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E finalmente começaram as Olimpíadas de Tóquio 2020.
Nesta edição serão 33 esportes que, em suas diferentes categoriais, significam 339 eventos que envolvem disputas de medalhas. É bastante coisa para caber na agenda que começou no dia 21 de julho e vai até 8 de agosto.
Não bastasse os esportes já tradicionais, em Tóquio veremos a estreia de quatro novas modalidades e o retorno de uma delas ao programa olímpico. Os novatos são o skate, surfe, karatê e escalada, e quem retorna é a dupla softball/baseball.
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Os países-sede têm, por autorização do Comitê Olímpico Internacional (COI), o direito de propor novas modalidades a cada edição. Na competição que acaba de iniciar, o Japão optou por trazer para o quadro de medalhas alguns esportes que têm forte raiz local, como o softball e o karatê, além de modalidades que têm forte apelo com os fãs mais jovens, como são claramente os casos de skate, surfe e escalada.
Dentre os novos esportes, temos dois que puxam a fila nos interesses comerciais e de futuro do esporte, que são o skate e o surfe, com público predominantemente jovem, conceito de “lifestyle” que vai além da prática esportiva e chega ao consumo de moda, alimentação, espaços públicos.
Trazer esses esportes para dentro de um evento gigante como as Olimpíadas é uma forma de interação e de comunhão entre culturas próximas e distantes ao mesmo tempo. Não é apenas para se aproximar de mercados e consumidores mais jovens, mas também relacionar parceiros comerciais das Olimpíadas aos esportes radicais e tentar aproximar quem opera essas modalidades aos esportes mais “tradicionais”.
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Para se ter uma ideia, segundo estudo da Global Industry Analytics, de junho de 2021, a indústria do surfe movimentou cerca de US$ 2,7 bilhões em 2020, considerando as esferas da moda e dos equipamentos, sendo que apenas o mercado dos EUA movimenta US$ 1,2 bilhão. As estimativas apontam para um crescimento de 2,6% ao ano pelo menos até 2026.
Quando falamos na gestão esportiva, o surfe é “gerido” pela World Surf League, que organiza competições anuais ao redor do mundo, e desde 2018 já paga premiações equivalentes entre homens e mulheres.
Aliás, este é outro aspecto importante envolvendo as disputas dos X-Sports: a igualdade. Tanto no surfe quanto no skate, as competições são disputadas por homens e mulheres, sem estereótipos ou preconceitos, o que é um exemplo para uma sociedade que busca igualdade e inclusão.
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Voltando aos números: dos US$ 2,7 bilhões movimentados em 2020, estima-se que 65% estejam relacionados a equipamentos, especialmente as pranchas, e 35% à chamada surfwear, as roupas e os acessórios como óculos e relógios. Esse é o segmento do qual se espera crescimento mais acelerado nos próximos anos.
Quando falamos de skate, a estimativa de mercado apresentada pela Grand View Research aponta para um mercado global da ordem de US$ 1,95 bilhão em 2020, também considerando a soma entre equipamentos e moda. Os maiores consumidores globais são os adolescentes entre 12 e 17 anos, que representam 44% do total, sendo que crianças abaixo de 12 anos representam cerca de 40%, o que deixa para os adultos cerca de 16% de mercado.
Não existem estudos profundos e conclusivos a respeito dos mercados de skate e surfe. Podemos dizer que esses valores são uma espécie de “piso” em relação ao tamanho deles, que potencialmente deve ser maior, seja pelo que movimenta de publicidade, pelos gastos com deslocamento e competições ou mesmo pelas marcas não avaliadas, que usam o conceito se “Surf & Skate Wear” mas não se colocam diretamente no mercado. Quem nunca teve uma camiseta com prancha de surfe mesmo sem ser surfista ou cuja marca não fosse das mais badaladas?
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Mercados no Brasil
Assim como no mundo, o mercado de surfe e skate em versão brasileira também tem poucas dados públicos. Em relação ao skate, o que foi possível encontrar foi uma informação da CBSK (Confederação Brasileira de Skate) sobre um relatório da SGI Europe indicando que, em 2019, o mercado brasileiro movimentou cerca de R$ 1 bilhão, entre equipamentos e moda (skatewear). E só.
Um dos poucos relatórios disponíveis sobre o mercado de surfe no Brasil é da Ibope Repucom, de 2019, feito em nome da WSL.
Nos resultados, o surfe aparecia como sendo um esporte de interesse para 57% das pessoas, enquanto o skate era de interesse para 54%. Como base de comparação, o futebol despertava interesse em 81% das pessoas, seguido do vôlei (80%) e natação (75%).
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Segundo a pesquisa, 59% do público que tem interesse em surfe tem menos de 39 anos, e 64% tem renda entre R$ 1,2 mil e R$ 5,2 mil, com maior propensão a consumo de produtos relacionados ao esporte que a média da população.
Sobre movimentação financeira, o Ibrasurf (Instituto Brasileiro de Surf) divulgou em 2019 que o mercado brasileiro seria da ordem de R$ 7 bilhões, incluindo toda a indústria de moda não envolvida diretamente nas competições. Apesar da distância em relação ao número global, possivelmente por serem bases diferentes, falamos de mercados de bom porte e com públicos consumidores jovens e fiéis.
Competições olímpicas
As competições de skate serão disputadas em dois formatos: street e park, nas versões feminina e masculina. No street, a disputa acontece numa pista com obstáculos que rementem ao ambiente urbano, como corrimões e degraus, enquanto na park é utilizado aquele “bowl” enterrado onde são feitas as manobras.
Como curiosidade, no skate há a maior diversidade de participantes por idade: desde o britânico Sky Brown, com 13 anos, ao dinamarquês Rune Glifberg, de 46 anos.
No surfe, teremos uma competição masculina e uma feminina, com 20 participantes em cada uma delas.
Importante: tanto o surfe quanto o skate estarão nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
O futuro
Era natural que o COI buscasse modernizar a relação entre competição e público a partir da inclusão de modalidades que atraem a atenção de pessoas mais jovens, de mercados diferentes daqueles em que o esporte tradicional habita.
É uma necessidade incorporar novos públicos, patrocinadores, interesses e dinheiro, além de diversificar o mundo do esporte.
Não me espantaria de ver em algum momento os eSports presentes nos Jogos Olímpicos. Assim como, eventualmente, o afastamento de esportes de pouca atratividade comercial ou competitiva.
De qualquer forma, trata-se de uma via de mão-dupla, em que tanto o COI quanto os esportes se beneficiam, especialmente acessando novos públicos e interesses, possibilitando intercâmbios interessantes.
Afinal, entre uma e outra sessão do torneio de surfe, dá para assistir algumas provas de levantamento de pesa, tênis de mesa, basquete. O que importa, no fundo, é o esporte.