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Conscientização já começou: governos comprometidos são fundamentais para a nova economia do plástico

Se nada mudar, até 2050, nossos oceanos terão mais plásticos que peixes – em peso. Por isso, acreditamos e lutamos por uma onda de transformação
Por  Heloisa Schurmann -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Há poucos dias, participei do Workshop de Engajamento para Governos, realizado pela Fundação Ellen MacArthur e pelo nosso parceiro mundial Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Diante da degradação dos nossos oceanos, que já deixou de ser uma ameaça e tornou-se um dano real – e crescente – para o nosso planeta, é urgente a adoção de uma série de medidas capazes de reverter esse cenário.

A participação dos governos em movimentos em prol da recuperação e preservação dos oceanos é fundamental. Essa é uma luta para diversos agentes: sociedade civil, iniciativa privada, ONGs e gestão pública.

E a grande mudança pode – e deve – vir a partir de ações voluntárias, entre elas, a adesão ao Compromisso Global pela Nova Economia do Plástico.

Convocado pelo governo francês, o workshop da Fundação com o PNUMA contou com a participação de representantes de países como Alemanha, Canadá, Croácia, Equador, Espanha, a própria França, Gana, Grécia, Holanda, Malta, Marrocos, Paquistão e Japão. O Havaí também estava presente, então, os Estados Unidos também estava inserido.

Confesso que senti um certo desconforto, uma inquietação, em relação à aparente baixa participação de autoridades ou representantes de governos em prol de algo tão importante ou urgente.

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Até que lembrei que essa era uma única iniciativa entre tantas outras nacionais e internacionais, que estão sendo realizadas há um tempo. Muitas delas, inclusive, contando com a nossa participação, representando a Voz dos Oceanos, que também tem mobilizado gestores públicos.

Passado esse rápido “mixed feelings” (orgulho, frustração, empolgação e preocupação), me concentrei numa questão fundamental: não estamos dominados pela inércia!

O Compromisso Global pela Nova Economia do Plástico, por exemplo, traz uma visão bem objetiva para deter o aumento dessa poluição, apoiada por mais de mil instituições associadas ao acordo em si, mas também em pactos nacionais ou regionais e iniciativas no âmbito do turismo – todos em combate ao plástico, principalmente, o de uso único e que não é essencial.

Esse movimento oferece aos governos a oportunidade de se comprometerem a implementar ações concretas junto a cada integrante da cadeia de valor do plástico, incluindo indústrias e empresas.

Dentro deste cenário, 15 empresas líderes já se comprometeram em agir para, até 2025, trabalhar com materiais 100% reutilizáveis, recicláveis ou embalagens plásticas compostáveis.

A partir da compreensão do que está acontecendo, devemos mergulhar no desafio e navegar em busca de soluções! Elas existem e a mudança é possível!

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Durante o workshop, por exemplo, foram apresentadas cases de medidas adotadas pelo nosso vizinho Chile, como o estímulo à eliminação de embalagens ou produtos problemáticos.

Em 2017, foram vendidas 2,5 bilhões de sacolas plásticas no varejo de todo o território chileno – o equivalente a 18.375 toneladas. Com a Lei 21.100, aprovada em 2018 e que proíbe nacionalmente a entrega desse item, o Chile pretende eliminar 100% das sacolas plásticas. Mas não precisamos ir tão longe assim…

Com a Voz dos Oceanos, nos orgulhamos de contar com parceiras que vêm implantando soluções que minimizem o impacto dos resíduos nos oceanos e no meio ambiente. E, acreditando na importância do comprometimento dos governos até mesmo para provocar mudanças na produção e em toda cadeia de consumo, também temos dialogado com gestores públicos – Secretários Municipais, Vice-Prefeitos e/ou Prefeitos.

Já abrimos esse debate em Balneário Camboriú (SC), Santos (SP), Ilhabela (SP), Paraty (RJ), Rio de Janeiro, Niterói (RJ), Vitória, Igarassu (PE), Recife, Fernando de Noronha e Natal, sensibilizando e mobilizando os gestores para a adoção de políticas mais eficazes de combate ao plástico e gestão adequada de resíduos.

Durante passagem da expedição pelo litoral norte de São Paulo, as Prefeituras de Ilhabela, Caraguatatuba, São Sebastião e Ubatuba assinaram uma carta de compromisso em defesa do “Oceano sem Plástico”.

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Em Búzios, a Voz dos Oceanos foi o incentivo para que o poder público colocasse um projeto de reciclagem para funcionar já a partir deste início de 2022.

Em Pernambuco, nossa iniciativa foi o estímulo para a elaboração e a assinatura de um pacto entre os municípios do litoral norte (Abreu e Lima, Goiana, Igarassu, Itamaracá, Itapissuma, Olinda, Paulista e Recife), visando o comprometimento com as ações voltadas à preservação e conservação ambiental.

A mobilização de governos em torno da Nova Economia do Plástico pode impulsionar a transformação, como ocorreu quando encaramos a aterrorizante ameaça da camada de ozônio, cujo buraco iria “matar todo mundo queimado”!

Em 1987, nações se comprometeram com o Protocolo de Montreal, que regulava a produção e o consumo de produtos destruidores da camada de ozônio, tendo como alvo principal acabar com o uso dos 15 tipos de clorofluorocarboneto (o CFC) – os grandes “vilões”.

Os governos comprometidos impulsionaram a maior mobilização mundial sustentável. Com a “pressão”, a indústria encontrou outras soluções e, em tempo recorde, reverteu-se a situação.

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Reconheço que o contexto era outro. A possível mudança talvez já estivesse em andamento e a urgência apenas acelerou todo o processo. Também devemos levar em consideração grupos e seus interesses envolvidos, o que pode facilitar ou retardar a tomada de decisões efetivas.

Ainda assim, agora, estamos com ameaças tão fortes, muito sérias e o desafio está, literalmente, cada vez maior.

É por isso que, no fim deste mês de fevereiro, a Assembleia de Meio Ambiente da ONU, que teve o poder de comandar o Protocolo de Montreal, avançará com a discussão no mesmo âmbito para um tratado global para frear a poluição plástica.

Apenas para lembrar o que está em pauta: em 2015, cientistas revelaram, no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, que, a cada ano, cerca de 8 milhões de toneladas de plásticos invadiam os mares. Em 2021, durante o Global Treaty Dialogue, pesquisadores atualizaram os dados, informando que, até 2040, deverão ser 20 milhões de toneladas de plásticos no mar anualmente.

Ambos os dados confirmam outra triste previsão, apresentada no Fórum Econômico Mundial de 2016: se nada mudar, até 2050, nossos oceanos terão mais plásticos que peixes – em peso. Não queremos esse futuro! Por isso, acreditamos e lutamos por uma onda de transformação. Ela está a caminho! E a Nova Economia do Plástico deverá ser decisiva para que os oceanos recuperem o fôlego e nosso Planeta Água possa ser preservado.

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Heloisa Schurmann Heloisa Schurmann é autora de cinco livros, entre eles, "Expedição Oriente – 812 dias de uma volta ao mundo” e dois best-sellers, incluindo “Pequeno Segredo”, lançado na Itália e no Brasil. Velejadora e mãe da Família Schurmann, educou os filhos Pierre, David, Wilhelm e Kat em duas das (até o momento) três expedições marítimas da família, visitando 64 países e os cinco continentes. Tornou-se defensora dos oceanos e trabalha junto com a família na conscientização sobre a poluição dos plásticos nos oceanos. É parceira da campanha #MaresLimpos do Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente, que apoia mundialmente a atual expedição da Família Schurmann: Voz dos Oceanos

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