Tenho feito da educação um assunto frequente neste blog. Desenvolvi, há cerca de um ano, uma série de cinco tópicos sob o título geral de “A Engenharia e seu Ensino”, na qual comparei a situação nacional com a de outros países, procurando mostrar a importância da educação como ferramenta essencial ao desenvolvimento. Apontei também, no tópico “Por que nunca ganhamos o Prêmio Nobel?”, as nossas deficiências educacionais como uma das razões explicativas para a incômoda situação de sermos o único país entre os BRICS a não receber, até hoje, a desejada honraria, mesmo que as leis da estatística apontassem para o fato de que já deveríamos ter ganhado a cobiçada premiação pelo menos 25 vezes. Volto ao tema para acrescentar algumas outras considerações que reputo importantes.
Por uma razão ou por outra, ao longo de toda a nossa história descuidamos da educação dos brasileiros, por omissão, negligência, incompetência, falta de visão ou, até mesmo, por imposição da nossa antiga metrópole colonial. O fato é que, a iniciativa pioneira dos colégios jesuítas, instituídos logo após o descobrimento, não foi tão duradoura quanto deveria, já que o governo português acabou por destruir toda essa preciosa obra em meados do Século XVIII. Na questão do ensino superior, o descolamento brasileiro foi ainda maior: afora algumas iniciativas importantes, mas isoladas (as academias naval e militar da Bahia, a Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, as Escolas de Medicina do Rio e de São Paulo e as Escolas de Direito do Recife e de São Paulo, com a implantação posterior da Escola de Minas de Ouro Preto e de outras unidades esparsas), as primeiras universidades somente foram estruturadas mais de duas décadas após a Proclamação da República (Universidade de Manaus, Universidade do Paraná e Universidade de São Paulo). Isso quando já funcionavam, há quase 300 anos, algumas renomadas universidades norte-americanas (A Universidade de Harvard foi fundada em 1636).
Quando nos constituímos como um país independente, éramos uma nação de analfabetos (menos de dois em cada cem brasileiros sabiam ler e escrever ou tinham nível melhor de instrução naquela época). E continuamos muito descolados da realidade internacional nesse quesito. O IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, divulgou um dado alarmante: a taxa de analfabetismo do país subiu um ponto percentual quando comparada com o ano de 2012, chegando a 8,7% da nossa população. Andamos para trás! Mas, a realidade é ainda pior: se considerarmos também os analfabetos funcionais (aqueles que conhecem as letras e algarismos, mas que são incapazes de escrever ou interpretar um texto mais longo ou de executar operações aritméticas minimamente mais complexas) podemos acrescentar nesta conta catastrófica, mais 18,3% da população brasileira, ou seja, cerca de 37 milhões de pessoas.
Como resultado de tudo isso, produzimos pouco, somos incapazes de nos organizar eficientemente para as diversas atividades da vida (incluindo a ação política), sofremos com a baixa qualidade de vida e, principalmente, temos uma renda muito baixa. Essa situação somente pode ser revertida com uma revolução nos nossos hábitos de aprendizado e na nossa estrutura educacional. Não existe outro método. Para reforçar essa conclusão, vou finalizar esse tópico com um breve cotejo entre o Brasil e a Coréia do Sul, país que adotou extremadamente a educação como sendo a ferramenta capaz de garantir o desenvolvimento e a prosperidade.
Na década de 1960, tanto o Brasil como a Coréia do Sul eram países tipificados como “subdesenvolvidos”, sendo que a nossa renda per capita era um pouco superior à dos coreanos. Tínhamos, também, outros indicadores de desenvolvimento econômico e social melhores do que os daquele país asiático, com o qual competíamos vantajosamente na luta por contratos internacionais de construção civil e de fornecimento de alguns itens industriais. Aí os coreanos começaram a virar o jogo, investindo maciçamente em educação e, principalmente, cultuando o aprendizado com uma devoção quase religiosa (que leva muitos deles a dedicarem 90 horas do seu tempo semanal aos estudos). Hoje, os nossos antigos concorrentes erradicaram o analfabetismo e já abrigam 82% de seus entusiasmados jovens em ótimas universidades. Os resultados dessa opção nacional não tardaram a aparecer: a Coréia do Sul atingiu um estado de desenvolvimento muito elevado, transformando-se, por exemplo, em um grande exportador de automóveis de qualidade, de onde importamos um substancial volume. Mais do que isso, a renda per capita dos coreanos é, hoje, cerca de três vezes a dos brasileiros. Ou seja, os coreanos estão ficando prósperos e ricos, muito ricos…