Como reconstruir o ambiente econômico brasileiro
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O “Caso Petrobras” e sua repercussão contribuíram enormemente para agravar o quadro mais geral de deterioração da nossa economia, não só por terem trazido mais combustível às disputas políticas e por dificultarem a atração de novos investimentos, como também, e principalmente, por alimentarem uma grande onda de indignação popular, mesclada com um sentimento geral de desânimo e de descrédito nas instituições. Secundariamente, estão resultando deste triste episódio outros efeitos igualmente perniciosos para a situação econômica do Brasil, entre os quais destaco os prejuízos à imagem internacional do nosso país.
É justa a indignação do povo brasileiro e é perfeitamente compreensível a pressão popular para que as instituições resolvam este imbróglio jurídico, político e criminal, corrigindo os desvios, punindo os culpados e recuperando a normalidade plena do funcionamento da Petrobras e de seu importantíssimo programa de investimentos. O que não é saudável e muito menos inteligente, é a exacerbação da atitude de passividade, falta de cooperação e desânimo por parte da população e dos agentes econômicos. O enfrentamento de crises desse tipo exige disposição, coordenação de propósitos e de atitudes cooperativas e, sobretudo, planejamento estratégico. É preciso criar uma agenda positiva mínima, que obrigue as instituições a buscarem a imediata recuperação da nossa estrutura econômica, política e social, independentemente do avanço paralelo das indescartáveis ações legais de criminalização dos culpados e de ressarcimento das perdas do erário público.
A despeito do “Caso Petrobras”, mas potencializado por sua eclosão, a economia nacional já tinha alcançado patamares muito críticos e que precisam ser rapidamente revertidos para que não se perca o bonde da história e nem se atinja um ponto de não retorno (ou simplesmente de institucionalização do caos). São quase unânimes as projeções – oficiais e não oficiais – de que o ano de 2015 (e talvez o de 2016) poderá apresentar crescimento negativo do PIB – Produto Interno Bruto. Previsões publicadas no início deste mês apontam que o PIB de 2015 deverá encolher 0,42% quando comparado ao exercício de 2014. Segundo essas previsões, estaríamos descendo a ladeira aceleradamente. Ainda no final do ano passado, o sinal de alerta já tinha soado, entre outros indicadores, pelas revelações do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego) segundo o qual, o número de postos de trabalho criados em 2014 foi 64,4% inferior ao das vagas abertas em 2013. Isso não se restringiu ao setor de petróleo e gás, mais diretamente afetados pelo “Caso Petrobras” e retrata o conjunto da economia. Essa tendência não pode continuar. Tem que ser revertida rápida e energicamente.
Infelizmente, alguns setores que são grandenergies empregadores, como a indústria manufatureira, o turismo, os serviços pessoais e o comércio varejista dificilmente recuperarão a sua dinâmica própria, no curto prazo, e certamente continuarão enfrentando um período mais longo de dificuldades, até que o país volte a crescer. Por outro lado, há setores que poderiam superar as suas dificuldades de modo mais rápido, desde que adequadamente estimulados por uma política de Estado coordenada e estrategicamente planejada. Refiro-me, por exemplo, ao agronegócio (agricultura e pecuária), ao setor de serviços não pessoais (mais elásticos em relação à renda) e à construção civil. Mas, para que uma estratégia desse tipo possa ter o sucesso esperado, especialmente nessa época contaminada pelo desânimo geral, seria essencial que a sua implementação se fizesse acompanhar por ampla campanha de esclarecimento, de motivação e de mobilização dos agentes políticos e da sociedade civil nos moldes dos programas de comunicação social ativados à época do “New Deal” (Programa de Ação Pública ativado nos EUA no período de 1933 a 1937 para combater a Grande Depressão).