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A economia brasileira cresce há três trimestres consecutivos. No último, de janeiro a março, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 1% em linha com o esperado por analistas. Para 2022, expansão de 2% está no páreo, mas não sem percalços.
Inflação de 12,13% em 12 meses até abril, combinada à manutenção da Selic em cerca de 13,25% até o segundo trimestre de 2023 e perspectiva desalentadora de normalização das cadeias de suprimentos para a indústria, azedam projeções de crescimento no ano que vem. Grandes bancos já preveem variação zero para o PIB de 2023.
Paralelamente a esse cenário macroeconômico inquietante, pesam contra uma atividade mais vigorosa o endividamento das famílias e empresas; a inadimplência elevada e crescente; e a postura arredia dos bancos na concessão de crédito.
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Esse é o panorama que se descortina já para o segundo semestre, apesar do esforço do governo e do Congresso em viabilizar programas como o PRONAMPE, facilitador para empréstimos a pequenas e médias empresas que deve injetar R$ 50 bilhões em pequenos negócios até o fim de 2024, e a aprovação na Câmara dos Deputados do Marco de Garantias.
Agora sob avaliação do Senado, o projeto autoriza o uso de um imóvel para várias operações de crédito. A decisão é um avanço para potenciais tomadores – pessoas físicas e empresas –, mas é também uma variável adicional a ser monitorada pelas instituições financeiras que temem o efeito da inadimplência nos resultados futuros.
E os dados sobre inadimplência já são preocupantes porque a fragilidade dos consumidores afetará as empresas devido a uma deletéria parceria: Selic persistentemente elevada e perda de renda dos trabalhadores. Essas condições agravam o saldo da pandemia, quando mais de 50% das pequenas e médias empresas observaram inadimplência de clientes, consumidores e empresas, segundo levantamento da Serasa Experian realizado no ano passado.
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Além das dívidas a pagar, estrangulam o orçamento das famílias a inflação sustentada sobretudo por preços de alimentos e transportes. Nesse sentido, a queda do desemprego para 10,5% no trimestre encerrado em abril – menor patamar desde 2015, segundo o IBGE – é importante, mas não diz tudo, uma vez que 60% do PIB correspondem ao consumo.
Na esteira das dificuldades financeiras das famílias, a inadimplência atingiu 6,1 milhões de empresas, em abril, sendo 5,5 milhões de micro e pequeno porte, revela o Indicador de Inadimplência das Empresas divulgado pela Serasa Experian. O setor de serviços responde pela maior parte dos calotes, 52,5% do total; seguido pelo comércio, 38,3%; indústria, 7,9%; e setor primário, 0,9%. O resultado impressiona especialmente quando se leva em conta o fato de serviços/consumo terem alavancado o PIB do primeiro trimestre.
O cenário de baixo crescimento inspira cautela e serve de alerta. A inadimplência tende a acelerar entre as micro e pequenas empresas que possuem fluxo de caixa mais enxuto e demoram mais tempo para se recuperar economicamente de desequilíbrios. É temerário, portanto, contar com suporte do crédito bancário para emergências, uma vez que as operações são caras e seletivas. Logo, programas de governo, como o PRONAMPE, serão mais disputados. E não há qualquer indicação que no futuro próximo será diferente.
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Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) prevê expansão do crédito em 2022 de 9,7%. O dado embute forte desaceleração, uma vez que o crédito total cresceu 16,5% em 2021. Quanto à inadimplência, o levantamento observou melhora na projeção, de 4% para 3,8% de março para abril, no segmento livre. Dados mais recentes do Banco Central, porém, apontaram inadimplência média efetiva, em fevereiro, de 2,5%. Há, portanto, piora sensível nas expectativas.
Apesar do endividamento, há recuperação da confiança, sobretudo, dos empresários. Em maio, o Índice de Confiança Empresarial avançou 2,9 pontos, para 97,4 pontos, maior nível desde outubro do ano passado. Construção foi o único setor a registrar queda, de acordo com as sondagens do FGV IBRE.
A confiança ganha relativa tração ancorada, porém, na eficácia de decisões de caráter emergencial, à exceção do Auxílio Brasil, cuja parcela de R$ 400 tornou-se permanente. Dada a necessidade de o governo perseguir maior equilíbrio fiscal, a liberação do FGTS e a antecipação de pagamentos do INSS têm viés transitório e constituem um combo insuficiente para assegurar perspectivas mais animadoras para as empresas e crescimento econômico sustentável. Mais grave, poderão exigir maior empenho e ações do próximo presidente da República já no início do mandato.