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Após a Rússia atacar a Ucrânia, a China pode invadir Taiwan?

O tabuleiro geopolítico parece esquentar cada vez mais, com a Rússia e as duas superpotências China e EUA no foco
Por  Roberto Dumas Damas
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Mas que dia histórico. Depois de tantas reuniões com líderes do Ocidente em mesas de 6 a 8 metros e outras com mais chegados – ou menos importantes – em mesas de 22 a 25 centímetros, eis que Vladimir Putin de fato invadiu a Ucrânia.

Inicialmente, usou a falácia jocosa de que a população de províncias separatistas ao leste da Ucrânia, Donetsk e Lugansk, estavam sofrendo perseguição e até genocídio por parte de maioria ucraniana. Sob esse mantra absolutamente “verossímil”, Putin resolve, não invadir, mas ajudar no processo de “independência” dessas regiões separatistas, com pretexto humanitário.

Então tá.

Não contente, no dia 23 de fevereiro, lança uma enorme ofensiva em toda a Ucrânia ainda sob o pretexto de proteger os interesses de Moscou. Afinal, mesmo sem fazer parte da OTAN, Putin achou por bem trocar o certo pelo não duvidoso e invadir assim mesmo seu vizinho. Infelizmente.

A imprensa, até aí, já está tomada por narrativas e explicações sobre a OTAN, países membros do ex-Pacto de Varsóvia, fim da URSS e expansão da aliança militar do Ocidente para o leste europeu. Contudo, pouco se comentou sobre a China.

Esta última, claro, sempre pisando em ovos em suas declarações dúbias – ou cada vez mais assertiva buscando projetar sua importância geopolítica -, no início apoiou os possíveis movimentos do Kremlin, depois refutou as sanções a serem impostas pelo Ocidente à Rússia e por fim declarou que territórios soberanos deveriam ser respeitados. No mínimo, estranho.

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Afinal, a China apoia a invasão ou não apoia? Em princípio, parece que tudo que minimiza a projeção dos EUA na esfera ocidental em um novo tabuleiro geopolítico acaricia o ego do país do meio.

Mas, por outro lado, o cuidado ao não apoiar explicitamente a “invasão” das províncias separatistas tem uma razão. Taiwan.

Ora, se a China apoiar de forma cabal a invasão dos separatistas do leste da Ucrânia, soaria no mínimo estranho não apoiar o ímpeto separatista de sua província rebelde, Taiwan.

Dois pesos e duas medidas? Sim, exatamente isso.

Podemos ficar à vontade para narrar as diferentes situações entre Ucrânia e Taiwan, mas o fato é que parece que a China não tem se mostrado muito confortável com a ideia de apoiar a independência de províncias separatistas.

Logo, as mídias sociais experts em tudo, em Afeganistão, vacinas, prisão em 2ª ou 3ª instância, passaram a “lacrar” sobre uma informação vinculada na imprensa de que aviões chineses estariam invadindo o espaço aéreo de Taiwan, quase se preparando para o ataque.

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Nada mais longe da verdade. Somente em outubro de 2021, 148 aviões chineses entraram no espaço de defesa aérea de Taiwan. Óbvio que fazer essas manobras logo no dia da invasão da Ucrânia teve um caráter provocativo. Mas, até aí, não significa invadir o país ou a província rebelde. Pelo menos ainda não.

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Antes de continuarmos, vale uma pequena digressão para explicar o imbróglio Taiwan – China. Em 1895, com o final da guerra sino-japonesa, o Japão passou a controlar a província, domínio que se estendeu até 1945, com o fim da 2ª Grande Guerra.

De 1945 a 1949, Taiwan era praticamente terra de ninguém. Até que, com o fim da guerra na China entre nacionalistas e comunistas, essa última liderada por Mao Zedong, o então líder nacionalista Chiang Kai Shek fugiu para Taiwan e fundou a República da China, enquanto a China continental passou a ser denominada de República Popular da China. Mas os chineses continentais sempre consideraram Taiwan como parte da China, daí o interesse em voltar a anexá-la ao império do meio.

Voltando aos tempos atuais, a China não tem interesse em anexar Taiwan em um futuro próximo? Praticamente não pairam dúvidas na cabeça de Xi Jinping, presidente e líder do Partido Comunista Chinês, de que Taiwan, pelo menos até o final de seu mandato (Deus lá sabe quando), voltará ao domínio da China continental. Amigavelmente ou não.

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E onde os Estados Unidos entram nessa história? Desde 1972, com a visita de Richard Nixon à China, os americanos desempenham um papel dúbio em relação à Taiwan.

Consideram-na parte da China continental, mas se comprometem a defendê-la em caso de invasão, além de vender armamentos para a província.

Mas por que os EUA simplesmente não abandonam essa ideia e deixam que Taiwan, mais cedo ou mais tarde, volte aos domínios da China?

Ora, se isso acontecer, como ficariam os aliados dos EUA no círculo do Pacífico, que contam com a proteção americana, como Japão, Coreia do Sul, Filipinas e, mais para baixo, Oceania e Austrália? Quer dizer que na hora que mais se precisa dos EUA, eles vão roer a corda?

Provavelmente é isso que deve passar pela cabeça dos aliados do “Tio Sam” na Ásia. Caso essa percepção seja corroborada, então a China passará a dominar por completo todo o continente asiático, trazendo para sua zona de influência os ex-aliados do pós-guerra na região. Aliás, esse seria o cenário ideal para a China. Expulsar os EUA da Ásia.

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Como se vê, o tabuleiro geopolítico parece esquentar cada vez mais, com a Rússia e as duas superpotências China e EUA no foco. Aguardemos os próximos acontecimentos, que certamente darão calafrios no Ocidente.

Roberto Dumas Damas Roberto Dumas Damas é estrategista-chefe do Voiter e representou o Itaú BBA em Xangai de 2007 a 2011. Em 2017, atuou no banco dos BRICs em Xangai. Dumas é mestre em Economia pela Universidade de Birmingham na Inglaterra, mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China), além de professor de MBA e pós graduação do Insper e da FIA e professor convidado da China Europe International Business School (CEIBS) e Fudan University (China)

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