Não existe uma bolha de AI. Existem três. Nunca estive tão otimista.

São bolhas simultâneas, interdependentes, mas de natureza diferente. Entender essa diferença é o primeiro passo para transformar hype em oportunidade

Rodrigo Fernandes

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O debate sobre inteligência artificial ganhou escala, mas ainda tropeça na leitura equivocada do mercado.

Muitos tratam o tema como se houvesse uma única bolha em formação. Não é o caso. São três bolhas simultâneas, interdependentes, mas de natureza diferente. Entender essa diferença é o primeiro passo para transformar hype em oportunidade.

Três bolhas em AI: preços, capacidade e discurso

A primeira é a bolha de preços. Empresas ligadas à AI são avaliadas como se parte relevante do futuro já estivesse garantida. Multiplicadores sobem rápido e, quando a correção vem, punem quem comprou expectativa como se fosse entrega.

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Esse movimento é financeiro, não tecnológico. Preços são voláteis e tendem a convergir com fundamentos. Já a adoção segue outro ritmo. Para o investidor, o risco é confundir narrativa com geração de caixa.

A segunda é a bolha de capacidade. O investimento em data centers, energia, resfriamento e GPUs cresceu muito além da demanda atual. Parte dessa infraestrutura ficará ociosa no curto prazo. Mas a história mostra que o excesso de hoje costuma preparar o terreno de amanhã. Custos caem, elasticidade aumenta e novas aplicações passam a ser viáveis.

É o padrão descrito por Carlota Pérez em outros surtos tecnológicos. Para o investidor, a questão é identificar quem consegue atravessar o período de ociosidade sem comprometer balanço e quem estará posicionado para capturar a queda de custos quando o ciclo virar.

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A terceira é a bolha de discurso. Lançam-se pilotos sem problema definido, sem linha de base e sem integração. O hype substitui o método. O resultado é frustração. Um estudo do MIT mostrou que 95% dos projetos corporativos em AI não geraram impacto em P&L.

O problema, na maioria das vezes, não é da tecnologia, mas do desenho e da governança. O investidor atento sabe que indicadores de vaidade não se traduzem em ROI. Valor aparece quando há dor clara, métricas objetivas e integração real ao processo.

Essas três bolhas coexistem, mas não se anulam. A queda de múltiplos não apaga ganhos já visíveis em automação, redução de retrabalho e melhor decisão. Capacidade ociosa não elimina economias em backoffice, atendimento e análise. E o excesso retórico não impede empresas disciplinadas de transformar pilotos bem estruturados em operação. Para o investidor, o ponto é distinguir ruído de valor.

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Como transformar hype em oportunidade

A questão central é a alocação de capital. Quando a oferta de mercado não é suficientemente boa, os custos de transação aumentam e as empresas precisam desenvolver competências próprias, com impacto direto em CAPEX.

Quando a oferta atinge padrão adequado, prevalecem economias de escala do fornecedor e preservação de caixa. Essa escolha é dinâmica e depende do ciclo de preços, da elasticidade de capacidade e da curva de aprendizado. O erro, do ponto de vista do investidor, é apoiar empresas que tentam antecipar etapas sem base operacional madura, ampliando risco de lock-in e volatilidade nos resultados.

Outro ponto importante é sair da visão restrita de custo. AI não deve ser vista apenas como ferramenta de redução de despesas. Ao baratear e acelerar tarefas, ela permite ampliar frequência, escala e qualidade. Isso abre espaço para novos mercados e receitas antes inviáveis.

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Investidores que só olham para sinergias de custo podem perder a maior parte da história de crescimento. A modularidade das ferramentas, por exemplo, facilita combinações entre modelos fundacionais, modelos compactos e camadas de orquestração. Esse arranjo amplia o conjunto de projetos viáveis e melhora o retorno esperado.

Da narrativa ao caixa: onde está o valor

O saldo é positivo. A utilidade já é visível em atividades de alto volume e baixa diferenciação, onde AI reduz erros e libera tempo para tarefas de maior valor. A queda gradual de custos amplia o conjunto de aplicações economicamente sustentáveis.

Empresas que aprendem a governar dados, mitigar riscos e medir resultados tornam seus projetos mais previsíveis e mais próximos das prioridades do negócio. Isso tende a se refletir em margens mais resilientes, menor volatilidade e valuation mais sustentável.

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Para o investidor, a leitura é clara. Existem três bolhas em AI: preços, capacidade e discurso. Elas podem ocorrer juntas, mas não significam a mesma coisa e não anulam o potencial da tecnologia. Separar as categorias ajuda a entender onde o mercado está apenas precificando expectativa, onde há excesso de capital que pode virar vantagem futura e onde o discurso não entrega resultado.

O ciclo financeiro corrige exageros, a infraestrutura permanece e a curva de utilidade continua avançando. O momento pede sobriedade, não euforia. Mas é exatamente a sobriedade que abre espaço para oportunidades de investimento consistentes.

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Rodrigo Fernandes

Rodrigo Fernandes é fundador da Comunidade Métricas Digitais, espaço de referência em métricas e finanças para negócios da Nova Economia. Com longa experiência no mercado digital, integra finanças, estratégia e governança para apoiar empresas em escala e eficiência. Além disso, é Professor na Fundação Dom Cabral, mentor no G4 Educação, advisor na Pingback e Templo Educação e Senior Partner na VPx Company.