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Juros minuto a minuto? É possível

Os meios de pagamento estão se tornando instantâneos, e o mesmo movimento pode acontecer com a cobrança de juros
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Fazendo a pesquisa para a última coluna sobre meios de pagamento, li uma passagem sobre o papel dos juros que me levaram a pensar sobre isso. Divido a reflexão com vocês.

Algumas definições sobre juros são amplamente aceitas. Valor do dinheiro no tempo e prêmio pela postergação do consumo são as que sempre vêm à minha cabeça.

Ambas estão intrinsicamente ligadas à questão do tempo, e não é para menos: falar de juros nos remete automaticamente a isso.

E aí, estudando sobre os meios de pagamento, vi que os prazos estão cada vez mais estreitos. Operações que demoravam dias, ou até semanas, já podem ser feitas instantaneamente em vários países. Não tardará até que tudo seja feito instantaneamente.

É nesse ambiente que os prazos relativos aos juros podem estar mudando. Nos padrões atuais, os juros são sempre relativos a um dia. O CDI, por exemplo, é formado pela média das operações overnight entre os bancos.

Para receber juros, temos que deixar o dinheiro dormir de um dia para o outro. No caso brasileiro, é preciso dormir por um dia útil, já que a convenção assim estabelece. Nos Estados Unidos e na Europa, é diferente: lá, valem dias corridos.

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Várias explicações podem ser dadas para o fato de o juro ser considerado diário. Uma delas vem da contabilidade, já que os bancos atualizam suas posições de um dia para outro. Como se fizessem um corte no final do dia, calculassem todas as suas posições e aplicassem a elas os juros para a abertura do próximo dia.

A necessidade contábil de ter exatamente a posição diária fez com que os juros incorressem sobre a posição de fechamento de um determinado dia.

Outra explicação vem da prática. Se alguém te emprestar dinheiro e você devolvê-lo no mesmo dia, por que pagar juros?

Afinal de contas, o “balanço” contábil dessa empresa/individuo, caso não haja nenhuma outra operação externa, será sempre igual no início e no final do dia.

Esse fator inclusive fez com que várias fraudes fossem arquitetadas dessa forma (creditando-se valores no início do dia e debitando-se no fim do mesmo dia), criando a necessidade de controlar/limitar esse tipo de prática.

Voltando ao desenvolvimento atual, onde os meios de pagamento estão se tornando instantâneos, 24/7 e 365 dias por ano, por que os juros não poderiam acompanhá-los?

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Poderíamos tomar um empréstimo pela manhã para investir em qualquer ativo que quiséssemos durante um período inferior a um dia e pagar pela utilização desses recursos.

A questão do dia fica certamente mais fluida, já que poderemos fazer transferências a qualquer hora do dia ou da noite.

Por exemplo: por que, numa transferência feita às 23:59, não deveria haver a cobrança de juros e em outra, feita as 0:01 (meia noite e um), deveriam incidir taxas relativas a um dia inteiro? Já parou para pensar nisso?

Será que isso está muito longe de acontecer? Acredito que não. O mundo atual, em que as instituições financeiras apresentam seus balanços contábeis diariamente, deve mudar.

Em um futuro próximo elas passarão a apresentar posições atualizadas online/real time.

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Falando nisso, grande parte dos bancos já tem isso em relação aos ativos de maior volatilidade de preço. E, em um mundo onde os pagamentos serão instantâneos e as instituições terão seus balanços contábeis em real-time, por que não esperar que os juros passem a incorrer em prazos inferiores a um dia?

Vale ressaltar que não vejo a necessidade de fechamento diário de balanços dos bancos como um impeditivo, já que mesmo tendo isso eles já estão se adaptando aos pagamentos instantâneos. Não vejo por que não se adaptariam a um fator de juros inferior a um dia.

Quando isso ocorrer, imagino que inúmeros novos modelos de negócios poderão surgir, que possibilitarão uma maior transparência para operadores de renda variável que fazem day-trade, uma possível reformulação e encurtamento dos processos de crédito, novas linhas de crédito, maior precisão na precificação de seguros, dentre outros inúmeros benefícios que não consigo visualizar agora, mas que empreendedores vão colocar em prática.

A tecnologia está possibilitando termos um sistema financeiro mais ágil, online, instantâneo, justo e inclusivo e não vejo porque o conceito de juros tenha que permanecer dentro dos paradigmas históricos.

E você? O que acha? Comente abaixo ou me encontre nos links abaixo para continuarmos a discussão;

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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