A cédula da baiana: o último suspiro antes do Plano Real

Estampada na nota de 50 mil cruzeiros reais (CR$), ela protagonizou a última cédula emitida no Brasil antes da chegada do real

Bruno Pellizzari Mariana Campos

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Em meio à instabilidade econômica do início dos anos 1990, uma figura se destacou nas carteiras dos brasileiros: a baiana. Estampada na nota de 50 mil cruzeiros reais (CR$), ela protagonizou a última cédula emitida no Brasil antes da chegada do real, em julho de 1994. Mais do que dinheiro, a nota se tornou símbolo de uma época marcada pela hiperinflação, planos econômicos e pela busca por estabilidade monetária.

Emitida em 30 de março de 1994, a cédula circulou por pouco mais de 5 meses, sendo retirada de circulação oficialmente em 15 de setembro de 1994, por conta da implementação do Plano Real. Com isso, ela se tornou uma das notas com menor tempo de circulação na história monetária brasileira. Essa curta vigência também contribuiu para que ela se tornasse uma peça de grande interesse para colecionadores e numismatas.

A cédula possuía o rosto de uma baiana estampado no seu anverso e a imagem estilizada de uma baiana do acarajé no reverso — representação de uma vendedora de rua com trajes tradicionais, homenageando a presença e a força da cultura afro-brasileira na sociedade.

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Em tempos de grande desvalorização da moeda, o valor de CR$ 50 mil não causava espanto. Na verdade, era uma quantia necessária para fazer compras básicas, como uma ida ao supermercado ou um tanque de gasolina.

Quanto valia, afinal?

Quando o Plano Real entrou em vigor, em 1º de julho de 1994, o Brasil adotou a nova moeda e abandonou os cruzeiros reais. Na época, a taxa de conversão estabelecida foi de 1 real = 2.750 cruzeiros reais. Assim, a cédula da baiana valia oficialmente R$ 18,18. Na prática, ela já circulava com pouco poder de compra, reflexo de uma inflação descontrolada que corroía o valor da moeda dia após dia.

Se corrigirmos os R$ 18,18 de 1994 pela inflação oficial (IPCA) acumulada até 2025, teríamos um valor em torno de R$ 140,90. Mas seu valor hoje vai além do poder de compra. No mercado de colecionadores, uma cédula bem conservada pode valer entre R$ 350 e R$ 1.200, dependendo do estado de conservação e da série impressa.

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Um símbolo de transição

A cédula da baiana encerrou um ciclo de moedas instáveis que marcou a economia brasileira nas décadas anteriores. Após o cruzeiro, o cruzado, o cruzado novo e o cruzeiro real, o Plano Real finalmente trouxe estabilidade e controle da inflação — e permanece até hoje, mais de 30 anos depois, como a moeda oficial do país.

Para muitos, a cédula da baiana é uma lembrança nostálgica de tempos difíceis, mas também de transformação. Para outros, é uma relíquia que conta uma parte essencial da história econômica e cultural do Brasil.

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Bruno Pellizzari

Presidente da Sociedade Numismática Brasileira (SNB)

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Mariana Campos

Diretora de Comunicação da Sociedade Numismática Brasileira (SNB)