O Preço do Petróleo e os Reflexos na Economia

No caso brasileiro, esse panorama fica mais complexo por conta da ação de outros fatores adversos. De um lado, pode restar frustrada a esperança que todos estávamos depositando na “riqueza” do Pré-Sal, que talvez não se materialize integralmente, por falta de competitividade com o novo petróleo barato.
Por  Rubens Menin
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A forte queda nos preços internacionais do petróleo, iniciada no segundo semestre do ano passado e intensificada nos primeiros meses do ano em curso tem muito maior importância para o nosso país do que poderia parecer à primeira vista. Os preços atuais do petróleo, da ordem de US$ 50 por barril – equivalentes aos que prevaleciam no início de 2005 – seriam mesmo tão vantajosos para o Brasil quanto alguns crêem, por sermos importadores dessa commodity? Seriam, se isso tivesse ocorrido somente com o petróleo, afetando apenas aqueles países que passaram a viver da sua exportação (Venezuela, Rússia, etc.) e que ficaram com suas receitas reduzidíssimas de uma hora para outra. Fazemos, de fato, alguma economia, ao importarmos petróleo a preços inferiores aos nossos custos de produção, em algumas circunstâncias. No entanto, a maior parte dessa queda foi influenciada por retração na demanda global, em decorrência do desaquecimento econômico quase generalizado. E o fenômeno alcançou, também, outras commodities de cuja exportação somos dependentes (minérios, soja, café, açúcar, etc.). No frigir dos ovos, não está sendo um bom negócio para o Brasil.

Existe, hoje, um pensamento quase unânime entre os analistas especializados de todo o planeta: os países que se transformaram em “commodities dependentes”, ou seja, aqueles cuja economia concentrou-se na exportação de um ou de poucos produtos que, na época da prosperidade global e de elevação continuada das demandas, passaram a apresentar preços elevados, optaram por uma estratégia perigosa e infeliz.Também é quase uma unanimidade a recomendação de que essa armadilha tem que ser desmontada, (sempre que possível), com a diversificação da economia de cada um desses mesmos países.

No caso brasileiro, esse panorama fica mais complexo por conta da ação de outros fatores adversos. De um lado, pode restar frustrada a esperança que todos estávamos depositando na “riqueza” do Pré-Sal, que talvez não se materialize integralmente, por falta de competitividade com o novo petróleo barato. A minha opinião sobre esse assunto poderá ser compreendida, com mais detalhe, com a leitura da série Pré-Sal e Petrobras, (1) e (2), que publiquei em novembro de 2012 neste mesmo blog. De outro lado, o longo período em que o nosso Banco Central praticou a equivocada política de manter o câmbio artificialmente valorizado, com as seguidas intervenções na forma de “swaps cambiais reversas”, acabou por produzir o efeito da “desindustrialização”, dificultando a desejada diversificação da economia nacional para fugir da dependência excessiva da exportação de commodities.

Felizmente, contamos ainda com dois setores, que embora vivendo as suas próprias dificuldades, poderão prestar um grande serviço imediato na busca da tão necessária diversificação econômica. Refiro-me aos setores da Construção Pesada (responsável pelas obras de infraestrutura) e da Construção Predial (responsável pelo segmento habitacional). A esse propósito, nunca é demais lembrar que esses dois setores foram, justamente, os responsáveis pela sustentação do desenvolvimento da China, até que a economia daquele país atingisse o nível de diversificação atual. É verdade que o setor da Construção Pesada vem enfrentando dificuldades extraordinárias, principalmente no que diz respeito à infernal burocracia, à elevada carga tributária e à má vontade governamental para com a desestatização dos equipamentos e sistemas de infraestrutura. Mas, removidos esses entraves, esse segmento poderá voltar a exercer o seu tradicional papel de propulsor do desenvolvimento econômico. Por seu turno, a Construção Predial também está trabalhando em um ritmo muito inferior ao do seu potencial (demonstrado em anos anteriores). A demanda por novas moradias permanece aquecida e o crédito imobiliário ainda está disponível com facilidade. Os entraves, neste caso, decorrem das oscilações dos estímulos governamentais, da intermitência dos programas setoriais específicos e do elevado “Custo Brasil”. Por mais incrível que possa parecer, nesse setor estratégico, o número de vagas abertas despencou 64,4% entre 2013 e 2014, ou seja, deixaram de ser criados 106.476 postos de trabalho no ano passado (situação que não ocorria desde 2003).

Em resumo, entendo que as facilidades existentes para a diversificação rápida da economia brasileira estão disponíveis e capacitadas, e deveriam ser estimuladas com a remoção estratégica dos empecilhos e entraves atuais, para não acelerarmos a nossa excessiva dependência da exportação de commodities.

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