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Futebol Feminino: muita calma nessa hora

O futebol feminino brasileiro tem história, mas está longe de ser protagonista. Ao mesmo tempo, está no caminho certo do desenvolvimento
Por  Cesar Grafietti
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Surgiu como decepção e uma caça às responsáveis pela eliminação supostamente precoce da Seleção Brasileira feminina de futebol nas Olimpíadas de Tóquio. Não é momento nem há motivo para isso. Mas adoramos buscar culpados para quando nossas expectativas não são atingidas.

Relembro pela enésima vez a equação da Frustração, que é a diferença entre Expectativa e Realidade. As expectativas com as garotas do futebol vão além da realidade.

Temos dois aspectos a serem abordados em relação a isso. O primeiro é que não somos parte da elite do futebol feminino mundial. Não adianta lembrar a cada competição que temos Marta, que já fomos ótimos, mas também ignorar que nosso desempenho não tem justificado a expectativa de conquistas além do que temos feito.

No quadro abaixo, listo as participações em Olimpíadas e Mundiais desde 2008.

Lá se vão 13 anos e seis competições internacionais sem resultados consistentes após a medalha de prata de Pequim-2008. Nas Olimpíadas do Rio, a modalidade conseguiu chegar à disputa da medalha de bronze, mas terminou em 4º lugar.

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Nas demais competições, temos oscilado entre a eliminação nas oitavas e nas quartas de final. Ou seja, mal temos passado das fases de grupo. E isso não é uma crítica – é constatação.

Se olharmos as classificações dessas competições, veremos a repetição da presença dos EUA, da Suécia, do Japão. E se monitorarmos as disputas, teremos crescimento consistente de Holanda, Inglaterra, o crescimento das competições na Espanha, na França e na Itália, sem falar no Canadá.

Portanto, ainda que tenhamos a presença da Marta na equipe, e por mais brilhante que seja cada ano que passa temos que depender menos dela, por questões físicas, não há uma justificativa óbvia que nos coloque em condições claras de conquista de medalhas. Hoje, o Brasil está no segundo grupo em nível mundial, e só o “pachequismo” justifica expectativa diferente.

Mas isso é apenas o copo meio vazio, e daí vem o grande segredo e a justificativa para aumento de expectativas futuras: o desenvolvimento profissional e eficiente da modalidade no país é recente e vai render frutos.

A obrigatoriedade de os clubes apresentarem equipes femininas não tem mais que quatro anos. E vem com enorme resistência de clubes que assumem essa obrigatoriedade com má vontade, apenas como uma burocracia e um gasto, no lugar de entender como um desenvolvimento do negócio. Basta ver o que clubes europeus têm feito em nome do desenvolvimento do futebol feminino, que ganha relevância ano após ano.

O Campeonato Brasileiro começa a ganhar corpo, relevância, qualidade, e isso incentivará mais garotas a procurar o esporte. Quantidade com treinamentos conduzidos por profissionais qualificados gera maior qualidade das atletas, e consequentemente significará melhores resultados da Seleção no futuro.

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Além de melhorar o campeonato nacional, também será possível ver mais atletas brasileiras nas ligas europeias, melhorando o intercâmbio e a qualificação geral.

Outro aspecto que precisa ser considerado é o desenvolvimento da comissão técnica. A treinadora Pia Sundhage chegou em 2019 e tem pouco tempo de trabalho. Para um desenvolvimento como deve ser feito, há necessidade de mais tempo, de acessar melhores atletas, e tudo isso está interligado: competições locais mais desenvolvidas e uma comissão técnica experiente na seleção.

Portanto, precisamos pegar essa tendência natural de procurar culpados para nossas frustrações e deixá-la de lado. Está na hora de enxergamos a realidade como ela é: o futebol feminino brasileiro tem história, mas está longe de ser protagonista. Ao mesmo tempo, está no caminho certo do desenvolvimento. É preciso paciência, investimento, e o tempo fará com que nossas expectativas sejam reais de fato.

Cesar Grafietti Economista, especialista em Banking e Gestão & Finanças do Esporte. 27 anos de mercado financeiro analisando o dia-a-dia da economia real. Twitter: @cesargrafietti

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