Se Mantega saísse na reforma ministerial, que ações você compraria?

Demissão do ministro nem vem sendo cogitada publicamente, mas, para ganhar dinheiro na Bolsa, é sempre importante avaliar e se preparar também para a concretização das hipóteses pouco prováveis
Por  João Sandrini
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(SÃO PAULO) – O governo federal promete realizar uma reforma ministerial bastante profunda entre janeiro e fevereiro. Os ministros que planejam ser candidatos nas próximas eleições deverão deixar seus cargos para começar a planejar a campanha. Dentro do PT, algumas mudanças esperadas são as saídas de Gleisi Hoffmann (Casa Civil, para disputar o governo do Paraná), Alexandre Padilha (Saúde, para o governo de São Paulo), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, para o governo de Minas Gerais) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais, para o Senado por Santa Catarina). A reforma deve incluir ainda ministros do PMDB e de outros partidos menores, totalizando cerca de 10 substituições.

Por ora, os jornalistas mais próximos do governo nem cogitam a possibilidade de substituição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Mas o retorno de Henrique Meirelles ao governo volta e meia é aventada em algum jornal ou revista com credibilidade. O que já foi dito é que Meirelles teria o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser ministro da Fazenda – o que oficialmente é sempre negado. Outra possibilidade é que Meirelles assuma o Ministério do Desenvolvimento com a saída de Fernando Pimentel.

Ainda que nada seja oficial e que Dilma não seja nenhuma fã de Meirelles, seu retorno poderia cair como uma luva para o governo. O mercado financeiro e a maioria dos empresários não confia em Mantega nem em Augustin, que perderam credibilidade com a deterioração das contas públicas, a contabilidade criativa e as seguidas manobras fiscais. Com a dupla no comando, os juros pagos pelos títulos públicos subiram, o dólar se valorizou, as expectativas de crescimento da economia azedaram, a inflação persiste em patamares elevados e o Brasil pode ser rebaixado pelas agências de “rating”. O custo de mantê-los no poder, portanto, é elevado – ainda que, para Dilma, ter no comando da economia pessoas de perfil mais gastador possa ser politicamente interessante às vésperas de uma eleição presidencial.

Mas considerando a hipótese ainda remota de que Mantega e Augustin sejam substituídos nas próximas semanas e que Meirelles ou outro nome de peso assuma o comando da economia, que investimentos poderiam se valorizar? Em primeiro lugar, os juros da dívida pública provavelmente cederiam. Os títulos do Tesouro de longo prazo pagam hoje mais de 13% (NTN-F) ou acima de IPCA mais 6,5% (NTN-B) e poderiam se valorizar rapidamente. Meirelles tenderia a ser visto como uma garantia de sustentabilidade da dívida pública, já que, dado seu histórico como presidente do Banco Central, poderia anunciar medidas ortodoxas, como, por exemplo, cortes de gastos, elevação da meta de superávit primário e defesa da autonomia do Banco Central.

Na Bolsa, o efeito também seria muito positivo. Ultimamente os grandes investidores andam meio de lado no mercado acionário devido à falta de confiança no governo. Apenas rumores da saída de Mantega já poderiam fazer com que o dinheiro que está em caixa, estacionado em investimentos indexados ao CDI, voltasse a ser aplicado em ativos de maior risco.

Mas quais ações seriam as mais beneficiadas? Em um primeiro momento, em que a troca de comando na equipe econômica ainda esteja apenas no campo das especulações, é provável que os investidores prefiram as “blue chips”. Papéis com maior liquidez permitem entrada e saída rápida – algo importante para fundos e grandes investidores, principalmente nessa fase de vazamento de balões de ensaio na mídia. Papéis como os da Petrobras poderiam disparar, já que Mantega é sabidamente um grande defensor do controle do preço dos combustíveis para evitar impactos na inflação. Itaú e Bradesco, os dois maiores bancos privados do país, também poderiam se beneficiar, já que, com Mantega no poder, o Banco do Brasil e principalmente a Caixa Econômica Federal foram usados para forçar uma queda dos juros e do spread bancário em todo o setor financeiro. Outra aposta que poderia ser interessante é a BM&FBovespa, que lucraria com o retorno dos investidores de calibre ao mercado acionário.

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Mas à medida que a substituição de Mantega por Meirelles fique mais evidente, aí a coisa mudaria de figura. Quem mais ganharia provavelmente seriam as ações de empresas endividadas, expostas ao dólar ou em situação complicada. Após anos de contínua deterioração da economia, há na Bolsa papéis com forte desconto sobre o valor patrimonial e negociadas com múltiplos bem baixos, mas que ninguém quer ter na carteira. Pelo contrário, papéis de empresas com essas características estão com taxas de aluguel elevadíssimas – um claro sinal de que os grandes investidores apostam, na verdade, na continuidade do movimento de desvalorização. Só para citar alguns exemplos, esse é o caso da maioria das incorporadoras do Ibovespa, da Oi, da Marfrig, da Eletropaulo, das (ex-)empresas de Eike Batista… Somente o fechamento das volumosas posições vendidas nesses papéis já provocaria um movimento quase vertical, já que juros menores no futuro e mais confiança dos agentes de mercado são fundamentais para a melhoria do desempenho dos ativos de risco.

Mas qual é a chance de Mantega cair? Sinceramente, não apostaria um centavo nisso agora. No entanto, a permanência do ministro num eventual segundo mandato de Dilma não parece fazer sentido. O preço pago por toda a sociedade pelas políticas equivocadas que vêm sendo adotadas desde 2010 é altíssimo. Um PIB estagnado não é bom para o governo (que perde arrecadação), para as empresas (que crescem menos em um ambiente mais desafiador) e para os trabalhadores (uma hora a fraqueza da economia afetará os índices de desemprego). Da mesma forma em que a chance de Mantega sair agora parece remota, sua manutenção após a abertura das urnas em outubro também é encarada como uma possibilidade baixa, na visão da maioria dos gestores de recursos.

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