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“Home Bias”: o rei dos vieses comportamentais dos brasileiros na hora de investir

A pergunta que fica para você é: quanto do seu patrimônio está investido fora do Brasil?
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Nas últimas décadas, as teorias de investimentos foram chacoalhadas pela onda de estudos sobre nossos comportamentos.

Até não muito tempo atrás, as teorias econômicas de investimentos eram baseadas em agentes racionais que, diante de duas opções, escolhiam a que fosse racionalmente melhor. Mas isso não é exatamente o que ocorre na vida real.

Um dos exemplos que mais gosto é o de uma pesquisa feita sobre uma compra e a posterior entrega em casa ou busca do bem na loja.

Ela foi formulada da seguinte forma: imagine que você pode comprar um bem que custa R$ 1.000,00 se for entregue na sua casa, ou R$ 900,00, ou seja 10% de desconto, se você for buscar na loja que fica a três quadras da sua casa.

Após responder essa primeira questão, uma segunda pergunta foi feita sobre a compra de um bem que poderia ser entregue em casa por R$ 10.000,00 ou retirado na loja por R$ 9.900,00, ou seja 1% de desconto.

Qual sua resposta para essas duas perguntas?

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O que você faria? Iria buscar os dois na loja, receberia os dois em casa ou buscaria um e o outro você receberia em casa?

A maioria dos estudantes de Harvard entrevistados respondeu que iria buscar na loja o primeiro item e esperariam para receber o segundo em casa. Qual o racional? O primeiro tem um desconto de 10% e o segundo um desconto de apenas 1%.

Mas isso é realmente racional? Na realidade, não.

Racionalmente, a resposta para os dois casos deveria ser a mesma, já que o que está em discussão é o seu tempo para ir buscar o produto na loja e, em ambos os casos, o que você ganharia para fazer isso seria o mesmo valor (R$ 100,00).

Esse é apenas um dos vieses que nos afetam em todas as nossas tomadas de decisão. Já foram mapeados mais de 50 vieses que fazem com que nossas decisões não sejam racionais.

De todos os vieses que analiso e já estudei, um dos que mais afetam o investidor brasileiro é aquele conhecido como “home bias”. Segundo ele, todo investidor tem preferência por investir na sua região, país e moeda.

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A impressão de conseguir controlar melhor o que está por perto, falar a língua materna e estar investindo na legislação e regras que conhece são fatores que levam a maioria dos investidores em todos os lugares do mundo a ter um bom pedaço dos seus investimentos no país onde nasceu e mora.

Mas isso é extremo no caso do Brasil.

Segundo um levantamento do JPMorgan, menos de 0,5% do valor total investido pelos brasileiros em 2018 estava fora do Brasil. Esse número deve ter aumentado desde então, mas está longe do registrado por outros países. Isso sem considerar a maior volatilidade da moeda brasileira.

Para se ter um parâmetro, nos EUA, maior mercado do mundo, esse percentual é de 28%; no Canadá, 35%; e, na Inglaterra, 50%. Diversificação de moeda, região, crédito, setor etc.

Diversificação é um dos alicerces da boa gestão de ativos e aqui a maioria dos brasileiros falha.

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Alguns fatores estão no cerne da força que esse viés tem no Brasil: juros em geral mais altos do que no exterior; regulamentação muito restritiva; pouca oferta de ativos e veículos de investimento para se investir no exterior; ou, em outras palavras, um mercado financeiro muito fechado.

Esses pontos podem até explicar o passado. Mas o presente e o futuro têm tudo para serem diferentes.

Os juros brasileiros estão no patamar mais próximo dos juros externos das últimas décadas (mesmo considerando a alta recente da Selic). A legislação brasileira facilita cada vez a diversificação no exterior – exemplos disso são a autorização para fundos investirem no exterior, a possibilidade de criação de BDRs de ETFs e a abertura para investidores comuns negociarem BDRs não patrocinados.

O rumo a uma maior facilidade para ir contra o viés do “home bias” parece estar traçado. Agora, cabe saber se o brasileiro continuará a ser o povo no qual esse viés é mais sentido ou vai passar a diversificar os investimentos como os investidores dos outros países.

E olha que aqui não estou nem falando de inovação ou mercado cripto, que é para onde acredito que uma parte significativa da poupança mundial irá migrar nos próximos anos.

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A pergunta que fica para você é: quando vai passar a investir fora do Brasil?

Mais sobre esse assunto:

IMF report on global investments
Mercer – Home bias in portfolios

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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