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Imposto mínimo global: o que está em jogo

Pelo lado positivo, taxação acrescentaria um nível de certeza ao sistema tributário internacional; do lado negativo, mundo continua a discutir de forma implícita o aumento do tamanho, do poder e da influência dos estados na vida dos cidadãos
Por  Jason Vieira -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O Brasil notoriamente possui um problema grave tributário e tem raízes históricas no protecionismo que imperou e ainda impera em nossa economia fechada, com forte intervenção estatal.

A complexidade da nossa estrutura de impostos é parte constante na nossa matriz de custo e que leva as empresas aqui instaladas a gastarem juntas até 34 mil horas somente com o pagamento e apuração de impostos conforme estudo da consultoria Deloitte e isso conta obviamente com queda de produtividade e elevação de custos.

Outra questão são as quase literais fronteiras tributárias criadas pela guerra fiscal no Brasil, através de absurdos como substituições tributárias, isenções e métodos diferenciados de coleta, fazendo a produção sofrer, mesmo quando cruza um estado ao qual uma carga, por exemplo, não é destino.

Tal cenário brasileiro é o ápice do absurdo em termos de impostos, sendo o Brasil o país mais improdutivo do mundo neste sentido.

Todavia, o problema não é exclusividade nossa, principalmente pela questão de evasão e paraísos fiscais.

Desde a adoção de sistemas de controles mais rígidos, novas e mais amplas regras de Basileia, os paraísos fiscais ficaram menos atraentes no mundo, mesmo para empresas que fazem todos seus negócios na mais completa legalidade.

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Tais empresas multinacionais, em especial as de tecnologia operaram a complexidade fiscal de cada país em que se instalavam de forma a buscar a melhor solução através do status de “non-resident” em diversos países e criar diversas manobras tributárias intercompanhia, mudando a caracterização do objeto da empresa, buscando o que se chamam mismatches, ou seja, a busca por lacunas e incompatibilidades entre praças para buscar o melhor tratamento tributário possível, sempre em observação aos impostos cobrados por cada país.

Na enorme maioria dos casos, os tratamentos tributários eram feitos dentro do estrito teor da lei, respeitando a norma de cada país, mas levando, sob obviamente a óptica dos governos, a uma evasão fiscal danosa aos cofres públicos.

Tais eventos foram taxados pelos governos de BEPS (Base Erosion and Profit Shifting), ou seja, erosão de base tributária e transferência artificial de lucros, com apoio da OCDE e do G20, o qual recentemente acordou em uma cobrança de um imposto mínimo de 15% entre os país do G7 e quer expandir tal movimento para mais 40 países.

O Brasil, obviamente, não precisa se preocupar, com sua base tributária em 34% do PIB, sendo que os bancos pagam até 45%. Além disso, temos instrumentos para demonstrar nominalmente o que são considerados paraísos fiscais desde 1996, ou seja, a frente de muitos países.

Para governos como dos EUA, o qual tem planos de forte expansão fiscal e tenta a todo custo aprovar um draconiano aumento de impostos, tal taxação mínima é importante para evitar que empresas manobrem seus lucros e dividendos para fora do país.

Joe Biden diz que esta estratégia visa garantir que a globalização e o comércio sejam aproveitados para o benefício dos trabalhadores americanos e não apenas para bilionários e corporações multinacionais.

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Já há várias iniciativas multilaterais entre os governos de forma a mitigar o que eles entendem como BEPS e a taxação mínima vem de encontro a tais premissas.

Pelo lado positivo, a criação de um imposto acordado conjuntamente evita a criação de novos DST (Digital Service Taxes – Impostos Digitais sob Serviços) e acrescentaria um nível de certeza ao sistema tributário internacional que acabaria por beneficiar as empresas de grande tecnologia no longo prazo, apesar do imposto mínimo de 15% global elevando os custos no curto prazo.

Pelo lado negativo, o mundo continua a discutir de forma implícita o aumento do tamanho, do poder e da influência dos estados na vida dos cidadãos, o que pode se tornar cada vez mais intruso, com a adoção de diversos programas no mundo de renda mínima de grande generosidade, com consequências graves na produtividade e custos globais de mão de obra.

O que os governos não entendem com isso é que as grandes corporações não nasceram para perder dinheiro.

Jason Vieira Jason Vieira atua no mercado financeiro desde 1994, principalmente nas áreas de análise macroeconômica, mercados, estratégia e em divisões internacionais. É economista formado pela Universidade Mackenzie, com extensões em macroeconomia nos EUA. Possui experiência no Brasil e no exterior em instituições como UpTrend, JP Morgan, Sanwa Tokyo-Mitsubishi, Santander, Infinity Corretora e CM Capital Markets. Atualmente é Economista Chefe na Infinity Asset.

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