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A renda fixa não só está viva, como não para de evoluir

Painéis da Expert XP indicaram que o mercado está evoluindo e tem potencial de atrair muitos investidores brasileiros – sejam eles iniciantes ou já mais avançados
Por  Camilla Dolle -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Na semana passada, aconteceu a Expert XP 2021, o maior evento de investimentos do mundo. Foram diversos os temas, painéis e entrevistados em três dias repletos de conteúdo. Eu, particularmente, tive a honra de mediar algumas conversas sobre renda fixa e percebi um tema comum entre duas delas, o qual vou abordar na coluna deste mês.

No primeiro dia, conversei com o Carlos Alcântara de Albuquerque, superintendente de Produtos de Balcão da B3, sobre o mercado de renda fixa em meio à alta de juros. No dia seguinte, no painel sobre Crédito High Yield e Ativos Distresed, recebi três grandes gestores que lidam com este tipo de ativos alternativos: Marcelo Urbano, da Augme Capital, Fausto Silva Filho, da XP Asset Management e Alexandre Cruz, da Jive Investments.

O que me chamou a atenção foi que, em ambas as conversas, foi falado sobre evoluções recentes e esperadas para o mercado de renda fixa. Acredito ser empolgante mostrar ao público que um mercado visto muitas vezes como só para conservadores e sem apelo, na verdade, pode ser bem complexo e vive em constante desenvolvimento.

Dentre as evoluções citadas, as que acredito serem as mais relevantes para os investidores são as seguintes:

Crescimento do mercado secundário

Segundo Alcântara, da B3, o volume de títulos de crédito privado emitido em 2019 foi de R$ 283 bilhões, tendo caído, em decorrência da crise, para R$ 195 bilhões em 2020. Mas, já na primeira metade de 2021, essas emissões somaram R$ 183 bilhões e é muito provável que a soma ao final do ano supere o aquecido ano de 2019.

Isso demonstra que ainda há muitas oportunidades na renda fixa, especialmente ao considerarmos o mercado secundário, que também tem se desenvolvido fortemente nos últimos anos. Para efeitos de comparação, em 2019, o giro médio diário de debêntures era de R$ 460 milhões.

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Atualmente, já atingimos R$ 1,3 bilhão de negociações médias diárias. Uma vez que, para o investidor pessoa física, o mercado secundário fortalecido é fundamental, é possível acreditar em um crescimento deste perfil investindo em crédito privado.

Por fim, Alcântara acredita, assim como eu, que a relação entre mercado primário e secundário é como “ovo e galinha”: é importante ter um mercado secundário forte para atrair investidores pra ofertas primárias. Por outro lado, é necessário que os investidores invistam no mercado de crédito para fortalecer o mercado secundário. Felizmente, estamos vendo evolução em ambos.

Títulos Públicos Federais

Outra mudança de comportamento observada por Alcântara foi a alocação de investidores pessoa física em títulos públicos, que foram democratizados com o Tesouro Direto.

Se antes as principais alocações eram em Tesouro Selic para gestão de caixa ou para investidores iniciantes fugindo da poupança, hoje há investidores olhando para os títulos de vencimento intermediário (“meio da curva”).

Na visão dele, são pessoas com maior conhecimento do mercado, buscando alocar seus recursos de forma direcional, ou seja, nem apenas de curto prazo nem para aproveitar oportunidades de ganhos de capital (como é o caso de investidores profissionais que escolhem papeis mais longos). Podemos atribuir esse movimento, ao menos em partes, à maior democratização do conhecimento sobre investimentos no país.

Regulamentação

Em relação a avanços de regulamentação que já ocorreram, Alcântara citou a Resolução ICVM 8, sobre ofertas públicas de distribuição de Letras Financeiras (dentre outros).

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Desde fevereiro deste ano, as ofertas destes títulos tornaram-se mais fáceis, uma vez que não é mais necessário seguir o rito de emissão do tipo ICVM 400 (para público em geral), que demanda custos e esforços mais elevados por parte dos emissores.

Como resultado, emissões de LFs realizadas neste ano já surpreenderam positivamente, chegando a atrair mais de 15 mil investidores em uma única oferta.

No painel sobre crédito high yield, foi levantada a questão do recente avanço em leis que buscam proteger os credores, como por exemplo a Lei de Falências, que entrou em vigor em janeiro de 2021, mas havia sido atualizada no último ano.

Para facilitar o entendimento de onde estávamos em relação à onde estamos hoje, foi citada a antiga Lei da Concordata, que trazia inseguranças aos investidores que compravam um ativo estressado, uma vez que poderia trazer junto o passivo relacionado. Já hoje, em caso de uma situação falimentar, é possível arrecadar rapidamente os ativos da empresa em questão e vende-los mesmo que uma disputa judicial esteja em curso.

Esta é uma importante evolução, tendo em vista que processos judiciais podem tomar tempo relevante e que ativos depreciam (perdem valor) durante esse período.

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Ainda neste tema, foi citado que hoje o processo de falência é mais rápido do que no passado. Além disso, não é mais a única saída para evitar uma recuperação judicial – os credores têm algumas opções, como trocar a gestão da companhia, ao menos interinamente, buscando melhorar o plano inicialmente apresentado, caso seja o caso.

Esses são, na visão dos gestores, passos na direção de um sistema de crédito mais pujante, que permite previsibilidade maior nos créditos estressados, o que também significa maiores oportunidades.

Por fim, outro desenvolvimento relevante na visão deles foi em relação ao acesso à informação, como por exemplo com o open banking, que tira o privilégio da informação de poucos participantes do mercado e cria com isso uma “infinidade” de novas oportunidades.

Novidades para o futuro

Ao encerrar nossa conversa, Alcântara pontuou algumas novidades que ainda devem ser lançadas pela B3 e que vão ajudar ainda mais no desenvolvimento do mercado de renda fixa.

Alguns exemplos são: i) BDR de dívida, que permitirá aos investidores brasileiros investir em títulos de dívida emitidos fora do Brasil; ii) aceitação de debêntures como margem de clearing. Hoje só são aceitos títulos públicos, ações e alguns títulos bancários; iii) “strip” de debênture. É a possibilidade de negociar apenas partes de uma debênture, como por exemplo alguns pagamentos de juros. É visto como uma forma de aumentar ainda mais a liquidez do mercado.

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O executivo da B3 comentou ainda sobre as novas regras para ofertas públicas, que deverão fomentar ainda mais o mercado primário, trazendo maior facilidade para emissões de emissores frequentes, além de aumentar oportunidades e melhorar o secundário. Outro tema que deve continuar no radar são os títulos verdes, com demanda crescente de investidores e emissores.

Esses foram alguns dos ensinamentos nesta edição da Expert XP, que mostram que o mercado de renda fixa está sempre evoluindo e tem enorme potencial de atrair ainda muitos investidores brasileiros – sejam eles iniciantes ou já mais avançados.

Camilla Dolle É responsável pelas análises de renda fixa do research da XP, onde começou a trabalhar em 2019. De 2012 a 2018, integrou a equipe de analistas de ratings da S&P Global Ratings, onde cobriu setores como os de infraestrutura, imóveis e utilities. Entre 2018 e 2019, fez parte do time de credit research do banco Santander, onde cobriu emissores de diversos setores, com foco em investidores institucionais. É formada em Economia pela FEA-USP

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