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Nos últimos dez anos, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) cresceram significativamente, tornando-se um importante canal de concessão de crédito para empresas de todos os portes.
Nesse período, o patrimônio líquido (PL) desses fundos quase quadruplicou e, em dezembro de 2024, atingiu R$ 589 bilhões, ultrapassando pela primeira vez o volume alocado em fundos de ações (R$ 584 bilhões), segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
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Esse crescimento reflete a migração do crédito, antes concentrado nos bancos, para o mercado de capitais. Hoje, há FIDCs com PL superior a R$ 1 bilhão, comparáveis a algumas instituições financeiras. A atratividade do produto vem de sua flexibilidade, menor burocracia, diversidade de risco e liquidez. Além disso, avanços regulatórios, como a Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (em vigor desde novembro de 2024), fortaleceram a segurança e estrutura desses fundos.
Entretanto, em 2025, o cenário econômico desafiador impõe um novo teste para os FIDCs. A demanda por crédito continua elevada, mas gestores e estruturadores de operações estão mais rigorosos na avaliação de empresas e recebíveis. Com a taxa básica de juros em 14,25% ao ano e sem perspectiva de queda no curto prazo, o custo do crédito pesa ainda mais sobre as companhias, que além da Selic, precisam arcar com spreads adicionais.
Outro fator preocupante é o aumento expressivo dos pedidos de recuperação judicial. Em 2024, foram registradas 2.273 solicitações, um salto de 62% em relação a 2023, segundo o Serasa Experian. Micro e pequenas empresas foram as mais afetadas, respondendo por 74% dos casos. Em janeiro de 2025, houve 162 novos pedidos, o maior número já registrado para o mês desde 2005.
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Embora os FIDCs tenham começado a financiar empresas em recuperação judicial, oferecendo crédito com condições especiais, essas operações envolvem riscos significativos. Assim como outros credores, os fundos podem enfrentar alongamento de prazos e deságios elevados.
Além disso, a pesquisa Firmus, divulgada pelo Banco Central no fim de março, revelou uma “deterioração significativa” na percepção das empresas sobre a economia entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025. O estudo também apontou queda no otimismo em relação ao desempenho dos setores e projeções mais pessimistas para as margens de lucro nos próximos 12 meses.
Diante desse cenário de maior incerteza e risco, os critérios para concessão de crédito estão mais rígidos para empresas de todos os perfis. Uma alternativa que tem ganhado força são operações estruturadas via FIDCs com garantia imobiliária, permitindo prazos mais longos e aliviando o fluxo de caixa das companhias.
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Para os gestores, o momento exige proximidade com os clientes, monitoramento contínuo da saúde financeira das empresas e acompanhamento rigoroso das operações e dos fundos. Em tempos de crise, a seletividade na concessão de crédito se torna não apenas uma estratégia, mas uma necessidade para a preservação da indústria de FIDCs.