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Já abordei em diversos tópicos deste blog as relações de causa e efeito que estão presentes no quadro de baixo crescimento da economia brasileira nestes últimos anos. Já tive oportunidade, também, de analisar alguns indicadores específicos que ajudam a compreender e a interpretar a nossa realidade econômica. Desta vez, no entanto, quero dar destaque a uma situação que, ao mesmo tempo, é um efeito da política econômica que vem sendo praticada e um impedimento à retomada do ritmo de crescimento no futuro imediato: o estado de deterioração do mercado de capitais no Brasil. Essa situação terá que ser objeto de cuidados imediatos e de atenção prioritária por parte do presidente que vier a ser escolhido pela nação para o exercício do mandato, a partir de janeiro.
Ao contrário do que muitos pensam, o mercado de capitais e seus agentes são peças muito importantes na economia de qualquer nação, sejam elas as plenamente desenvolvidas como os EUA e os principais membros da União Européia, sejam os países em desenvolvimento acelerado, como a China ou a Coréia do Sul, por exemplo, ou sejam ainda os emergentes que pretendem prosperar, como é o caso do Brasil.E mais, não existe economia em crescimento sem um mercado de capitais forte. Portanto, não podemos esnobar essa importantíssima ferramenta de desenvolvimento, que reúne os meios para que o país possa prosperar e crescer.
Todavia, não parecemos estar conscientes disso. No Brasil, o mercado de capitais está à deriva, sem rumo e sem o apoio de políticas de Estado consistentes e firmes. É assustador chegarmos ao mês de outubro sem que, neste exercício, qualquer abertura de capital tenha ocorrido nas bolsas de valores brasileiras, mostrando uma situação que não acontecia há mais de dez anos. Essa é uma situação que não pode ser debitada à crise financeira internacional, já que, nas bolsas de valores dos nossos concorrentes diretos (EUA, Reino Unido e Ásia), já foram realizadas, nos primeiros nove meses do ano em curso, mais de 500 aberturas de capital, robustecendo as respectivas empresas e estimulando os investimentos.
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Estamos interrompendo o longo caminho já percorrido pelas bolsas brasileiras no processo de consolidação e de expansão, como agentes de atração de capitais e de facilitação dos investimentos. Com isso, só fazemos por ampliar a disparidade de capitalização entre as bolsas brasileiras (US$ 1,2 trilhão), as norte-americanas (US$ 25 trilhões), as chinesas (US$ 6 trilhões) e as inglesas (US$ 7 trilhões). Mais chocante fica a diferença, quando considerados os volumes diários de negociações: enquanto a média nacional situa-se em US$ 2,8 bilhões, os nossos competidores contabilizam cifras significativamente maiores: EUA = US$ 100 bilhões; China = US$ 20 bilhões e Londres = US$ 8 bilhões. Além disso, enquanto as bolsas norte-americanas agregam mais de 100 milhões de pessoas físicas como investidores, no Brasil, mal conseguimos superar 500 mil investidores individuais. Essa desproporção não guarda a menor relação com o porte da nossa economia.
Um bom começo para o esforço de fortalecimento e de consolidação do mercado nacional de capitais poderia materializar-se em um compromisso público e firme, por parte de ambos os candidatos a Presidente da República, em favor da prioridade que merecerá esse assunto no próximo mandato, incluindo a recuperação imediata das perdas sofridas durante o próprio período eleitoral. Mais do que uma simples sugestão, deixo um apelo à sensibilidade dos próprios candidatos para que atuem, desde já, como os estadistas em que poderão ser transformados, em breve, por vontade da nação. Ou, até mesmo, que adotem a recomendação por simples espírito pragmático, de vez que poderão sair do mercado de capitais os recursos para os investimentos de que o país tanto necessita, como também, para ajudar a equilibrar as próprias contas governamentais.