O Brasil no centro da transição energética e o papel do hidrogênio verde

Mais do que uma conferência, esta COP tornou explícito que não há mais espaço para a narrativa da adição energética

Fernanda Delgado

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Em 2025, o Acordo de Paris completa dez anos. Uma década depois, sua mensagem permanece urgente e absolutamente atual: acelerar a implementação das metas climáticas e restaurar a confiança no multilateralismo. A COP 30, realizada em Belém, no coração da Amazônia, deu contornos concretos a esse chamado ao reunir 194 países em um esforço global para transformar compromissos ambientais em soluções efetivas, um verdadeiro mutirão mundial pela credibilidade e pela ação climática.

Mais do que uma conferência, esta COP tornou explícito que não há mais espaço para a narrativa da adição energética. O mundo precisa substituir, e não apenas complementar, os combustíveis fósseis. O lançamento do Mapa do Caminho para o Fim dos Combustíveis Fósseis simbolizou esse ponto de partida coletivo rumo ao pós-carbono. Mas, como sempre, o desafio vai além de anunciar metas, trata-se de viabilizar, financiar e implementar.

Nesse cenário, o Brasil se destacou não apenas como anfitrião, mas como articulador de soluções e líder emergente da transição energética. Temos uma matriz já majoritariamente limpa, abundância de recursos naturais, segurança energética e um ecossistema de inovação que evolui rapidamente. E é aqui que o hidrogênio verde se afirma como eixo estratégico – e também industrial, social e geopolítico.

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Nossa participação na COP 30 foi uma oportunidade para reforçar que o hidrogênio verde é mais que um vetor de exportação. É, sim, uma ferramenta concreta de reindustrialização, inclusão regional e fortalecimento da economia brasileira. Ao estimular novas cadeias produtivas, desenvolver tecnologias limpas e integrar setores tradicionalmente intensivos em carbono, como fertilizantes, aço, cimento, logística e transporte pesado, ele se torna essencial para que o país cumpra metas climáticas e avance nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

O Brasil reúne todas as condições para liderar essa nova fronteira. Nossa carteira de projetos, com FID previsto entre 2026 e 2029 em hubs como Pecém, Suape, Bahia e Rio Grande do Norte, consolida o país entre as geografias mais promissoras do mundo para produção de amônia e hidrogênio verde. A partir de 2029, devemos iniciar a produção escalável de amônia, metanol, fertilizantes e hidrogênio, posicionando o Brasil como protagonista da economia de baixo carbono.

Contido, liderança exige coerência, integridade e confiança. Nesse sentido, a COP 30 também marcou avanços fundamentais como, por exemplo, a realização da Global Initiative for Information Integrity on Climate Change, parceria entre UNESCO, Governo do Brasil e UNFCCC.

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A agenda em Belém também destacou a importância de alinhar políticas industrial e ambiental, algo que defendemos reiteradamente. A transição só será justa e efetiva se caminhar junto do desenvolvimento econômico, da inovação e de investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento. Painéis sobre tecnologia, financiamento, saúde e mudanças climáticas mostraram que essa integração é possível e necessária. As discussões sobre gênero, com o apoio da ABIHV, novamente lembraram que mulheres e crianças são as mais vulneráveis aos efeitos da crise climática e que a pobreza energética é um desafio urgente, sobretudo para regiões periféricas.

A COP 30 reforçou que esta é uma década decisiva. O mais recente relatório da Agência Internacional de Energia projeta um aquecimento de 3°C se nada mudar, um alerta que não pode ser ignorado. Por isso, defender o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e avançar na regulamentação do hidrogênio, do financiamento climático e da inovação não é uma agenda técnica, é uma agenda de sobrevivência, desenvolvimento e soberania.

A missão da ABIHV é construir as bases para que o hidrogênio verde seja produzido e comercializado de forma competitiva e massiva no país, integrando tecnologia, sustentabilidade e impacto socioeconômico. E esta COP mostrou que estamos no caminho certo com ambição, cooperação e ciência, podemos liderar a transição que o mundo exige e fazer dela uma oportunidade histórica para o Brasil.

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Estamos vivendo um momento de escolhas. Escolhas que definirão o futuro climático, econômico e social do planeta. O hidrogênio verde é uma dessas escolhas e o Brasil já decidiu estar do lado da inovação, da responsabilidade e do futuro.

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Fernanda Delgado

Fernanda Delgado é diretora executiva da ABIHV (Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde), liderando a missão de desenvolver a cadeia produtiva do H2V no país, com foco tanto na oferta quanto na demanda. Professora de pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, tem mais de 20 anos de experiência em empresas de destaque no Brasil e no exterior e também atua como Conselheira do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Sustentável da Presidência da República. Doutora em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ, é autora de quatro livros e dezenas de artigos sobre o setor energético e geopolítica, além de coordenar programas de equidade feminina na área. Sua vasta experiência em gestão estratégica, fusões e aquisições e inteligência competitiva a capacitam a promover o hidrogênio verde como vetor de desenvolvimento e competitividade para a indústria nacional.