A economia nacional e também o país em si mesmo – como as instituições que materializam o Estado brasileiro – estão no vórtice de uma profunda e perigosíssima crise de credibilidade (termo mais suave que vem sendo usado para substituir a palavra “confiança”). Essa situação é ainda mais chocante quando se observa que ela surgiu e potencializou-se no curto período de tempo transcorrido desde 2009. Antes disso, o país dispunha de uma economia estável, com razoável equilíbrio fiscal, contas públicas sob relativo controle, reservas divisionárias progressivamente crescentes e diminuição paulatina do endividamento público. Tudo isso, garantindo a evolução crescente do PIB – Produto Interno Bruto, se não a taxas chinesas, pelo menos a um ritmo relativamente compatível com aqueles apresentados pelos outros países em desenvolvimento. Aliás, essa situação antecedente garantia grande visibilidade internacional ao Brasil (transformado no “queridinho” dos investidores internacionais e indicado como aquele entre os BRICS {Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul} com maior potencial de crescimento sustentável, por conta de suas instituições estáveis e democráticas, seu ambiente legal confiável e suas diretrizes econômicas equilibradas). Por razões que não poderiam ser abordadas no curto espaço deste tópico, mas que já são de conhecimento público geral, a estrutura da nossa economia sofreu significativa modificação, potencializada, por sua vez, pelos acontecimentos relacionados com a Petrobras. O fato concreto é que as conseqüências não se limitaram à deterioração rápida dos principais índices econômicos, posto terem alcançado, também, a credibilidade do nosso país junto aos investidores nacionais e estrangeiros. Este é o efeito específico que eu pretendo examinar no presente tópico.
Em lugar de o Estado concentrar seus esforços emergenciais no aumento de tarifas e tributos existentes ou na retirada súbita de benefícios ao cidadão comum, melhor faria se reduzisse os seus gastos correntes e se reunisse os esforços de todos em um mutirão ou pacto destinado à recuperação da nossa credibilidade anterior. Entendo que haveria clima para essa cooperação ampla, tendo em vista os benefícios que poderiam ser obtidos com a preservação dos negócios e empresas, dos empregos e da renda. O reequilíbrio e o crescimento da economia, desde que criado o ambiente adequado de confiança e de atratividade, poderia ser ativado com os investimentos internos e externos. Os grandes investidores nacionais estão ressabiados, desconfiados e arredios. Nem é necessário mencionar a progressiva queda na taxa de investimentos nacionais em relação ao PIB, que, pelo andar da carruagem, poderá cair abaixo de 13% em um horizonte não muito distante. Outros indicadores são mais objetivos e práticos para evidenciar essa fuga de investidores: em 2014, pela primeira vez, o número de aberturas de capital através de IPO (oferta pública de ações em bolsa de valores) reduziu-se a um único e heróico evento no nosso país. Outro indicador preocupante, e também um caso inédito, está consubstanciado no fato de que, em 2015, até agora, nenhum título da dívida púbica e privada (Bond) foi emitido, dada a esperada dificuldade na busca de interessados pela compra desses papéis.
Quando se trata de investidores estrangeiros, a situação parece ainda pior. Recentemente, participei de uma série de encontros com investidores internacionais e fiquei chocado com o que pude constatar: um clima geral de hostilidade em relação à economia e à estrutura político-legal do nosso país, convergindo para uma nítida aversão a qualquer possibilidade de investimentos no Brasil. Em alguns desses encontros o assunto foi tratado até com desdém, incluindo menções irônicas ao escândalo da Petrobras. Esse clima é péssimo para os interesses nacionais, já que em um mundo globalizado como o atual, nenhum país ou região poderá prosperar sem uma interação forte e saudável com as principais economias mundiais e com os “players” capazes de alavancar grandes investimentos e negócios. É desse espaço que deveriam ser atraídas as grandes fontes de financiamento para alavancar o nosso próprio progresso, garantindo empregos, rendas progressivamente crescentes e aumento continuado do PIB. Temos que inverter isso. Não podemos ficar no descrédito de todos. Acho importantíssimo e urgente, que as nossas lideranças políticas e empresariais juntem os seus esforços para construírem, objetivamente e sem demagogia, uma “Sociedade de Confiança”, para substituir o combalido estado atual.
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