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O futuro das relações EUA x China sob a disputa entre Trump e Biden

Mesmo que Trump perca a eleição, a disputa deve prosseguir porque há um consenso bipartidário de que a China precisa ser contida de forma assertiva
Por  Jonathan Wood -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A rivalidade entre Estados Unidos e China, as duas maiores potências da atualidade, cresceu nos últimos anos. Essa situação é impulsionada por eventos como os efeitos ainda persistentes da crise financeira de 2008, a evolução tecnológica, políticas populistas e nacionalistas, além da própria pandemia de Covid-19. E também são tema da atual eleição presidencial em curso nos Estados Unidos. E como a disputa pela Casa Branca pode impactar essas relações já conturbadas entre Washington e Pequim?

Caso o republicano Donald Trump seja reeleito, a tendência é de continuidade da atual trajetória coercitiva e unilateral na política externa. Sua estratégia de “America First” para competir com as grandes potências minaria ainda mais as instituições internacionais, bem como suas regras e mecanismos.

Essa tendência também seria notada nas relações dos EUA com a China. Assim como em 2016, o país asiático continua a ser alvo de campanha negativa de Trump, usando a Covid-19 no lugar de culpar o país asiático pela perda de empregos na indústria americana.

Mesmo que Trump perca a eleição, a disputa entre Estados Unidos e China deve prosseguir. Isso porque há um consenso bipartidário em Washington – ou seja, entre Democratas e Republicanos – de que a China precisa ser contida de forma assertiva em diferentes áreas. Até o ex-vice-presidente e atual candidato Democrata à Casa Branca, Joe Biden, também defende “ser duro” com a China.

Ou seja, a diferença entre Republicanos e Democratas quanto à China é mais na abordagem do que em seus objetivos. Os Democratas veem a administração Trump ao mesmo tempo como contraproducente e ineficaz e propõem uma competição com a China reparando alianças e parcerias, buscando maior coordenação e cooperação em questões como sanções, controles comerciais e diplomacia regional. Uma administração do partido Democrata tenderia ainda a iniciativas mais fortes para reduzir as tensões externas e focar mais em assuntos domésticos.

É provável que, sob Biden, Washington busque uma redefinição das relações com a China, mesmo mantendo pressão em muitas questões. A China provavelmente também acolheria uma oportunidade de reiniciar as relações e conter uma futura escalada.

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Um importante contrapeso a esse entendimento bipartidário para endurecer economicamente contra a China tem sido a comunidade empresarial nos Estados Unidos. O lobby exercido por essa classe evitou algumas das políticas mais disruptivas contra Pequim imaginadas por Trump, como forçar a retirada das empresas chinesas das bolsas dos Estados Unidos, limitar as exportações de tecnologia ou restringir as parceiras e investimentos entre companhias dos dois países.

No entanto, a tendência subjacente de um ambiente de negócios mais complicado – e até arriscado, de certa forma – entre empresas dos dois países deve continuar. Os Estados Unidos expandiram o escopo de sensibilidade à segurança nacional em relação aos chineses para áreas como tecnologias emergentes, dados, produtos farmacêuticos e transações financeiras, além de adotar uma postura mais dura quanto a direitos humanos sobre empresas chinesas – seja para compras ou vendas.

O desenvolvimento regulatório e a fiscalização vão dizer se essa dissociação pode ser contida em áreas específicas. Mas independentemente de quem sair vencedor na eleição presidencial nos Estados Unidos, as empresas provavelmente encontrarão um cenário de negócios cada vez mais complexo e desafiador.

Jonathan Wood Jonathan Wood é o principal analista da Control Risks para Estados Unidos e Canadá, além de diretor-adjunto de Pesquisas Globais. Wood é responsável pela análise de riscos políticos, operacionais, de segurança e de integridade para os setores de óleo e gás, mineração, seguros, serviços financeiros, varejo, construção civil e tecnologia.

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