Entre a mental e a física: precisamos falar sobre saúde social

O SXSW trouxe reflexões sobre como nossa compreensão da saúde evoluiu ao longo do tempo e como ainda negligenciamos a importância das conexões humanas

Giovana Pacini

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Durante o SXSW deste ano, uma discussão me marcou profundamente: a necessidade de reconhecer a saúde social como um pilar fundamental do nosso bem-estar, ao lado da saúde mental e física. O evento trouxe reflexões sobre como nossa compreensão da saúde evoluiu ao longo do tempo e como ainda negligenciamos a importância das conexões humanas.

Nos últimos dez a quinze anos, as discussões sobre saúde mental ganharam protagonismo. No ambiente doméstico, entre amigos, nas escolas e no trabalho, tornou-se impossível ignorar esse tema. A saúde física, por sua vez, segue sendo amplamente debatida, impulsionada pela busca incessante por longevidade e qualidade de vida. No entanto, a pandemia de cinco anos atrás escancarou um terceiro eixo essencial: a saúde social. O isolamento forçado ressaltou os impactos negativos da solidão e trouxe à tona um debate necessário sobre como nos relacionamos.

No SXSW, Kasley Killam e Amy Gallo enfatizaram que a saúde social está diretamente conectada à nossa produtividade, felicidade e até mesmo à nossa longevidade. Estudos demonstram que o suporte social reduz significativamente o risco de depressão e doenças crônicas, além de aumentar a expectativa de vida.

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Além do impacto na qualidade de vida, Kasley destacou que a saúde social também tem uma dimensão econômica, citando a projeção de que o setor de saúde mental crescerá de US$ 380 bilhões em 2020 para US$ 530 bilhões até 2030, ultrapassando US$ 1 trilhão quando somados os investimentos em saúde coletiva. Dados da Fortune que reforçam uma questão social alarmante e a solidão como uma crise de saúde pública. Temática que Kasley Killam explora em seu livro The Art and Science of Connection: Why Social Health is the Missing Key to Living Longer, Healthier, and Happier, onde reforça a conexão humana como um fator essencial para uma vida equilibrada.

Lembro-me de uma experiência pessoal, 30 anos atrás, durante minha primeira visita a Las Vegas. Entrei em um cassino e me surpreendi ao ver um teto artificial imitando um céu azul perfeito, projetado para fazer os jogadores perderem a noção do tempo.

Hoje, percebo um paralelo com a forma como a tecnologia, apesar de suas inúmeras vantagens, muitas vezes nos desconecta do mundo real e isso tem sido feito há pelo menos três décadas. Para além dos cassinos, hoje cada vez mais jovens recorrem à inteligência artificial como substituto para interações humanas, algo que pode comprometer suas habilidades sociais no futuro.

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A discussão sobre saúde social no SXSW também abordou o impacto das conexões no ambiente de trabalho. Foi citado um estudo que mostra que aqueles que têm melhores amigos no trabalho são sete vezes mais produtivos. Isso reforça a importância de promover um ambiente organizacional onde as conexões interpessoais sejam incentivadas. Palestrantes sugeriram práticas simples, como reservar tempo para conversas informais e expressar gratidão a colegas, como formas eficazes de fortalecer esses laços. O desafio está em usar a tecnologia para potencializar conexões reais, e não substituí-las.

Saí da edição 2025 do evento convencida de que a saúde social precisa ser priorizada tanto no ambiente pessoal quanto profissional. Não temos como fugir do digital, mas podemos usá-lo estrategicamente para enriquecer nossas relações. O futuro da saúde não se limita ao físico e ao mental – está também na forma como nos conectamos e interagimos com o mundo ao nosso redor.

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Giovana Pacini

Giovana Pacini é Country Manager da Merz Aesthetics®️ Brasil desde 2020. Com mais de 20 anos de experiência na indústria farmacêutica, reconhecida por sua liderança humanizada e orientada para resultados, Giovana promove uma cultura de equidade de gênero e foca na entrega de resultados sustentáveis.