Livre-se da sua Dilma interior

A irritação é uma grande fonte de auto-conhecimento e evolução, basta estar consciente e se observar.
Por  Wilson Marchionatti
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Imagine que você está caminhando e um mendigo lhe aborda dizendo: “Você é um autócrata incompetente”. Isso lhe causaria irritação? É claro que não. Afinal, não faz o menor sentido.

Agora imagine situações mais reais. Como quando seu marido ou esposa diz: “Você é irresponsável, sempre gasta demais”. Ou quando sua esposa ou namorada diz: “Você sempre com suas coisas (futebol) e nunca com tempo para mim”. E se comete alguma pequena infração no trânsito e surge aquela multa cara, cheia de pontos para sua CNH, já campeã de pontuação! Ou mesmo quando comete um pequeno deslize no trânsito e é respondido pelo carro ao lado com uma buzinada e um palavrão. E quando você é escalado para trabalhar no final de semana, ou mesmo quando um colega recebe aquele aumento ou promoção que você tanto queria.

Essas coisas lhe causam alguma irritação? Se a resposta é sim, vamos entender porque e o que fazer.

A irritação nada mais é do que o nosso ego negando a própria imagem no espelho. A irritação surge muitas vezes quando ouvimos uma crítica que no fundo sabemos que tem algo de verdadeiro. Surge também quando nos deparamos com uma realidade que não queremos encarar, como um final de semana de trabalho.

Vamos cavar um pouco mais fundo. Nós, seres humanos, somos cheios de desejos. Muitos desses desejos são materiais: carro, roupas, comida, status, beleza, conforto. Também temos desejos não materiais, como admiração dos outros, reconhecimento. Quando não podemos atender a esses desejos, sejam materiais ou não, surge a frustração, que pode facilmente se transformar em irritação.

É o caso da nossa Presidente brasileira Dilma Roussef. Vamos analisá-la: uma mulher, mãe de família, considerada por sua trajetória na política pública uma gestora supercompetente. Parte dessa competência viria de sua mão de ferro, que chega a aterrorizar subordinados e colegas de trabalho. Dilma é conhecida por sua brabeza, que surge sempre que é contrariada ou ao não ter suas exigências atendidas.

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A Dilma militante certamente já passou por grandes testes e frustrações em sua vida. Frustrações que talvez imaginasse teria  maior controle como a suprema líder do país. Mas mesmo a Presidente está tendo que olhar no espelho e dizer internamente, para si mesma: “Dilma Presidente também erra, Dilma Presidente também recebe críticas, Dilma Presidente também tem frustrações”. Veja que estamos imaginando a Dilma referindo-se a si mesma como Dilma Presidente, da mesma forma como um bebê diz “Bebê se machucou”. É uma representação interessante, pois nos assemelhamos a um bebê que chora quando está com fome sempre que somos incapazes em lidar com o mundo externo, com críticas, com sugestões, com opiniões distintas. O bebê e a Dilma resistem à realidade, e assim surge a raiva, o berro, o choro.

Nós fazemos isso quando recebemos uma multa de trânsito, quando a fatura do cartão de crédito vem alta demais, quando nosso chefe nos escala para trabalhar no final de semana, quando o parceiro ou a parceira reclamam de algo.

Mas não precisamos nos contentar com a atitude de um bebê chorão. Podemos nos inspirar em grandes mentes iluminadas da história, que em frente a realidades terríveis, souberam aceitar, observar e agir.

Nelson Mandela, antigo Presidente da África do Sul, ficou preso 27 anos em seu país. Quando ficou livre, tornou-se Presidente e, ao invés de vingar-se do governo que o havia aprisionado, criou um governo de coalizão entre antigos e novos, entre brancos e negros, que transformou a África do Sul e encerrou a histórica segregação racial.

Mahatma Ghandi liderou o movimento de independência da Índia contra a Grã-Bretanha sem apontar o dedo a qualquer inimigo. Sua luta foi despida de armas, baseada em compreensão e diálogo. Ghandi chegou a dizer: “Ninguém pode me machucar sem minha permissão”. Com isso ele quis dizer que o mundo externo não tinha poder sobre ele e seus valores internos.

Jesus Cristo, depois de perseguido e traído, na cruz, em frente aos que o observavam passivamente sofrer, teve a capacidade de enxergar a figura completa e dizer: “Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem”.

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O que tiveram em comum esses iluminados? Souberam enxergar a realidade, aceitá-la e reagir da melhor forma possível.

Em nosso cotidiano, bem mais comedido do que os exemplos acima, também nos deparamos com frustrações (que em nossa visão curta parecem terríveis).

Podemos receber uma crítica da esposa, do marido, do chefe, e ter aquela explosão interna de raiva, que às vezes é contida, às vezes não. Ou aceitar que a raiva só surge quando tocam em nossa ferida.

Podemos lidar com o estudo, com o ato de poupar, com o trabalho, de forma dolorosa, como se fossem sacrifícios que estamos fazendo. Ou podemos aceitar que eles são partes inevitáveis de quem quer ter uma vida confortável e plena, e fazê-los com prazer.

Se cultivamos essa capacidade de aceitar a realidade, começamos a perceber que coisas que antes nos irritavam e causavam sofrimento, deixam de causar. E gradualmente qualquer crítica, acusação, exigência do chefe, passam a ser vistas pelo lado positivo. Momentos em que temos que poupar ao invés de gastar, trabalhar ao invés de ficar no ócio, passam a ser vistos também como coisas inevitáveis, mas boas.

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E então praticamente todas as influências do mundo externo serão como aquele mendigo lhe dizendo “Você é um autócrata incompetente”. Entrará por um ouvido, será absorvido com consciência, e sairá sem sofrimento. A não ser que você seja a Dilma. 

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