O Caso Eike Batista

O que realmente interessa nesta abordagem é o generalizado sentimento de execração ou de repulsão pública à figura daquele empresário. Nesse particular, penso de forma diferente.
Por  Rubens Menin
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Os rumorosos acontecimentos que envolveram o empresário Eike Batista nos últimos anos fizeram com que a sua situação ficasse bem conhecida do grande público. No entanto, embora conhecida, essa situação não tem sido bem interpretada pela maioria dos brasileiros. Não estou me referindo, aqui, aos detalhes bizarros dos processos movidos contra ele, notadamente o último deles, em que um juiz de mau comportamento (e já afastado das suas funções), passou a usufruir pessoalmente dos bens do empresário, apreendidos e colocados sob tutela judicial (incluindo veículos, objetos de arte e até dinheiro vivo), seja por inveja, revanchismo ou simples desejo de ostentação, seja por desvio criminoso de conduta. Não pretendo tratar desses detalhes no presente tópico, embora reconheça a sua importância. O que realmente interessa nesta abordagem é o generalizado sentimento de execração ou de repulsão pública à figura daquele empresário. Nesse particular, penso de forma diferente.

Não conheço pessoalmente Eike Batista, mas sempre torci pelo seu sucesso, reconhecendo-lhe os méritos da ousadia e o espírito empreendedor. Mais ainda, entendo que o fracasso nos negócios faz parte dos riscos empresariais e é sempre uma possibilidade à frente de qualquer empreendedor.Repetindo a frase famosa do Zico, após perder o pênalti contra a França na Copa do Mundo de futebol: “só erra quem bate”. De todo modo o sentimento coletivo de aversão contra o empresário, que se formou na opinião pública, é muito negativo para a educação dos brasileiros, dada a necessidade que temos de estimular o espírito empreendedor entre os nossos jovens, despertando-lhes, inclusive, a saudável dose de ousadia e a emulação diante dos desafios no mundo dos negócios.

Nada acontece por acaso. A pujante economia norte-americana só alcançou o estágio de grande desenvolvimento atual – responsável pela solidez patrimonial e pela riqueza dos cidadãos daquele país – porque pôde contar com uma infindável coleção de grandes empreendedores, sempre dispostos a cobrar o pênalti desde o Século XVII.  A situação dos EUA seria muito diferente, não fossem as cobranças bem-sucedidas de grandes empresários como Cornelius Vanderbilt (com suas ferrovias e linhas de navegação), John D. Rockefeller (o verdadeiro iniciador da indústria do petróleo e gás com a criação da Standard Oil Company e fundador benemérito de duas importantes universidades), Thomas Edison (com seus sistemas de luz e força e os seus aparelhos elétricos que viraram símbolos do progresso), Andrew Carnegie (que virou o Rei do Aço nos EUA, após alguns fracassos iniciais, um grande filantropo) e Henry Ford (fundador da Ford Motor Company e o verdadeiro idealizador do processo de produção por montagem em série, destinado a “dar um carro para cada americano”). Isso para ficar apenas nos nomes mais conspícuos e conhecidos. Bill Gates e Steve Jobs apenas deram continuidade à mesma tendência em um ambiente favorável ao progresso.

Embora em muito menor número, já tivemos, também no Brasil, os nossos próprios empreendedores que deixaram contribuições importantes, mesmo que suas ações tenham sido entremeadas de fracassos e tropeços. Costumam ser muito citados: Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá, que construiu e operou as nossas primeiras ferrovias, que desenvolveu a navegação hidroviária na bacia amazônica, que lançou o primeiro cabo telegráfico submarino entre o Brasil e a Europa, que fundou estaleiros e sistemas de iluminação pública a gás e que criou o primeiro Banco do Brasil; Percival Farquhar, que além dos empreendimentos ferroviários nos EUA e na União Soviética, desenvolveu entre nós a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o Porto de Belém, além de companhias telefônicas e de energia elétrica; e o Conde Francisco Matarazzo, pioneiro da industrialização paulista.

Atualmente, o forte preconceito antiempresarial disseminado na nossa sociedade, tanto por hábito cultural como por implicância ideológica, tem contribuído para transformar os fracassos empresariais em verdadeiros anátemas, como no caso de Eike Batista. Perdem os potenciais empreendedores e perde a própria sociedade brasileira. Uma pena!

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