As diferenças entre tenacidade e resiliência – e o papel delas no caminho para o sucesso

No fundo, talvez o maior desafio seja aprender a equilibrar essas duas forças, reconhecendo quando é hora de insistir com garra e quando é preciso se adaptar e se recuperar

Matheus Guimarães

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Eu nunca fui fã de tênis. Mas há alguns meses, tomado por uma espécie de “efeito João Fonseca”, eu comecei a acompanhar um pouco mais do esporte. 

Recentemente assisti um documentário sobre o tenista Carlos Alcaraz na Netflix, que inclusive eu recomendo. O documentário, em três episódios, conta os desafios do tenista para equilibrar o compromisso necessário para atingir seu desejo de se tornar um dos maiores tenistas da história com os anseios de um jovem que deseja desfrutar do tênis. 

Vi um pouco de dois jogos de Roland Garros. Primeiro foi o jogo do João Fonseca, que, infelizmente, não avançou. Mas segue sendo um exemplo para o nosso país. Falaria mais disso, mas o garoto já tem muita pressão.

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O segundo foi do Alcaraz, que, dias depois, se sagraria campeão do Grand Slam de Paris. O jogo dele, que foi na quadra principal, me chamou a atenção por outro aspecto. Em um pedaço das arquibancadas há a seguinte frase: “Victory belongs to the most tenacious”. Algo como “a vitória pertence aos mais tenazes”, em uma tradução livre. 

Hoje, alguns dias depois, me peguei refletindo sobre esta frase. E, como um millennial, usei IA para me ajudar nesta digressão.  

Em primeiro lugar perguntei: “o que significa ser tenaz?” 

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A IA respondeu: “Ser tenaz significa ter uma determinação firme e persistente para alcançar um objetivo, mesmo diante de dificuldades, obstáculos ou desafios. Uma pessoa tenaz não desiste facilmente, mantém o foco e a força de vontade para continuar tentando até conseguir o que deseja. É uma qualidade associada à perseverança, coragem e resistência.” 

Na hora tracei um paralelo com resiliência e prossegui com o seguinte questionamento: “e como você compararia tenacidade com resiliência?” 

Ela retrucou: “A tenacidade e a resiliência são qualidades relacionadas, mas têm nuances diferentes: 

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Em resumo, a tenacidade está mais ligada à persistência contínua na busca de algo, enquanto a resiliência está mais ligada à recuperação e adaptação após um revés.” 

Continuei minha digressão fazendo mais um questionamento à IA: “percebo que muito se fala em resiliência, mas quase nada sobre tenacidade. Por que o mundo fala muito de resiliência, mas pouco sobre tenacidade?” 

Ela respondeu: “Essa é uma observação muito interessante! A popularidade maior do termo “resiliência” em comparação com “tenacidade” pode estar relacionada a alguns fatores culturais e sociais: 

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  1. Contexto emocional e psicológico: Resiliência está muito ligada à capacidade de lidar com traumas, estresse e adversidades emocionais, algo que tem ganhado muita atenção na saúde mental e no bem-estar. Em tempos de crise, como pandemias ou mudanças rápidas, falar em resiliência ajuda a promover a recuperação emocional e a adaptação. 
  1. Abordagem mais ampla: Resiliência é um conceito que pode ser aplicado em várias áreas — pessoal, profissional, comunitária e até organizacional — e envolve não só persistência, mas também flexibilidade e adaptação, o que é valorizado em ambientes complexos e incertos. 
  1. Menos conotação de esforço contínuo: A tenacidade implica uma luta constante e uma força de vontade inabalável, o que pode parecer mais desgastante ou até exaustivo para muitas pessoas. Já a resiliência sugere a capacidade de se recuperar e seguir em frente, o que pode soar mais acolhedor e sustentável. 
  1. Foco na saúde mental: Com o aumento da conscientização sobre saúde mental, o discurso sobre resiliência ganhou força como uma forma de ajudar as pessoas a enfrentarem desafios sem se esgotarem emocionalmente.” 

Achei incríveis os insights trazidos pela IA. Entretanto, fiquei me perguntando se não deveríamos valorizar (pelo menos tanto quanto a resiliência) a tenacidade. 

E os fatos curiosos (pelo menos para mim) não param por aí. Fui pesquisar se tenacidade seria um atributo. A resposta, dessa vez da IA da ferramenta de busca, foi: “Sim, a tenacidade é considerada um atributo, especificamente um atributo ou propriedade mecânica de um material, que descreve a sua capacidade de absorver energia antes de se fraturar.”. No mundo dos materiais, aparentemente, a tenacidade parece bem mais próxima ao conceito de resiliência, né? 

Bom, mas dito isso (tudo) e com base nessas pesquisas, minha compreensão me permite concordar que a resiliência sugere uma atitude, em alguma medida, mais passiva. De lidar e se recuperar de aspectos negativos e seguir em busca de determinado objetivo. Enquanto a tenacidade sugere uma postura mais ativa. De persistência e determinação no alcance de um determinado objetivo. 

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Trazendo para o mundo corporativo, do empreendedorismo e até mesmo dos esportes (em referência ao jogo de tênis que foi o gatilho para este texto), será que alguma dessas características seria preferível à outra? Na minha visão, embora devêssemos valorizar mais a tenacidade, uma parece ser complementar à outra. A tenacidade me parece indispensável “nos começos”. Dito de outra forma, é preciso ser tenaz para sair da inércia e iniciar a busca por um objetivo. Não que a resiliência não seja, muitas mudanças de carreira ou criações de empresas foram respostas às adversidades. Quando penso na resiliência, associo à longevidade. Ou seja, para alcançar o sucesso é preciso superar (ou contornar) as adversidades e seguir em frente. 

Essa complementaridade entre tenacidade e resiliência revela que o caminho para o sucesso não é linear nem simples. É uma jornada que exige, simultaneamente, a coragem de começar e a força para continuar, mesmo quando os ventos são contrários. Cultivar a tenacidade nos impulsiona a dar o primeiro passo, a enfrentar o desconhecido com determinação. Já a resiliência nos sustenta nas quedas, nos momentos em que o cansaço e as dificuldades ameaçam nos paralisar. 

No fundo, talvez o maior desafio seja aprender a equilibrar essas duas forças, reconhecendo quando é hora de insistir com garra e quando é preciso se adaptar e se recuperar. Afinal, o sucesso duradouro não é fruto apenas de um esforço inicial intenso, nem somente da capacidade de resistir às tempestades, mas da combinação harmoniosa entre ambas. 

Portanto, mais do que escolher entre ser tenaz ou resiliente, o convite é para que cultivemos ambas as qualidades em nós mesmos, entendendo que elas são aliadas poderosas na construção de trajetórias significativas, seja na carreira, nos esportes ou na vida pessoal. Que possamos, assim como os grandes atletas e empreendedores, abraçar a tenacidade para começar e a resiliência para perseverar, sabendo que a vitória pertence, de fato, aos mais tenazes — e também aos mais resilientes. 

E você? Já pensou sobre isso? O que achou? Concorda? 

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Matheus Guimarães

Analista de setor financeiro na XP Inc., é economista pela UFF e mestre em administração pela PUC-Rio. Tem passagens por Estácio Participações, Oi, SulAmérica e BB DTVM.