadas no comércio, inclusive na compra de pessoas escravizadas, o que lhes rendeu na Europa o apelido de “dinheiro de escravo”. Apesar dessa associação negativa, as manillas também eram utilizadas em contextos culturais, como casamentos e trocas cerimoniais, sendo parte fundamental da herança simbólica africana.
Na Grécia Antiga, espetos de ferro precederam as moedas de prata. Em Esparta, o ferro foi escolhido propositalmente para dificultar o acúmulo de riqueza. Na Índia, África e Indochina, enxadas e outras ferramentas agrícolas circulavam como dinheiro, destacando o valor prático e simbólico do material metálico. Entre os Bahnar, do Vietnã, a enxada era a menor unidade monetária.
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Vidro e cor como valor
Durante o século XIX, contas de vidro ganharam ampla circulação em regiões da África. Produzidas na Europa, essas peças eram usadas como pagamento, tributo ou ornamento. Sua aceitação dependia de convenções locais: determinadas cores ou formas serviam para pagar alimentos, outras para contratar serviços. Sua estética era tão importante quanto sua função monetária.

O bambu e o chá como dinheiro no Oriente
Na China, especialmente durante a dinastia Song (960–1279), o bambu foi utilizado como suporte para sistemas de crédito e vale-mercadoria. Pequenas tabuletas de bambu, com inscrições registrando valores e prazos, circularam como promissórias e anteciparam a ideia do papel-moeda. Em certas regiões rurais, o bambu também era utilizado como dinheiro local, devido à sua abundância, facilidade de marcação e aceitação comunitária.

Outro exemplo notável foi o uso do chá como moeda, especialmente na Ásia Central e no Tibete. Blocos prensados de chá — geralmente em formato de tijolos retangulares — eram transportados por caravanas e amplamente aceitos como forma de pagamento. Por serem duráveis, transportáveis e de valor reconhecido, esses tijolos de chá serviram tanto como moeda de troca quanto como reserva de valor. Em algumas regiões tibetanas, o “chá-moeda” permaneceu em uso até o início do século XX, sendo valorizado não só por seu conteúdo, mas também por seu papel na cultura alimentar e religiosa local.
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