“Lei do mais forte” de Trump recebe críticas, mas resultados aparecem

As táticas de negociação do presidente americano, que envolvem até ameaças, geram descontentamento, mas enfrentar o poderio americano não é uma decisão fácil e pode custar caro

Roberto de Lira

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Presidente dos EUA, Donald Trump, fala com repórteres, em Washington
22/02/2025
(Foto: REUTERS/Craig Hudson)
Presidente dos EUA, Donald Trump, fala com repórteres, em Washington 22/02/2025 (Foto: REUTERS/Craig Hudson)

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Ainda que traduzida em outras expressões, como a famosa “America First”, a doutrina que Donald Trump defende desde seu primeiro mandato nas relações internacionais – que incluem as táticas comerciais – está fortemente baseada no princípio do “might is right” (“o poder é o direito”, numa tradução livre). Para simplificar, é o império da “lei do mais forte”. E é preciso reconhecer que ele já tem obtido algum sucesso em várias situações.

Pegue-se como exemplo a famosa reunião pública que ele manteve na semana passada com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Salão Oval da Casa Branca. O líder do país invadido pela Rússia há três anos — que era recebido como convidado de honra na gestão Biden — tomou um pito público do republicano, reforçado por intervenções agressivas do vice-presidente JD Vance, e saiu dos EUA ainda mais enfraquecido politicamente do que entrou.

Ao que tudo indica, Zelensky acabará aceitando a proposta americana de ceder acesso de investidores dos EUA à exploração dos chamados minerais de terras raras na Ucrânia, cobiçados pelas indústria de tecnologia de todo o mundo.

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Além disso, a interrupção da ajuda financeira e militar dos EUA à Ucrânia acabou por acelerar uma resolução da União Europeia de aportar cerca de 800 bilhões de euros à nação aliada em sua guerra contra os agressores russos.

Nesse ponto, não se deve esquecer que Trump alerta há tempos que seus aliados, especialmente os integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) precisavam colocar mais dinheiro na área de defesa – sob ameaça até de abandonar o grupo.

Outra sequência de fatos que obedeceu aos desejos de Trump veio do Canal do Panamá. Antes de ameaçar até retomar à força o controle da passagem marítima, o presidente americano fez seguidas alegações de que a região estava sob o controle da China. 

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Apesar das negativas oficiais sobre essa tutela chinesa, nesta semana o grupo CK Hutchison, de Hong Kong, concordou em vender sua participação num operador portuário local para um consórcio apoiado pela BlackRock.

Esses são alguns exemplos de como o uso do poderio econômico e comercial dos EUA não pode ser subestimado. No momento, os canhões estão apontados para as tarifas do comércio exterior, que Trump alega estarem prejudicando os negócios do país. Será importante ver quem vai decidir encarar o desafio de confrontá-lo. E por quanto tempo isso vai durar.

Roberto de Lira é editor no InfoMoney e jornalista especializado em Economia e Negócios, com experiência em redações de grandes empresas de mídia. É autor do livro: “Bolsonário: A ‘Nova Política’, de A a Z.