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Nas redes sociais, todo mundo parece ter certeza. Opiniões afiadas, verdades absolutas, posturas inabaláveis. O digital virou um campo de guerra onde cada um defende sua bolha, repete discursos e constrói uma identidade cheia de convicções. Mas será que essa certeza toda é real? Paramos mesmo de ter dúvidas?
É lá, no silêncio das buscas no Google, que aparecem as dúvidas que ninguém admite, os medos que não cabem em um post motivacional, as perguntas que desmentem as certezas exibidas no feed. Se nas redes as pessoas parecem especialistas em tudo, no Google elas ainda tentam entender o básico ou lidar com suas dúvidas, medos e convicções. Se quisermos entender melhor o que as pessoas pensam, precisamos olhar menos para o que elas postam – e mais para o que elas procuram. E os dados mostram isso.
Em 2024, o conteúdo sobre sucesso profissional que mais cresceu no LinkedIn e Instagram foi empreendedorismo, com alta de 38% ano contra ano. Mas o Google conta outra história: o Brasil foi o terceiro país que mais pesquisou “como ganhar dinheiro sem trabalhar”, enquanto o termo “empreendedorismo” caiu 7% em volume de buscas.
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Ao mesmo tempo, a busca por “concurso público” cresceu 15%, tornando-se o 3º termo mais pesquisado na categoria empregos, atrás apenas de “emprego” e “currículo”. A pergunta “onde estudar para concurso?” teve aumento de 740% em 12 meses, evidenciando a busca por estabilidade.
Também cresceram buscas por atalhos financeiros e renda extra, refletindo a insegurança econômica. O interesse por “freelancer” subiu de 17% para 80% nos últimos cinco anos, enquanto “renda extra” passou de 8% para 11% e “renda passiva” de 1% para 3%, mostrando um desejo crescente por fontes alternativas de renda.
A contraposição entre busca e discurso é evidente: enquanto no Instagram e YouTube proliferam imagens de sucesso – jovens “CEOs” de si mesmos e influenciadores ostentando riqueza –, o Google registra recorde pelo segundo ano seguido de termos como “como ganhar dinheiro rápido”, “como sair das dívidas” e “como economizar no mercado”. Nas redes, a narrativa é aspiracional, celebrando investimentos e startups; no Google, a preocupação é prática: passar em um concurso, arranjar um emprego ou conseguir um dinheiro extra. Os dados mostram um retrato mais honesto das ambições econômicas, muitas vezes dissimulado nas timelines.
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Essa contradição se repete em outras áreas. “Amor”, “vida em casal”, “amor eterno” e #casalfeliz bateram pico de menções em 2024, mas, no Google, as pesquisas “como saber se estou sendo traído(a)?” e “como verificar o WhatsApp do parceiro” ficaram entre as mais feitas no mesmo ano. Na política, as eleições de 2022 trouxeram polarização extrema nas redes, mas, no Google, as perguntas mais feitas foram “o que é comunismo?”, “o que é democracia?”, “o que foi a ditadura militar?” “o que é intervenção militar”, “o que é STF” e “por que Lula foi preso?”. Enquanto nas redes as certezas ideológicas se multiplicavam, na busca anônima as pessoas tentavam entender os conceitos básicos do debate. O Google funciona como um checador didático e silencioso, enquanto as redes sociais fervem em tempo real.
No mundo da saúde e bem-estar, as diferenças entre o que se posta e o que se busca são gritantes. O Brasil bate recordes de menções no universo fitness, com um crescimento médio de 22% ao ano nas conversas digitais. Redes sociais estão repletas de textos sobre consistência, alimentação regrada e selfies na academia, mas, no Google, a 10ª pesquisa mais feita em 2023 foi “dieta para emagrecer rápido”. O interesse por “como parecer magro” cresceu 720%, e quase todos os estados registraram picos de buscas sobre perda de peso rápida, dietas milagrosas e jejum intermitente – com um detalhe: a maioria dessas pesquisas acontece após as 22h e de madrugada. Enquanto o discurso público foca em equilíbrio e autocuidado, os dados mostram que, na privacidade da busca, muita gente busca soluções extremas.
Nunca se pesquisou tanto por “autocuidado” como nos últimos anos, mas o que está por trás desse movimento? Enquanto no Instagram e no TikTok a hashtag #selfcare e influenciadores promovem rotinas impecáveis de skincare e relaxamento, no Google a realidade é outra: as buscas mais frequentes estão ligadas a burnout, ansiedade e insônia. O interesse por “como dormir melhor” cresceu 42% em um ano, enquanto “sintomas de burnout” dispararam em mais de 70%. Se nas redes sociais o autocuidado parece um estilo de vida leve e organizado, no Google ele surge como um pedido de socorro.
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O que esses dados mostram? Que a internet está longe de ser um espelho fiel do que pensamos. E que você, assim como eu, não precisa mais se assustar ao ver certezas absolutas pipocando nas redes, como se só você tivesse dúvidas sobre a vida, o trabalho ou o futuro. A verdade é que seguimos inseguros – mas aprendemos que podemos ser vulneráveis diante de uma tela em branco, porque uma busca no Google não nos julga, não nos expõe, não nos faz parecer menos inteligentes.
As redes sociais são vitrines onde mostramos quem gostaríamos de ser e certamente, um pouco do que somos. O Google, por outro lado, é o confessionário onde revelamos a nossa maior vulnerabilidade. No final do dia, ninguém mente para o Google – nem você.
E então, o que foi que você pesquisou hoje?