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Diante do desafio climático, muitos ainda se sentem paralisados. O aumento da temperatura global, seus impactos econômicos e sociais e as metas de transição parecem distantes, técnicos demais e complexos para que indivíduos e organizações compreendam e atuem. É justamente nesse ponto que a comunicação ganha um papel determinante: tornar compreensível o que é complexo, transformando conhecimento técnico em direção estratégica.
Nesse sentido, a nova Taxonomia Sustentável Brasileira, lançada pelo Ministério da Fazenda, mais do que um catálogo técnico, representa uma mudança de linguagem e, portanto, um avanço. Ao estabelecer um vocabulário comum baseado em critérios verificáveis, ela reduz ambiguidades e despolitiza o debate público sobre sustentabilidade, retirando-o do campo das opiniões e aproximando-o do campo dos fatos. A taxonomia torna explícito, por exemplo, que a geração de energia solar ou eólica é classificada como atividade verde, pois contribui diretamente para a redução de emissões. Já setores que ainda não têm alternativas tecnológicas de emissão zero, como a produção de cimento ou a mineração de lítio, essenciais para a transição energética, são enquadrados como atividades de transição, desde que cumpram metas de descarbonização progressivas. O rigor técnico evita distorções narrativas e limita o uso oportunista do discurso ambiental, fortalecendo a integridade dos compromissos climáticos.
Segundo o cientista Paulo Artaxo, um dos principais especialistas em mudanças climáticas no Brasil, o desafio climático hoje já não está mais na ciência. O diagnóstico sobre o aquecimento global e suas causas está estabelecido com amplo consenso internacional. O que falta é transformar conhecimento em ação e esse passo depende de decisões políticas, econômicas e, sobretudo, de comunicação. Porque só há ação quando há entendimento, mobilização e alinhamento entre agentes públicos, empresas e sociedade.
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Viva e em constante evolução, a comunicação da sustentabilidade enfrenta desafios tão complexos quanto os próprios dilemas climáticos: disputa pela atenção, escassez de confiança, assimetria de informação e a dificuldade de gerar engajamento contínuo. É necessário conectar ciência, políticas públicas, mercados e sociedade em torno de soluções coletivas, combatendo a desinformação e dando escala a resultados mensuráveis.
Mais do que divulgar compromissos climáticos, as empresas precisam comunicar caminhos, mostrar evidências e manter o engajamento mesmo após os grandes anúncios. Na era das métricas ESG e da responsabilização ampliada, comunicar não é apenas relatar, mas sim sustentar coerência entre narrativa e execução.
Na COP e para além dela, comunicar sobre clima significa contribuir para a construção de um novo modelo de sociedade. Não basta mudar o fim; é preciso transformar os meios e os comportamentos: os padrões produtivos, o uso de recursos, as métricas de progresso e até os critérios de valor econômico. A comunicação é uma ponte crítica entre diretrizes técnicas e mudança cultural, capaz de transformar inovação em ação e compromisso em impacto. Em se tratando de crise climática não podemos falar por falar, ou falar apenas para agradar um ou outro polo ideológico. Não podemos mais repetir padrões antigos esperando resultados diferentes.