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O termo repressão financeira, cunhado pelo economista de Stanford Ronald McKinnon em 1973, ganhou popularidade na grande crise financeira de 2008 por pesquisas da economista Carmen Reinhart, co-autora com Ken Rogoff do best-seller This Time is Different: Eight Centuries of Financial Folly.
Analisando a história econômica, de forma bem resumida, os autores afirmam que há cinco maneiras que as nações adotam para lidar com excesso de dívida. Situação exatamente igual à que estamos atravessando atualmente.
Crescimento econômico, austeridade fiscal, inadimplência/calote, alta inflação ou repressão financeira combinada com inflação moderada.
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Os autores dizem que o calote e a inflação alta são empreendidos em “condições econômicas verdadeiramente desesperadas” e que a austeridade fiscal geralmente leva “a uma recessão econômica, que tende a jogar fora parte do ganho e acaba sendo politicamente inviável”.
A saída apenas via crescimento econômico é rara, sendo necessário um choque de produtividade ocasionado por alguma variável exógena.
Consequentemente, a repressão financeira juntamente com um pouco de inflação, que permite que os governos capturem e mal paguem “os poupadores domésticos”, é o caminho mais fácil e menos árduo.
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A tática, combinada com a inflação moderada, funciona para cortar a dívida por meio de taxas nominais baixas que reduzem os custos do serviço da dívida, taxas de juros reais negativas que corroem a relação dívida/PIB do governo e que, efetivamente, atuam como um imposto sobre os poupadores.
Nesse sentido, os autores mostram que a taxa real negativa que os poupadores obtêm agem como uma transferência de riqueza para os endividados.
Enquanto as taxas baixas servem para transferir capital dos poupadores para os tomadores de empréstimos, tanto governamentais quanto privados, os autores argumentam que a repressão e a inflação são politicamente mais seguras e menos visíveis do que cortes de gastos impopulares ou aumentos de impostos conduzidos na arena política.
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Fato importante, que afeta o ambiente de investimento em um mundo de repressão financeira com inflação moderadamente mais elevada, é que a transferência de riqueza acontece dos detentores de dívida – tanto pública quanto privada – para tanto os governos como as empresas endividadas.
É nesse ponto que nasce a grande oportunidade para as empresas e, consequentemente, para os seus acionistas.
As empresas com dívidas também acabam sendo beneficiadas por esse ambiente de juros reais extremamente baixos ou negativos. Também existe transferência de riqueza dos seus credores para os seus acionistas. Em função disso, o lugar para se estar é na ponta do acionista, do beneficiário pela transferência de riqueza. Ter alguma dívida nesse ambiente é positivo.
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Vivemos em um ambiente financeiro internacional favorável ao acionista, em que o rentista tem sua riqueza transferida para as empresas e governos. O pior lugar para estar é na falsa sensação de segurança da baixa volatilidade da renda fixa.
Esse ambiente de juro real negativo ainda não chegou nos mercados emergentes, mas, de alguma maneira, ele já pode estar começando a nos impactar por meio de inflação de ativos financeiros. Mais adiante, continuando o desenrolar da busca por yields mais elevados no mundo, o tsunami dos juros reais baixos também pode chegar nos nossos litorais. Nesse caso, o risco é não corrermos risco para nos protegermos.