Robert de Niro e o silêncio do ator

Em um conselho valioso a um jovem ator presente na plateia, De Niro enfatizou: "Confie em sua intuição e siga sua primeira impressão sobre um roteiro"

Jennifer Queen

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“Se eu ganhar um aceno de cabeça ou um meio sorriso, vou entender que fui aplaudido de pé”, brincou Leonardo DiCaprio ao apresentar Robert De Niro como homenageado com a Palma Honorária no 78º Festival de Cannes.

Conhecido por seu estilo mais discreto, Robert De Niro é, nas palavras de um jornalista veterano do festival, um entrevistado difícil, “no melhor dos dias”. Foi com essa anti-expectativa que cheguei à Masterclass do ator, um dos eventos mais aguardados a cada edição.

A Sala Debussy – segundo maior espaço do festival, palco que já recebeu lendas como Meryl Streep, Martin Scorsese, Michael Douglas, Alain Delon e John Travolta – estava lotada. Para jornalistas, jovens atores, diretores e fãs vindos de todo o mundo, a oportunidade era única: como tomar um café com uma lenda viva do cinema, possivelmente em um dos seus últimos grandes momentos públicos.

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A entrevista foi conduzida pelo artista francês JR, responsável por um documentário sobre De Niro intitulado “The Past Goes Fast”. A expectativa era de que a intimidade entre os dois faria a entrevista fluir melhor, mas o público rapidamente percebeu que o desconforto inicial de De Niro persistiria. Após minutos de aplausos calorosos, o astro limitou-se a respostas breves, quase monossilábicas, tornando difícil o trabalho de JR, que brincou com o público, misturando reverência e leve frustração: “Estão vendo? É com isso que eu preciso lidar todos os dias”.

Muitas pessoas saíram da sala e horas depois as manchetes liam: como JR arruinou a masterclass com De Niro. 

Mas o evento foi quase salvo meia hora antes do fim. JR abriu para perguntas da plateia, prática histórica do festival que tinha sido abandonada nos últimos anos, quando Cannes começou a atrair curiosos de todos os tipos e menos gente do mercado em si. De Niro se conectou com aspirantes a atores e diretores, amantes de cinema em geral que tinham vindo de todas as partes do mundo para ouvi-lo falar.

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O ator compartilhou histórias sobre seus primeiros passos no cinema, destacando influências como James Dean, Marlon Brando e Montgomery Clift. Citou especificamente “Splendor in the Grass”, primeiro filme de Warren Beatty, como inspiração pessoal. Em um conselho valioso a um jovem ator presente na plateia, enfatizou: “Confie em sua intuição e siga sua primeira impressão sobre um roteiro”.

Ecoando seu recente discurso ao receber a Palma de Ouro Honorária, De Niro mencionou implicitamente o presidente norte-americano Donald Trump, afirmando que “as pessoas geralmente sabem qual é a coisa certa a ser feita. O problema é que quem detém o poder tem medo de perdê-lo e acaba tomando decisões erradas, quando, na realidade, ao fazerem a escolha correta, acabariam fortalecendo ainda mais seu poder”.

Em uma cena do projeto de documentário, um Robert de Niro imenso – como só o cinema produz – diz que não tem medo da morte, porque ter medo da morte não é uma opção. Então a câmera de JR se demora em seu rosto, e o silêncio, e o medo, ficam na imagem.

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Jennifer Queen

Jennifer Queen é cinéfila e fundadora da Pina, agência de história e PR