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Para além do ‘não’ do Neymar: o que mostram os números do futebol europeu em 2019

Se há mudanças estruturais em várias indústrias, via tecnologia e aplicações de novas práticas, no futebol não é diferente: os bilhões europeus comprovam
Por  Cesar Grafietti
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Apita o árbitro!

Hoje tenho o prazer de iniciar minha presença neste espaço aqui no Infomoney. A ideia é tratar de esportes e finanças, trazendo assuntos que envolvam os dois temas, com análises e informações que possam gerar debates e interesses, mostrando que o esporte fora dos campos e das quadras é um mundo repleto de histórias e acontecimentos interessantes, e que movimenta muito dinheiro.

Apesar de estar muito próximo ao Futebol, com os relatórios que faço para o Itaú BBA, EY e a consultoria que presto à CBF, aqui trataremos de todos os esportes, das ligas americanas ao tênis, dos esportes de neve aos e-sports. Tudo que envolver dinheiro, gestão e esportes será tratado neste espaço.

Mas vamos começar a partida falando sobre futebol e as mudanças que atingirão a indústria no Brasil nos próximos anos. Da transformação dos clubes em empresas, passando pelo controle financeiro via Fair Play Financeiro, e chegando ao tema de hoje, que é a mudança no interesse dos clubes europeus pelos nossos atletas, tudo transformará a maneira como os clubes brasileiros terão que lidar com o futuro.

Se há mudanças estruturais em várias indústrias, via tecnologia e aplicações de novas práticas, no futebol não é diferente, e estar atento a isso será fundamental para se manter relevante ao longo do tempo. Vamos então tratar de nosso primeiro tema, que é a mudança na negociação de atletas.

Ontem, 2 de Setembro, terminou a temporada de negociações de atletas. A chamada “janela de transferências” é o momento onde os clubes podem negociar atletas e neste momento são 3 meses que se encerram no 1º dia útil de Setembro, exceto na Inglaterra que fechou no início de Agosto.

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Os números impressionam. De acordo com os dados do site Transfermarkt, especializado em negociações de atletas, temos os seguintes números até 1º de Setembro:

Considerando que analisamos as 20 maiores ligas, significa que as demais ligas do mundo receberam, de forma líquida, € 865 milhões na temporada passada e € 471 milhões na atual janela de transferência.

Alguns aspectos merecem ser explorados. Primeiro vamos analisar o movimento das 5 maiores ligas do mundo, comparando as duas últimas janelas:

Nas duas últimas temporadas a liga que mais movimentou dinheiro com aquisição de atletas foi a Premier League inglesa. Ainda assim, em 19/20 o valor foi 6% menor que no ano passado. Em contrapartida, a LaLiga espanhola aumentou em 27% os gastos com contratações. Mas note que as duas também cresceram o volume de receitas com vendas de atletas: a Premier League saltou 43% enquanto a LaLiga aumentou em 15% suas receitas.

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Importante lembrar que os dados incluem aquisições de outras ligas mas também as negociações dentro da própria liga. Por exemplo, casos como a contratação de Griezmann pelo Barcelona junto ao Atlético de Madrid impactam as duas pontas da LaLiga.

Agora, é importante descermos um pouco mais a análise e entrarmos dentro dos clubes, pois o movimento de aquisições e venda de atletas tem relação direta com dois fatores básicos: i) necessidade de estar apto esportivamente a ser campeão e; ii) capacidade financeira para fazer investimentos. Para explorar um pouco mais isso vamos ver a lista dos 25 clubes que mais contrataram nesta janela de transferências:

Na ponta estão os clubes espanhóis (Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid), responsáveis por € 805 milhões em aquisições, o que representa 13% do total de compras da temporada. Não é à toa, uma vez que esportivamente os 3 foram mal na temporada passada em termos continentais. Se o Barcelona chegou à semifinal da Champions League, sendo eliminado pelo Liverpool de forma devastadora, Real Madrid e Atlético de Madrid ficaram pelas Oitavas de final da maior competição de clubes do mundo, e deixaram gosta amargo na boca de seus torcedores. Logo, investir e reformular elenco era uma necessidade.

Outro clube de destaque foi a Juventus de Turim. O clube de Cristiano Ronaldo fez alterações estruturais, trocando treinador e reforçando a equipe para dar o salto esportivo que lhe falta.

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Há outros aspectos interessantes nessa lista: o primeiro é notar que dos 4 clubes franceses que aparecem na lista, 3 tem mais volume de venda que de compras de atletas, PSG incluso. O futebol francês tem se destacado pela formação de atletas, com métodos eficientes e utilização de muitos jovens provenientes da África e mesmo da América Latina.

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Por fim, separei os 25 clubes mais importantes de cada uma das 5 grandes ligas, incluindo o Ajax da Holanda e os portugueses Porto e Benfica. A partir dessa lista podemos observar que do total de movimentações feitas por esses clubes, 52% foi realizada entre eles. Ou seja, metade do dinheiro envolvido em negociações pelos clubes mais tradicionais da Europa representou movimentação interna. E cerca de 45% de compras e vendas foram realizados com clubes de fora dessa lista seleta. Basta pensar nos principais exemplos:

Atleta

Quem Comprou

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Quem Vendeu

Por quanto

João Félix

Atletico Madrid

Benfica

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€ 126 MM

Griezmann

Barcelona

Atletico Madrid

€ 120 MM

Hazard

Real Madrid

Chelsea

€ 100 MM

De Ligt

Juventus

Ajax

€ 86 MM

Lucas Hernandez

Bayern Munich

Atletico Madrid

€ 80 MM

De Jong

Barcelona

Ajax

€ 75 MM

Rodri

Manchester City

Atletico Madrid

€ 70 MM

 

As exceções foram Maguire, contratado pelo Manchester United junto ao Leicester City por € 87 milhões e Pepè, contratado pelo Arsenal junto ao Lille por € 80 milhões. Mas as 8 contratações “intra-grupo” representaram € 657 milhões, ou 10% do total movimentado na janela de transferências.  Note também que exceto pela operação Real Madrid/Chelsea, as demais sempre tiveram a venda sendo feita por algum time grande em suas fronteiras, mas menor em termos continentais. Segundo estudo da Deloitte, o Benfica tem apenas a 30ª maior receita da Europa, enquanto o Ajax é 37º e o Atletico Madrid é a 13ª maior receita.

Ou seja, os grandes em seus países permanecem grandes, e será cada vez mais importante aos clubes buscarem atletas jovens, garantir boa formação, valorizá-los e fazer dinheiro, papel quem tem sido desempenho muito bem por clubes franceses, portugueses e holandeses.

Fim do 1º tempo! Vamos para o intervalo e voltamos na próxima coluna falando sobre a idade média dos atletas negociados e os impactos no futebol brasileiro.

Cesar Grafietti Economista, especialista em Banking e Gestão & Finanças do Esporte. 27 anos de mercado financeiro analisando o dia-a-dia da economia real. Twitter: @cesargrafietti

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