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Mineração de Bitcoin como forma de “estocar vento”? Como cripto pode ajudar a equacionar o problema do custo de energia

E se a energia que não pode ser consumida nas regiões onde ela é produzida em excesso fosse usada para minerar criptomoedas?
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Não podia começar este artigo com outro título a não ser o usado acima, fazendo referência a nossa ex-presidente. Mas o que vem a seguir não é somente relativo à energia eólica e sim sobre uma forma mais eficiente de gestão da rede de energia por meio do uso da mineração de cripto.

Durante uma conversa no YouTube com Rudá Pellini, um empreendedor bastante envolvido na mineração de cripto, ele citou uma ideia que ficou na minha cabeça desde então: a de que cripto pode ser uma forma muito eficiente de equacionar o problema de custo de energia em vários lugares. E é sobre isso que reflito a seguir.

A gestão de energia se divide essencialmente em três partes: geração, transmissão e consumo. Como geralmente a área de consumo não fica perto da área de geração e na transmissão pode haver uma perda grande, proporcional à distância a ser transmitida, hoje no mundo há lugares onde há geração excessiva de energia e lugares onde há falta.

Por sua dimensão continental, o Brasil é um dos locais em que esse problema acontece. Muito da produção de energia do Nordeste não chega ao Sul-Sudeste, onde acontece grande parte do consumo, fazendo com que, em um momento em que os brasileiros enfrentam um aumento considerável de custo (tarifa vermelha), exista energia sendo produzida e não consumida.

Lembro muito bem do caso de uma usina imensa de geração eólica há uns 10 anos, no Ceará, se não me engano, onde a fazenda geradora ficou pronta, mas houve um atraso imenso na construção da linha de transmissão. Como a geração já havia sido contratada via um leilão de energia, a fazenda provava que gerava a energia e o governo pagava o preço acordado por ela, mesmo sabendo que essa energia se dissiparia, literalmente jogando dinheiro pelos ares.

Imagine agora se essa energia que não pode ser consumida, seja porque não há ainda linha de transmissão construída ou porque ela fica muito longe do local de consumo, fosse utilizada para minerar cripto, Bitcoin por exemplo. E se esses Bitcoins fossem vendidos para financiar a própria linha de transmissão que está sendo construída ou financiar projetos de geração mais próximos dos centros de consumo que poderiam não ser viáveis sem esse “subsídio” dado pela mineração. Fenomenal a ideia, não?

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É óbvio que os custos de se instalar uma mineradora não são somente de energia. Há também um capital inicial a ser investido nas máquinas, chips, local de instalação etc. Mas se hoje já há mineradoras instaladas em inúmeros lugares do mundo, por que não fazer uma parceria e trazê-las para um lugar onde a energia seja muito barata? Seria uma situação “ganha-ganha”.

O que seria preciso para isso? A primeira coisa que vem a minha cabeça é ter um arcabouço jurídico para que o setor elétrico pudesse fazer esses ajustes. Esse segmento é um dos mais regulados que conheço, perdendo apenas para o financeiro. Até onde tenho conhecimento, nas regras atuais, não poderia de forma privada fazer esse tipo de investimento.

Mas poderia haver uma parceria entre a geradora e empresa de mineração de cripto. Aqui vem outro ponto a ser discutido. O que é a mineração de cripto do ponto de vista de negócio? Uma prestação de serviço? Incide ICMS? Ou é uma produção de algo, incidindo IPI?

Outro ponto de atenção seria a questão da transmissão, que é detida, em grande parte, por empresas de capital publico ou misto, o que gera mais dificuldade na construção desses acordos.

O fato de não tratarmos isso de frente e com a celeridade necessária faz com que deixemos passar oportunidades únicas de melhorar a eficácia e eficiência da nossa matriz energética, postergando e muito sua atualização, melhoria e, por que não dizer, a caminhada rumo a uma matriz energética mais ESG, visto que o ajuste em tempos de crise se faz imensamente pelo uso de termoelétricas.

Como sempre digo, solução para fazermos melhor tudo o que temos hoje existe. Usar mineração de cripto para balancear a rede de energia e torná-la mais eficiente me parece um bom caminho a ser seguido. Não?

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Bases para esse texto:

Entrevista com Rudá Pellini
Geração e Consumo de energia no Brasil: Brasil ‘joga fora’ energia do Norte e Nordeste e conta fica mais cara – Trinity Energia
O crescimento de geração Eólica e solar no Nordeste: Região Nordeste bate recorde na geração de energia eólica e solar — Português (Brasil) (www.gov.br)

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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