Como os ETFs estão redefinindo a dinâmica dos investimentos na B3

Os dados da B3 comprovam: a indústria de fundos de índice ultrapassou R$ 81 bi em patrimônio consolidado, com mais de 891 mil investidores

Bianca Maria

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Se a última década foi marcada pela digitalização das plataformas, intensa bancarização e crescimento exponencial do número de investidores na B3, a bolsa do Brasil — que já passam dos 6 milhões —, o ciclo atual do mercado de capitais registra um novo processo de democratização, agora em sofisticação e alcance. E os ETFs são a espinha dorsal dessa transformação.

Os dados da B3, em novembro de 2025, comprovam: a indústria de fundos de índice ultrapassou R$ 81 bilhões em patrimônio consolidado, com mais de 891 mil investidores. O destaque é a forte adesão da pessoa física, que já corresponde a 78% desse total.

ETFs, ou Exchange Traded Funds, são fundos de investimento com cotas negociadas na bolsa de valores como se fossem ações, podendo ser compradas e vendidas de forma simples nos pregões. Sua proposta central é permitir que o investidor replique o desempenho de um índice de referência — como o Ibovespa, por exemplo, com baixo custo.

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Na prática, é uma forma simples e eficiente de comprar uma cesta diversificada de ativos (como ações de centenas de empresas ou dezenas de títulos de renda fixa) de uma só vez, combinando a diversificação de um fundo com a liquidez e a facilidade de negociação de uma ação.

E essa facilidade é o ponto central da transformação da mentalidade dos investidores. Quem está iniciando nos investimentos pode se sentir intimidado pelas centenas de opções de ações. Como avaliar qual é a “melhor”?  Essa “fricção” no início da jornada pode ter causado a desistência de muita gente que lá atrás ficou na renda fixa ou na poupança, mas que com os ETFs está dando uma “segunda chance” para o mercado acionário.

Já entre investidores mais experientes, os “fundos de índice” apresentaram novas possibilidades de estratégias. Antes focados na garimpagem individual de ações (stock picking), agora podem contar com um “portfólio base”, composto de ETFs, e tomar risco de forma mais estratégica, com poucas ações, mas escolhidas a dedo. No mercado americano, por exemplo, é comum ver carteiras 100% compostas por ETFs, realidade que hoje também é viável no Brasil, que conta com mais de 400 produtos listados, possibilitando a criação de portfólios adequados para todos os perfis, do conservador ao arrojado.

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Outro ponto importante é que, com a evolução contínua dos ETFs, esse “portfólio base” também está se tornando mais eficiente. Nos últimos anos, estamos presenciando o surgimento e popularização dos ETFs de “Smart Beta”, ou gestão sistemática por fatores, ativos que são “meio termo” entre os tradicionais fundos de gestão passiva e os de gestão ativa, ainda não disponíveis no Brasil.

Em vez de apenas replicar o índice por valor de mercado, os gestores desses fundos redistribuem os ativos do portfólio do índice com base em critérios quantitativos, como “Valor” (ações baratas), “Qualidade” (balanços saudáveis) e “Tamanho” (small caps, por exemplo), permitindo que os investidores diversifiquem com carteiras de perfis de risco e retorno mais ajustadas.

Ainda no campo da eficiência, 2025 registrou um “boom” nos ETFs de renda fixa, impulsionado principalmente pelos produtos vinculados ao crédito privado. Além de surfarem o cenário de juros do país, esses ativos ganharam a preferência dos investidores devido a um diferencial tributário importante: ao contrário dos fundos tradicionais de renda fixa, os ETFs dessa classe não sofrem a incidência do “come-cotas” (a antecipação semestral de imposto de renda) e IOF (imposto sobre operações financeiras), o que favorece o acúmulo de patrimônio no longo prazo.

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Essa mudança comportamental, que passou de “Vale a pena investir em ETF?” para se tornar “Qual ETF faz sentido para mim?” é profunda e abriu os olhos dos investidores para novos horizontes. Por meio desses fundos, foi eliminada a burocracia para investir em ativos do exterior.

Essa globalização atingiu um novo patamar estratégico em 2025 com o “ETF Connect”, um programa pioneiro que conecta a B3 às bolsas de Xangai e Shenzhen. Com a iniciativa, o Brasil se tornou o primeiro país fora da Ásia a aderir ao modelo, permitindo que o investidor local compre diretamente ETFs de empresas chinesas (como o PKIN11, TECX11 e SILK11) e abrindo o mercado brasileiro para um ecossistema que movimenta bilhões de dólares anualmente na China.

Por meio de ETFs agora também é possível investir em teses de setores promissores e projetos de inovação, oportunidades que até pouco tempo atrás só estavam ao alcance de investidores institucionais ou fundos privados de equity, como blockchain (BKCH39), inteligência artificial (BAIQ39), data centers (DTCR39), lítio e baterias (BLBT39) e até mesmo urânio e energia nuclear (BURA39).

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Tudo isso, sempre importante lembrar, com a garantia de contraparte da B3 e escudo regulatório da CVM. Outro exemplo de sofisticação com proteção é o NBIT11 (Nu Asset), primeiro ETF de BIT (Contrato futuro de Bitcoin) que oferece exposição ao preço do Bitcoin via contrato futuro listado na B3, alocando o patrimônio em títulos públicos federais como garantia. É o investimento em criptoativos embalado em máxima segurança regulatória e operacional.

Ainda na fronteira da inovação, os ETFs estão redefinindo a própria estrutura dos produtos de investimento. Em 2025, o mercado viu o lançamento do GOAT11 (Itaú Asset), o primeiro ETF híbrido local, que combina renda fixa brasileira e ações internacionais em uma cota, entregando uma alocação balanceada que “amortece quedas” do mercado. Além disso, houve o lançamento do GBTC11 (Hashdex e Buena Vista), primeiro ETF de cogestão, que une Bitcoin e Ouro.

Esses são apenas alguns exemplos que mostram que essa “revolução silenciosa” dos ETFs mudou (e mudará ainda mais com o tempo) a forma como se planeja os investimentos e a própria dinâmica do mercado de capitais será cada dia mais sofisticado, global, plural e acessível a todos.

Bianca Maria

É gerente de Produtos de Cash Equities da B3