Do digital ao tangível: o boom das moedas físicas de Bitcoin nos leilões internacionais

Enquanto o Bitcoin segue consolidado como ativo digital, suas representações físicas conquistam espaço e alcançam cifras milionárias em leilões

Mariana Campos Bruno Pellizzari

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Quem acompanha o universo dos investimentos alternativos sabe que a numismática vive um momento de efervescência. Mas um fenômeno curioso vem chamando ainda mais atenção: em pleno auge das finanças digitais, cresce a valorização das moedas físicas de Bitcoin, também conhecidas como physical bitcoins.

Criadas como artefatos tangíveis de uma revolução essencialmente virtual, essas peças hoje disputam espaço com moedas históricas de ouro e prata em leilões internacionais, alcançando cifras milionárias.

O paradoxo do físico no mundo digital

As moedas físicas de Bitcoin começaram a ser produzidas no início da década de 2010 por entusiastas que buscavam dar forma material ao ativo digital. A série mais famosa é a das Casascius coins, idealizadas pelo programador americano Mike Caldwell.

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Muitas delas vinham com um holograma lacrado que escondia a chave privada correspondente a uma determinada quantidade de BTC. Assim, o proprietário poderia tanto guardar a peça como objeto colecionável quanto resgatar o valor digital associado.

Com o tempo, restrições regulatórias e a própria evolução do mercado levaram ao fim dessa produção em escala. Ainda assim, as Casascius e outras edições pioneiras se tornaram símbolos do início da era cripto — e justamente por isso ganharam apelo colecionável.

Hoje, mesmo moedas que já tiveram seus bitcoins “resgatados” continuam a alcançar preços expressivos por sua raridade e relevância histórica.

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Recordes em leilões internacionais

O interesse crescente se reflete nos números. Em novembro de 2021, uma Casascius de 25 BTC, conhecida como “Baby Cas”, foi vendida por US$ 1,69 milhão em um leilão da GreatCollections, estabelecendo um dos maiores recordes já registrados para moedas físicas de Bitcoin.

(Reprodução Leilão)

Outros exemplos não ficam atrás:

(Reprodução Leilão)
(Reprodução Leilão)
(Reprodução Leilão)
(Reprodução Leilão)

Esses resultados mostram que não se trata de um nicho restrito, mas de um segmento sólido que atrai lances globais. Casas como GreatCollections, Heritage Auctions e Stack’s Bowers já reservam espaço permanente para esses itens em seus catálogos.

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O que impulsiona esses valores?

Vários fatores ajudam a explicar a valorização:

O que isso significa para a numismática

A ascensão das moedas físicas de Bitcoin mostra como a numismática é capaz de se reinventar e dialogar com as transformações da economia. Ao lado de moedas coloniais, imperiais e contemporâneas, agora também vemos representações de um ativo que nasceu digital, mas que encontrou valor no tangível.

Esse movimento traz implicações interessantes. Primeiro, amplia o perfil dos colecionadores: entram em cena entusiastas de criptomoedas, investidores de tecnologia e até gestores que buscam diversificação patrimonial.

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Segundo, fortalece a percepção da numismática como mercado dinâmico, que não se restringe ao passado, mas absorve novas narrativas históricas em tempo real.

Investimento ou colecionismo?

Para muitos, a aquisição dessas moedas é uma mistura de paixão e estratégia. O componente emocional — possuir um pedaço físico da história do Bitcoin — se une à racionalidade de diversificar o portfólio em ativos alternativos.

É o mesmo movimento observado em obras de arte, vinhos raros e relógios de luxo: bens tangíveis que atravessam crises e mantêm valor, muitas vezes com valorização consistente.

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Não à toa, cresce o número de investidores “híbridos”, que se tornam também colecionadores. Nesse cenário, as moedas físicas de Bitcoin aparecem como um elo entre mundos distintos, conectando o tradicional mercado numismático ao universo das criptomoedas.

O sucesso das moedas físicas de Bitcoin em leilões internacionais sinaliza algo maior: a busca humana pela materialidade, mesmo em tempos de economia digital.

Assim como colecionadores de séculos passados preservaram moedas de ouro e prata como testemunhos de seu tempo, hoje vemos investidores e entusiastas guardando em cofres peças que representam a gênese de uma revolução financeira.

Essas moedas, para além de serem apenas metais gravados, são símbolos de uma era em transformação, e como mostram os lances milionários, já entraram para a história da numismática contemporânea.

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Mariana Campos

Diretora de Comunicação da Sociedade Numismática Brasileira (SNB)

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Bruno Pellizzari

Presidente da Sociedade Numismática Brasileira (SNB)