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(SÃO PAULO) – Saiu nesta terça-feira o PIB do terceiro trimestre. A queda de 0,5% foi um pouco pior do que a média das expectativas dos analistas, mas uma pequena contração já era amplamente esperada. O que não deu para entender foi a entrevista concedida pela presidente Dilma Rousseff ao jornal espanhol El País publicada há uma semana. Dilma disse com todas as letras que o crescimento do PIB de 2012 seria revisado de 0,9% para 1,5%. Após ser criticada por ter acesso a números que ainda não eram públicos e divulgá-los, a Presidência da República, por meio do porta-voz Thomas Traumann, informou, no dia seguinte, que a previsão de crescimento de 1,5% era apenas uma estimativa do Ministério da Fazenda, e não um dado oficial do IBGE. Dilma definitivamente poderia ter se explicado melhor.
Mais grave do que isso é o fato de o IBGE ter revisado para baixo os resultados do PIB deste ano – algo que Dilma, se sabia, omitiu ao jornal espanhol. No primeiro trimestre, ao invés da alta de 0,6% anteriormente anunciada, a economia registrou crescimento zero. Já no segundo trimestre a expansão foi revisada de 1,5% para 1,8%. O somatório dos dois dados, portanto, é pior do que o anteriormente divulgado – e ajuda a derrubar a Bolsa nesta terça.
Mas esse não foi o único caso recente e emblemático que demonstra o baixo apreço do governo a valores como a transparência, a governança, a credibilidade e a reputação. A Petrobras informou no último dia 29 que reajustaria a gasolina em 4% e o diesel, em 8%. A nota da empresa também afirmou que seu conselho aprovou a implementação de uma política de preços, mas que, “por razões comerciais, os parâmetros de metodologia de precificação serão estritamente internos à companhia”. O sigilo em torno da política teve uma recepção péssima no mercado. As ações da empresa caíram 10% nesta segunda-feira, o que pode ser interpretado como um claro sinal de que ninguém acredita na implementação de uma metodologia que, enfim, resolva os problemas da estatal.
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Outro problema é que a empresa havia prometido, em fato relevante divulgado no dia 30 de outubro, que a nova metodologia contemplaria “reajuste automático de preço do diesel e da gasolina em periodicidade a ser definida antes de sua implementação, baseado em variáveis como o preço de referência desses derivados no mercado internacional, taxa de câmbio e ponderação associada à origem do derivado vendido, se refinado no Brasil ou importado. (…) Também está previsto mecanismo que impede o repasse da volatilidade dos preços internacionais ao consumidor doméstico.” À época, os papeis da estatal dispararam com a expectativa de volta da conta-petróleo.
Encerrada a novela, a pergunta que ficou no mercado é: o que realmente aconteceu? A Petrobras primeiro criou uma expectativa no mercado que não se materializou, gerando lucros para quem tinha as ações e as vendeu entre as duas reuniões do conselho. Tomada a decisão que contrariou essas expectativas, o papel voltou para um patamar parecido ao anterior a essa história toda. Nada mudou então? Não é bem assim. Se por um lado o investidor da Petrobras que tem perfil de longo prazo e planeja ficar anos com as ações da empresa praticamente não ganhou nem perdeu dinheiro, por outro o desfecho do negócio contribuiu para macular ainda mais a já manchada imagem da Petrobras no mercado. Basta verificar como a falta de transparência e governança, a ingerência do governo na estatal e a destruição de valor do patrimônio público foram tópicos que voltaram às manchetes.
Até mesmo teorias da conspiração pintaram por aí. Uma “lenda urbana” que ouvi ontem é que tudo foi armado para gerar caixa para a campanha do PT em 2014 ou para alguns de seus correligionários. O partido e os petistas teriam comprado ações da estatal antes da divulgação do primeiro fato relevante, lucrando alto com a promessa de metodologia para os preços, e depois teriam se desfeito dos papéis antes do choque de realidade da última sexta-feira. Seria um golpe melhor que o mensalão, já que ninguém espera que alguém seja punido por isso. Teoria de lunático? Quase certeza que sim. Procurada, a Petrobras com certeza negaria essa versão. Mas quando são as fontes oficiais que contribuem para a desinformação e cavam a cova da própria reputação, o que mais os investidores que perderam dinheiro com esse tipo de coisa poderiam enxergar além de uma sacanagem generalizada no mercado de capitais?