Fechar Ads

Quando os homens ficam satisfeitos com os salários das esposas?

Um estudo (acreditem) mediu isso. O número mágico é 40%, entenda:
Por  Carol Sandler -
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Todos conhecem o Prêmio Nobel. A medalha Fields, de matemática, é um pouco mais obscura. A premiação da Fundação MacArthur é conhecida como “bolsa para Gênios”.

Já o IgNobel tem outra função: trata-se de uma paródia para celebrar conquistas científicas que “fazem rir, e depois pensar”.

Diamantes feitos de tequila já conquistaram a honraria. Uma pesquisa que buscava evidências de que comer pizza pode evitar câncer e infartos, também. Chegou a virar meme: em 2017, um vencedor postulava que gatos não são 100% sólidos; na realidade, podem ser líquidos.

Encontrei recentemente um estudo publicado no “Personality and Social Psychology Bulletin” que poderia ser indicado ao IgNobel de 2020: de que existe um “ponto ótimo” em que os maridos estão mais satisfeitos com os salários de suas esposas.

Se a esposa ganha mais que o marido, isto gera insatisfação. Se ele depende financeiramente dela, a situação fica pior ainda. Por outro lado, a pressão de ser o provedor e ficar responsável pela totalidade dos ganhos também traz sofrimento.

Qual é, então, o ponto de maior satisfação? Quando suas parceiras recebem 40% da renda total da família.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A autora do estudo, Joanna Syrda, afirma que os resultados “refletem o nível de estresse associado com o fato de ser o único provedor e, ainda mais significativamente, com o desvio nas normas de gênero quando os maridos ganham menos do que suas esposas”.

O levantamento mostra que o estresse psicológico dos maridos tem o formato de um U. Quando controlam o total da renda familiar é alto, e vai caindo conforme o salário dela aumenta – até chegar à proporção de 60% (dele) e 40% (dela).

A partir daí, o estresse volta aumentar gradativamente até chegar ao maior nível: quando ele depende financeiramente dela.

Ou seja: o marido não fica confortável com um estado de dependência total, seja a dele ou a da sua esposa. No entanto, um equilíbrio na renda do casal, quando cada um contribui com a metade, também gera insatisfação de parte dele.

Como lidar então com o fato de que, de acordo com o IBGE, 38% dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres?

O estudo mostra na teoria o que vejo na prática. Um dos assuntos mais recorrentes dos e-mails que recebo de leitoras é o desconforto nos casamentos quando elas ganham mais do que eles.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Vivemos ainda em uma sociedade que espera que os homens tenham salários maiores.

Na média, eles têm – e muito maiores. No Brasil, as mulheres ganham, em média, 20% menos que os homens. Essa diferença é ainda maior quando falamos de mulheres com nível superior completo: neste caso, recebemos apenas 64% do rendimento deles.

E, se ela for mãe, ganha 35% menos que as mulheres que não têm filhos. A diferença salarial entre homens brancos e mulheres negras chega a 50%.

Esta desigualdade tem um custo enorme: se ela não existisse, o PIB global seria 26% maior, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Quanto maior a prosperidade, maior a felicidade, certo?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A resposta, de acordo com o estudo de Joanna Syrda, é: depende. As mulheres devem acompanhar no avanço da riqueza, mas sempre um passo atrás.

O que me enche de esperança é o fato de que esse efeito da relação entre o estresse do marido e a renda da esposa não é encontrado entre casais onde as esposas ganhavam mais do que os maridos desde o início do casamento – “o que aponta para a importância da seleção do parceiro”, nota a autora.

Será necessário aguardar até o momento em que os salários de homens e mulheres forem iguais para superar esta crise potencial nos casamentos ao redor do globo?

Espero que não.

Newsletter InfoMoney
Insira um email válido.
done Sua inscrição foi feita com sucesso.
error_outline Erro inesperado, tente novamente em instantes.

Carol Sandler É fundadora da plataforma online Finanças Femininas e da TV Carol Sandler, a primeira TV digital de uma influenciadora brasileira, além de sócia e diretora de conteúdo da Ella's Investimentos. Também é autora do livro Detox das Compras e coautora de Finanças Femininas – Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos.

Compartilhe

Mais de Carol Sandler

Carol Sandler

O teste da terça-feira: como saber se uma compra vale a pena

Uma casa no interior com uma bela piscina. Eu não sei você, mas este é um dos meus grandes sonhos. Não tanto pela piscina em si, mas pela ideia de ter uma sombra refrescante, um lugar para ler em paz enquanto curto ver a minha família crescer.Quando comecei a ler “Happy Money: The Science of […]
Carol Sandler

Por que as mulheres não chegam a cargos de liderança?

Esqueça aquela história do “teto de vidro”, que falava da dificuldade para as mulheres de conseguir cargos altos de liderança, como CEO. O que o levantamento revelou foi que a principal barreira, na realidade, é o crescimento para cargos de gerência, logo no início da carreira
Carol Sandler

Deixar o cartão em casa revolucionou a vida financeira dela

Tem quem opte pela versão ainda mais radical deste método: colocar o cartão de crédito em um copo cheio d’água e deixa-lo no congelador. Quando bater a vontade de fazer uma compra, você precisa esperar ele descongelar. Qualquer tentativa de acelerar o processo no micro-ondas resulta em um chip quebrado.No entanto, não precisa ir tão […]
Carol Sandler

Clichê? De onde vem o mito da mulher gastadeira

Basta olhar as revistas femininas para constatar: falamos sobre dinheiro com homens e mulheres de formas diferentes.A questão ficou clara com um estudo recém lançado pelo Starling Bank, banco digital inglês, que mostrou que existe uma linguagem de gênero sobre finanças. Os achados são impressionantes.65% dos artigos direcionados a mulheres categorizam elas como “gastadoras excessivas”, […]