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Como a evolução do DeFi pode possibilitar o streaming de dinheiro

Após replicar os produtos do mercado financeiro tradicional, DeFi passa agora à nova fase, de criação de produtos que só são possíveis nela
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A história de DeFi (decentralized finance) nos últimos anos tem sido a de trazer para dentro do ambiente de blockchain e cripto os produtos e serviços que já existem no mercado financeiro tradicional.

Foram criadas soluções que unem simplicidade, complexidade e um modelo de negócio de alinhamento de interesses. Dentro deles vale citar a solução encontrada pelos pessoal da Uniswap (UNI), que criou um mecanismo onde é possível usuários criarem e proverem liquidez para vários pares de negociação e que, associado ao AMM (automated market maker), fez com que fosse possível a criação das exchanges descentralizadas (DEX).

Além dela, o mecanismo da Compound (COMP) para emitir de forma descentralizada uma stablecoin 1:1 com o dólar (DAI), que utiliza colaterais e terceiros arbitrando para garantir essa convergência do DAI para o US$ 1,00, a Aave (AAVE) com seus investimentos e empréstimos, a Opyn e a Pods com seus derivativos, Armor em seguros e por aí vai.

E olha que aqui só me referi a soluções criadas na rede Ethereum (ETH). Hoje temos soluções similares, muitas até cópias do código dessas citadas acima, em praticamente toda rede de blockchain pública.

Ou seja, hoje já é possível encontrar em DeFi todos os produtos do mercado financeiro tradicional. Claro que muitos desses protocolos e processos ainda estão na sua infância, muitos têm menos de 2 anos de existência, mas pelo volume e velocidade que tudo está se desenvolvendo já abre espaço para um voo maior.

E que voo é esse? Em que direção?

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Para mim é rumo à criação de produtos e soluções que só poderão ser feitas nesse mercado. Seja pela lentidão na atualização de suas regulações e processos, seja pelas suas características regionais, seja pela sua tecnologia defasada, o mercado financeiro tradicional não conseguirá replicar esses produtos. Vou dar alguns exemplos para ficar mais claro.

Uma das discussões que já existem há um tempo em DeFi é o que colocam sob a alcunha de Money Streaming. Qual é a ideia? Bem, um novo bloco da rede Ethereum é registrado a cada, aproximadamente, 15 segundos o que faz com que seja possível registrar uma operação de transferência entre duas carteiras a cada janela dessas.

Bem, agora pense em um caso simples de recebimento de salário que todos os trabalhadores têm e hoje é mensal. Sem muito trabalho daria para fazer um pagamento proporcional do salário a cada 15 segundos. A pessoa, ao invés de receber uma vez por mês, receberia a cada 15 segundos.

Indo além, não é difícil condicionar esse pagamento ao cumprimento de uma tarefa (se fizer x, recebe uma parte, senão não). Com isso uma coisa que hoje é tradicionalmente mensal pode ficar 100% atrelada ao cumprimento de tarefas. Um caso de uso espetacular em um mundo onde todos estamos digitais e as relações de trabalho estão cada vez menos atreladas ao tempo físico que permanecemos no escritório e mais ao trabalho que realizamos.

Agora pense fazer isso no mercado financeiro tradicional. Dá para programar fazer um PIX a cada 15 segundos? Acho que tecnicamente deve até dar, mas imagina o trabalho e a complexidade disso. Na Ethereum, e na maioria das redes de blockchain públicas isso já é nativo.

Um outro ponto, e que é o incrível da inovação, é que tenho certeza de que já existe alguém no mundo que está pensando ou testando algum caso de uso que utiliza Money Streaming que eu hoje nem consigo imaginar, mas que quando conhecer vou ficar maravilhado com a solução. As possibilidades que isso abre são enormes.

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Outras iniciativas que têm me interessado são as relativas ao financiamento desses projetos e como eles estão fazendo para criar reservas de valor lastreadas. São os experimentos iniciados pela OlympusDao. Ela emite um token lastreado (OHM) e tem um mecanismo de estabilização de preço via aumento e diminuição da quantidade de tokens e pagamento de juros aos fornecedores de lastro.

Essa iniciativa, que muitos consideram o começo do DeFi 2.0, teve uma hype muito grande no quarto trimestre de 2021, e fez com o que o valor do token lastreado fosse a mais de 10 vezes o valor do lastro, o que gerou até conversas e discussões se ele era ou não um caso de pirâmide financeira. Desde então o OHM caiu bastante de preço, mas continua significativamente acima do preço do 1:1 com o valor do lastro depositado.

Ele se intitula uma moeda de reserva descentralizada por não estar lastreada em uma moeda fiduciária. Ser descentralizada e transparente, mas com toda a recente volatilidade, fica difícil vê-la hoje como uma reserva de valor. Será assim para frente? A ver.

A verdade é que é um mecanismo muito interessante de se conseguir gerir liquidez. É também um dos poucos protocolos de DeFi que se utilizou de juros exponenciais, que é o padrão no Brasil, mas não para dólar, euro e outras moedas. E isso torna o experimento ainda mais interessante.

No caso do OlympusDao, daria para replicar o seu mecanismo no mercado financeiro tradicional? Até daria, mas imagina a dificuldade de criar mecanismos de pagamento de juros exponenciais em dólar, de vender um ativo com desconto para entrega futura (bonding) e de pagar juros para os investidores que aplicarem esse ativo contigo (staking), tudo 24/7, feito de qualquer lugar do mundo.

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Esses próximos trimestres prometem. E ver DeFi descolando dos produtos do mercado financeiro tradicional é um indicador de que a fase exponencial desse setor está começando. E para você que não entendeu ainda nem a parte relativa à replicação dos produtos do mercado financeiro tradicional em DeFi, meu conselho não poderia ser outro: corre!

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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