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Agricultura: Brasil & Estados Unidos

A agricultura talvez seja o assunto que permita as melhores e mais diretas comparações entre o Brasil e os Estados Unidos. Os dois países são grandes celeiros do mundo ocidental, não apenas pela quantidade de terras férteis que possuem, propícias à mecanização e ao uso intensivo de capital, como também, pelo clima favorável.
Por  Rubens Menin
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A agricultura talvez seja o assunto que permita as melhores e mais diretas comparações entre o Brasil e os Estados Unidos. Os dois países são grandes celeiros do mundo ocidental, não apenas pela quantidade de terras férteis que possuem, propícias à mecanização e ao uso intensivo de capital, como também, pelo clima favorável. Nesse último quesito, as condições brasileiras apresentam-se melhores do que as norte-americanas, já que as terras superprodutivas do Meio Oeste dos EUA estão sujeitas a clima desfavoravelmente frio durante boa parte do ano. A produção agrícola de alimentos ainda é bastante distinta entre os dois países. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, a safra norte-americana de grãos atingiu, em 2014, cerca de 450 milhões de toneladas, enquanto a brasileira alcançou 200 milhões de toneladas de acordo com os dados oficiais do nosso governo. É uma diferença muito grande, principalmente quando se observa as informações da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que apontam para o fato de que a área plantada nos EUA permanece praticamente inalterada desde a década de 1990 e, mesmo assim, a produção total naquele país vem aumentando, em média, 2% ao ano no mesmo período. O resultado decorre do aumento constante de produtividade na agricultura norte-americana, que já alcançou nove toneladas de grãos por hectare-ano, praticamente o dobro da taxa obtida no Brasil. É bem verdade que essa diferença é influenciada pela larga e crescente existência entre nós, de parcelas ineficientes e de baixa produtividade normalmente associadas à agricultura familiar, menos propícia à mecanização e ao uso intensivo de capital. No entanto, a meu ver, existem outros importantes fatores intervenientes, como os que vou expor resumidamente a seguir.

O grande aumento na produção de grãos no Brasil (superior a três vezes nas últimas quatro décadas) resultou da incorporação das áreas de cerrado e de outros biomas de transição, com a ocupação da Região Centro Oeste, de algumas franjas amazônicas e trechos especiais de Minas Gerais, da Bahia e de outros estados no Nordeste, com base em novas tecnologias de plantio e cultivo, notadamente as desenvolvidas pela EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.Foi um desenvolvimento agrário relativamente tardio em que pese o seu bom crescimento recente mesmo com as grandes deficiências infraestruturais que aumentam os custos de produção, que limitam ou prejudicam o transporte de grãos e que desestimulam o setor. Nos EUA, o processo é bem mais antigo, incluindo a farta distribuição de terras para os pretendentes a colonos nos territórios anexados, com base em módulos da ordem de 65 hectares conforme a política de ocupação estabelecida no “Homestead Act”, de 1862. A diferença é que, a partir dessa ação inicial de indução à ocupação dos novos territórios e de algumas outras intervenções subseqüentes (como os programas de irrigação e geração de energia conduzidos pelo US Bureau of Reclamation e outras agências púbicas), o governo norte-americano deixou as funções de interventor e de estimulador para voltar as suas ações para as tarefas típicas de Estado. Os próprios particulares e novos proprietários passaram a se articular diretamente com o empresariado, criando uma vinculação forte entre o agronegócio e a indústria (que se mantém e se expande até hoje).  Foi quando apareceram os grande empreendedores (como Cornelius Vanderbilt, por exemplo, que implantou ferrovias, pontes, portos e linhas de navegação, facilitando o acesso aos novos focos de produção e o escoamento das safras). Em relação às ferrovias, impossível desconhecer as diferenças. Embora o Brasil tenha iniciado a implantação dos primeiros segmentos ferroviários ainda no Segundo Império, a sua expansão logo arrefeceu e, ao cabo, depois da centralização estatizante do setor, jamais conseguimos contar com uma malha de ferrovias abrangente e eficiente, enquanto nos EUA o problema já estava razoavelmente equacionado há cerca de 200 anos pela ação de empreendedores privados.

Aliás, relativamente às deficiências infraestruturais, existe um outro ponto emblemático na comparação entre os dois países: mesmo contando com grandes rios, o Brasil não conseguiu implantar, nos últimos 300 anos, um sistema hidroviário minimamente eficiente. Por quê? Talvez por esperarmos a ação governamental e deixarmos escapar iniciativas muito melhores ativadas pelo próprio setor produtivo. Claro que há impedimentos, inclusive os introduzidos pela nossa anacrônica e burocrática legislação. Mas, apesar disso, esse assunto merece a nossa reflexão mais estratégica.

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