Prata de Potosí: o metal que impulsionou a economia colonial e imperial brasileira

Durante os séculos XVIII e XIX, a prata de Potosí era a principal matéria-prima para a produção dos discos das moedas brasileiras

Mariana Campos Bruno Pellizzari

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A prata extraída do Cerro Rico de Potosí, na Bolívia, foi um dos recursos mais valiosos da economia mundial entre os séculos XVI e XIX. Essa imensa mina, descoberta no início do período colonial espanhol, abasteceu a Europa, a América e outras partes do mundo com toneladas de prata que movimentaram mercados e fortaleceram impérios. No Brasil colonial e imperial, a prata de Potosí teve papel decisivo, especialmente na produção de moedas que sustentaram o crescimento econômico do país.

Cerro Rico e cidade de Potosí, na Bolívia (Divulgação/Bruno Pellizzari)

Durante os séculos XVIII e XIX, a prata de Potosí era a principal matéria-prima para a produção dos discos das moedas brasileiras, garantindo a circulação de moeda necessária para as atividades comerciais e administrativas da colônia. Contudo, uma mudança importante na economia monetária brasileira ocorreu em 1809, com a criação da moeda de 960 réis, que marcaria um novo capítulo na história econômica do Brasil.

A intrigante história dessa moeda remonta a 1808, quando a Família Real Portuguesa, liderada por Dom João VI, refugiou-se no Brasil para escapar das invasões napoleônicas na Europa. Entre as primeiras ações do monarca estava a necessidade de fortalecer o sistema monetário brasileiro. Assim, Dom João ordenou a aplicação de um carimbo nas moedas de 8 reales hispânicas que circulavam em grande quantidade no país, dando origem ao famoso “Carimbo de Minas”.

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Moeda de 8 reales de Potosí com carimbo de Minas aplicado no Brasil (Reprodução/Bruno Pellizzari)

Porém, foi a partir de 1810 que teve início o processo completo de recunho dessas moedas — que consiste em bater sobre uma moeda existente o desenho de outra, alterando sua aparência e valor nominal. Essas moedas, cunhadas no Brasil entre 1810 e 1834, simbolizaram o fortalecimento da economia brasileira e conquistaram reconhecimento internacional, sendo amplamente colecionadas em vários países devido à variedade das moedas-base utilizadas.

Moeda colonial brasileira de 960 réis de 1810, cunhada no Rio de Janeiro, sobre moeda de 8 reales de Potosí. É possível ver resquícios da moeda base (Reprodução/ Alexandre Costa)

Logo após a criação dos 960 réis, o governo colonial passou a comprar as moedas espanholas de 8 reales — amplamente circulantes no Brasil — por cerca de 750 réis cada, para utilizá-las como moeda-base. Essas moedas eram então recunhadas com o cunho brasileiro, elevando seu valor nominal para 960 réis.

A diferença entre o valor pago pelo governo e o valor atribuído às moedas recunhadas, descontados os custos do processo, representava um lucro para a colônia, conhecido como senhoriagem. Essa prática gerava uma importante fonte de receita para a administração colonial, contribuindo para o financiamento das atividades governamentais e para o fortalecimento da economia local.

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Moeda imperial brasileira de 960 réis de 1823, cunhada no Rio de Janeiro, sobre moeda de 8 reales de Potosí de 1814. É possível ver resquícios da moeda base. (Reprodução/ Alexandre Costa)

A moeda de 8 reales, produzida principalmente na Casa da Moeda de Potosí, era a principal moeda de prata cunhada pela Espanha na Europa e em suas colônias nas Américas. Reconhecida como a primeira moeda de circulação global do mundo, essa peça foi amplamente utilizada durante o período em todos os continentes, tornando-se referência internacional no comércio e na economia.

Essas moedas desempenharam papel essencial no Brasil: dezenas de milhares de exemplares provenientes de Potosí chegaram ao território colonial e foram recunhados em três Casas da Moeda — Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. Esse processo consolidou não apenas o uso do metal de Potosí, mas também sua relevância estratégica para o sistema monetário brasileiro.

Delegação de numismatas brasileiros e bolivianos na Casa da Moeda de Potosí (Divulgação/Bruno Pellizzari)

De 02 a 06 de setembro de 2025, o Rio de Janeiro será palco da V Convenção Internacional de Historiadores e Numismatas – RIO2025, que reunirá pesquisadores de 32 países. O evento discutirá não apenas a influência da prata de Potosí e a história do sistema monetário brasileiro, mas também uma ampla variedade de temas relacionados à numismática, promovendo trocas de conhecimento e novas perspectivas sobre a história econômica e cultural.

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Mariana Campos

Diretora de Comunicação da Sociedade Numismática Brasileira (SNB)

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Bruno Pellizzari

Presidente da Sociedade Numismática Brasileira (SNB)