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Disrupção, inovação e onde o futebol se encaixa nisso: formas de não cairmos no lugar comum

Nesta semana, o tema é o futuro. Circularemos entre alguns conceitos muito falados atualmente: disrupção e inovação, e se eles podem estar associados aos clubes de futebol brasileiros
Por  Cesar Grafietti -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Nas três semanas anteriores, trouxe para o debate algumas ideias sobre estruturação de negócios de um clube de futebol.

Modelo de negócio, modelo de gestão, estrutura e organização. Ou seja, como o clube deveria se organizar para ser eficiente e competitivo num ambiente cada vez mais difícil.

Nesta semana, o tema é o futuro. Circularemos entre alguns conceitos muito falados atualmente: disrupção e inovação, e se eles podem estar associados aos clubes de futebol brasileiros.

É importante pontuar que o tema se refere ao Brasil, pois o atraso da nossa estrutura nos permite analisar e pensar alternativas nesse sentido.

ALGUNS CONCEITOS

A primeira coisa a fazer é tratar os conceitos que servirão de base para o debate.

Como já disse nos outros artigos, não dá para ser exaustivo num artigo cujo tema demanda uma tese ou um livro. Portanto, o objetivo é criar um contorno para que possamos entender ao menos sobre o que estamos falando.

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O primeiro conceito é o da DISRUPÇÃO.

Criado por Clayton M. Christensen, a teoria disruptiva diz que as grandes empresas tendem, com o tempo, a se dedicar aos produtos e negócios que lhes geram mais retorno e valor, o que as leva a atender prioritariamente um público mais sofisticado, ignorando desenvolvimentos e oportunidades que atendem os segmentos menos nobres, mas que geralmente são os maiores.

É neste momento que surgem novos negócios que operam de forma mais eficiente e, consequentemente, mais baratas, atendendo esses mercados relegados para, com inovação, acessar posteriormente os mercados mais nobres, para ao fim se tornar dominante e desbancar o antigo líder.

Nem toda startup é disruptiva, nem toda nova tecnologia é disruptiva, assim como nem todas as grandes companhias serão destronadas.

Conceitualmente, é disruptivo quem ocupa primeiro aquele pedaço de mercado que os líderes não dão atenção ou os que criam um novo mercado não atendido pelos líderes.

Três exemplos:

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UBER: o app não criou o mercado de transporte de pessoas e, na origem, não ocupou um mercado que era mal atendido. Pelo contrário, pois o mercado-alvo era o de hard users de transporte particular que encontraram uma opção mais simples de acesso e com melhor qualidade de serviço, muitas vezes complementando um mercado de baixa oferta. Depois é que o Uber passou a oferecer serviços de baixo valor e chegou ao público que não usava transporte privado. Logo, conceitualmente, o Uber não é disruptivo.

XEROX: a tradicional empresa de máquinas de fotocópia tinha como mercado-alvo as grandes corporações, atendendo de maneira ineficiente os pequenos negócios como bibliotecas, escolas e bancas de jornal. Foi quando empresas menores criaram máquinas de fotocópia pequenas, baratas e que serviam a estes estabelecimentos. Com o tempo desenvolveram produtos de grande porte e passaram a ocupar mercado antes exclusivo da Xerox. Isso é disrupção.

NETFLIX: quando a empresa iniciou sua operação de locação de vídeos, o conceito era operar num mercado de filmes antigos e não de lançamentos. O público da Blockbuster era o que queria o lançamento na hora, na prateleira. Com a mudança de distribuição para o streaming muitos clientes viram vantagem no sistema, que quando passou a oferecer os mesmos lançamentos simplesmente tomou o mercado premium da Blockbuster, com facilidade e mais barato. Mas isso só aconteceu porque foi um processo, um desenvolvimento em partes. Dado a força financeira inicial, se a Netflix tivesse atacado diretamente o mercado via streaming é possível que a Blockbuster tivesse reagido mais rapidamente. Disrupção é também um processo, que pode levar algum tempo.

ERRO DE AÇÃO: “Seja disruptivo ou morrerá”

Um dos erros das corporações é acreditar que se não for disruptivo será atingido por um novo negócio e será destronado. Não é assim.

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Grandes corporações precisam estar atentas aos novos negócios e a todos os segmentos de atuação, mantendo sempre o foco naqueles de maior rentabilidade mas estando prontas a ocupar todos os espaços, criando segmentos específicos de desenvolvimento de novos negócios, que eventualmente são apenas “oportunidades de crescimento” em segmentos existentes mas pouco explorados.

INOVAÇÃO

Significado básico da palavra inovação é “ato de inovar”, que vem a ser “tornar algo novo, renovar”. Importante: inovar é diferente de inventar.

Peter Drucker diz que inovar é a habilidade de transformar algo já existente em um recurso que gere riqueza, e gosto também da definição de Nick Baldwin: Inovação é exploração com sucesso de novas ideias.

E a inovação surge quando há algum novo desafio a ser superado, o que demanda desde remodelar o negócio até buscar novas alternativas e produtos.

É o equivalente a resolver um problema, que no mundo corporativo é atender novos desejos, competir em novos mercados, esgrimar contra novos competidores, sempre em busca de maior retorno, geralmente financeiro.

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Que no fim do dia é o que mantém os negócios funcionando, empregando, atendendo às necessidades gerais.

INOVAÇÃO E DISRUPÇÃO NO FUTEBOL

Por que cargas d’água chegamos até aqui mesmo? Ah, sim! Chegamos aqui porque queremos avaliar como o futebol se comporta em ambientes disruptivos e inovadores, ou em outras palavras, se ele é capaz de ser inovador e disruptivo.

Antes de seguir, é importante frisar que nem tudo precisa ser disruptivo, mas todo mundo deve pensar em ser inovador.

Por exemplo, o segmento de educação superior. Ao mesmo tempo que tivemos uma enxurrada de novas faculdades e cursos superiores no Brasil nos últimos anos, nenhum dos novos entrantes foi capaz de desbancar as universidades reconhecidas como de excelência. Seja no Brasil, seja fora.

Mas isso não fez com que esses nomes consagrados não precisassem pensar em inovações como cursos online, cursos mais curtos, pós-graduações a masters que atendessem às demandas cada vez maiores por formação rápida e eficiente.

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Não reduzirá a importância nem a relevância de cursos mais profundos, mas atenderá à demanda de mais pessoas. Reação do dominante aos ataques dos entrantes.

Voltando ao futebol, a primeira coisa a fazer é entender a que serve o futebol. Por que ele existe e porque faz dinheiro?

Segundo João Gobira, num artigo sobre inovação para a StartSe University, as empresas existem para concentrar recursos humanos que sirvam à resolução de problemas, e com isso seja capaz de se desenvolver e se manter sustentável no longo prazo.

O futebol é uma indústria cujo objetivo é resolver o problema da diversão. Futebol é entretenimento, mas não só isso.

Você pode gostar de um cantor, uma banda, uma atriz, um diretor de cinema ou teatro, gastar comprando álbuns, vendo filmes. Mas a sua relação com eles tende a ser menos apaixonada que com um time de futebol. Que te propõem emoções semanais, diárias, disputa, sensações de conquista e desespero, tristeza e salvação, muitas vezes num espaço de tempo de semanas, dias até.

O futebol move sentimentos que vão além do simples entretenimento.

Se o filme mais recente de Star Wars te deixou irritado, você sai do cinema, comenta com algumas pessoas e vida que segue. Se seu time perde o 4º jogo seguido e está na zona de rebaixamento, ah, a vida começa a se transformar num pesadelo. Se perder uma final para um rival, daí desanda de vez.

Futebol é entretenimento, paixão e competição. Por mais que muitos torcedores saibam no seu íntimo que seu time não será campeão, ainda assim ele vai aos jogos, assiste às partidas na TV, compra a camisa mais nova, porque ser torcedor é mais que ser consumidor ou fã.

Logo, o objetivo do futebol é entreter, mas ele também resolve problemas emocionais. Um filme mexe contigo por algumas horas, mas um título te deixa inebriado por muito mais tempo.

Portanto, considerando isso, como dividimos os atores dessa indústria? Vamos separar em dois grandes blocos, que são as organizações e os clubes, e a partir daí faremos uma nova separação em relação ao alcance de cada um.

Note que de cara temos situações e alcances diferentes, e apesar de todos fazerem parte da mesma indústria, cada um tem um problema a resolver, e é atacado por formas diferentes de inovação e disrupção.

Logo, propor soluções e dizer que há caminhos únicos é colocar todos na mesma condição e, convenhamos, a teria nasce errada.

Porque as ações o pensamento de Flamengo, Corinthians, Liverpool e Barcelona são diferentes do Lecce, do Eibar, do Santa Cruz e da Chapecoense.

Assim como há uma diferença colossal entre o que a FIFA, a UEFA e a CBF fazem. Portanto, quando você ouvir que “tal coisa é o futuro e o púnico caminho”, veja antes se ela cabe para o seu clube.

Um dos erros nesses processos, se não o maior, é justamente achar que todos precisam ser disruptivos e inovadores na mesma medida. Para problemas diferentes, ações e soluções diferentes.

Me alonguei demais nessa introdução. Na semana que vem falaremos sobre os caminhos que o futebol e os clubes podem tomar enquanto agentes de disruptura e inovação, dentro e fora de campo. Até lá!

Cesar Grafietti Economista, especialista em Banking e Gestão & Finanças do Esporte. 27 anos de mercado financeiro analisando o dia-a-dia da economia real. Twitter: @cesargrafietti

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