No meio do caminho da Petrobras tinha o governo, tinha o governo…
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SÃO PAULO – Entra trimestre, sai trimestre, mas os resultados da Petrobras (PETR3;PETR4) parecem indicar quase a mesma coisa: eles são apenas o reflexo do abismo entre o que a gigante brasileira poderia ser e o que é realmente.
Os números da companhia, mesmo apresentando melhora em relação aos esforços de programas de desinvestimento e de melhora em sua eficiência operacional, são quase ofuscados pelos dados altíssimos de endividamento. O lucro melhora, a receita aumenta, assim como a relação entre a dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), que saltou para 3,52 vezes e o patamar entre a dívida líquida e o patrimônio, que passou de 35% para 39%. No ano, o endividamento líquido passou de R$ 147 bilhões para R$ 221 bilhões.
Estes números foram destacados durante a teleconferência de resultados pela presidente da petrolífera, Graça Foster, que pretende reduzir estes números de endividamento para “patamares aceitáveis” dentro da empresa e para as agências de classificação de risco em 24 meses.
Porém, estes números não devem voltar para os patamares ideais caso não haja novos reajustes dos preços de combustíveis, estes os verdadeiros fatores de preocupação do mercado e que são os grandes vetores para a alta ou queda das ações. Desta vez, a falta de maiores novidades quanto a novos aumentos parecem ter sido o grande catalisador para a queda das ações após o balanço – os papéis PETR4 fecharam no menor nível desde 2008 na sessão pós-resultado; já as ações ordinárias (PETR3) atingiram a mínima desde 2005.
Graça indicou que pretende reduzir o endividamento, mas ainda está pouco claro como isso irá acontecer e se, caso haja novos reajustes, se eles serão suficientes para que levem a uma convergência de preços com o mercado internacional, o que reduziria as incertezas para a empresa. As contas da Petrobras são fortemente afetadas pelo preço dos combustíveis, uma vez que a estatal compra combustíveis no exterior e os revende a um valor muito mais baixo.
E, durante a teleconferência, Graça destacou trabalhar pela convergência, mas que só em 2015 o preço da gasolina será equiparado ao mercado externo. E este ponto é um que, mesmo com as sinalizações da presidente da companhia, ainda parece ser bastante difícil de prever, uma vez que o preço está sujeito ao controle do governo. As discussões sobre novos reajustes causaram atritos entre Graça Foster e a presidente da República, Dilma Rousseff, preocupada com a inflação no País.
Foster bem que tentou, após o balanço do terceiro trimestre de 2013, aumentar a previsibilidade de reajuste de combustíveis, mas acabou esbarrando nas intenções do governo de controlar os preços e do presidente do conselho de administração da empresa, nada menos do que o ministro da fazenda Guido Mantega. Com isso, as incertezas continuam, e até previsões conservadoras parecem se tornar otimistas demais.
Assim, como ressaltam os analistas do HSBC Luiz Carvalho e Filipe Gouveia em relatório de comentário de resultados, há uma “longa e pedregosa escadaria até o paraíso”, uma vez que as preocupações em foco continuam na intervenção governamental, apesar da companhia apresentar um excelente portfólio de ativos, equipe técnica competente e plena capacidade de atingir os objetivos de seu plano de negócios.
“A questão para nós é se o governo vai deixar a gestão da Petrobras agir como qualquer uma das outras cinco maiores empresas de energia do mundo já fazem. Esperamos que um senso de urgência do governo vai permitir à empresa ajustar preços domésticos dos combustíveis do seu modo. A potencial divergência poderia significar um longa e pedregosa escadaria”, destacam os analistas, remetendo-se à “Escadaria para o Paraíso” ou o “Caminho das estrelas” da música da banda de rock inglesa Led Zeppellin, Starway to Heaven, que fala sobre as dificuldades encontradas por uma moça em seu caminho, mas com a “esperança” sempre prevalecendo, o que pode sinalizar tanto o espírito de Graça Foster quanto o de acionistas da companhia.
Assim, entre referências artísticas, usamos também a referência do poema “No meio do caminho”, do autor modernista Carlos Drummond de Andrade, em meio às pedras em que a Petrobras enfrenta no seu caminho:
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.