A derrocada da Petrobras na bolsa, contada por um jornalista na pele de trader

Editor do InfoMoney acompanhou a derrocada da petrolífera na Bovespa ao lado de três operadores profissionais do mercado
Por  Thiago Salomão
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PORTO ALEGRE – A emblemática queda de quase 10% das ações da Petrobras (PETR3, PETR4) foi o grande destaque deste primeiro pregão de dezembro na Bovespa. Repercutindo o reajuste menor do que o esperado nos preços dos combustíveis, anunciado pelo Conselho de Administração da empresa na noite de sexta-feira (29), a estatal brasileira de petróleo teve sua maior queda diária na bolsa desde novembro de 2008, época do agravamento da crise do subprime dos EUA. É óbvio que a derrocada foi suficiente para instaurar um teor de pânico no noticiário econômico desta segunda-feira (2); no entanto, quem esse sentimento pessimista passou quase que despercebido para os operadores de mercado financeiro, que conseguiram se aproveitar do desabamento dos preços da Petrobras na BM&FBovespa.

Estive presente hoje no primeiro dia da 6ª Semana do Trader, realizado em Porto Alegre pela Leandro&Stormer, uma escola de cursos de mercado financeiro e uma das maiores comunidades de traders do Brasil. Ao longo desta semana, os “professores” da escola – Leandro Ruschel, Alexandre Wolwacz (Stormer) e Thiago Bisi – irão operar em tempo real na bolsa uma quantia de aproximadamente R$ 1 milhão, dividida igualmente entre os três, utilizando para as operações os “set ups” (planos de operação) lecionados por eles. E como não podia deixar de ser, a Petrobras foi a grande bola da vez, tendo sido operada por pelo menos mais de uma vez por cada um dos operadores ao longo do pregão. No final do dia, cada um dos três conseguiu obter um saldo positivo nas operações envolvendo as ações da petrolífera, beneficiando-se com “vendas a seco” com o papel PETR4 – a venda a seca é feita por quem aposta na queda de uma ação; a operação consiste em vender o ativo mesmo sem tê-lo em carteira e recompra-lo ainda no mesmo dia por um preço menor do que aquele visto no momento da venda, lucrando com a diferença das cotações.

Acompanho o mercado financeiro diariamente desde 12 de março de 2009, dia em que comecei a trabalhar no InfoMoney, e desde então já estudei muito sobre o assunto para elaboração de conteúdos para o site e a revista. Mesmo assim, seguir por um dia inteiro a movimentação da bolsa brasileira “na pele de um operador” foi uma experiência muito enriquecedora e reforçou aquele jargão tão clichê: tudo na vida depende do seu ponto de vista. Enquanto para muitos hoje pode ter sido visto como um dia ruim ou tenso na Bovespa, os traders conseguiram aproveitar bem as oportunidades que as ações da Petrobras abriram ao longo do dia. Tentarei compartilhar com vocês essa minha experiência.

Os “melhores momentos” da Petrobras
Abertura do pregão: apesar do lucro obtido com a aposta na queda das ações, a primeira operação registrada por um deles envolveu a compra de Petrobras, realizada por Bisi e por Ruschel nos minutos iniciais do pregão. Na ocasião, o papel preferencial da petrolífera abriu o dia a R$ 17,86 – queda de mais de 6,5% em relação ao fechamento anterior (R$ 19,13) –, chegou a estender as perdas para R$ 17,75 instantes após a abertura, mas em menos de 10 minutos subiu para R$ 18,07 – uma alta de 1,8% nesse breve período –, alimentando a expectativa de um repique positivo da ação. No entanto, os papéis voltaram para pouco abaixo dos R$ 18,00 e por lá ficou sem muita volatilidade até 12h15 – minutos antes da abertura da bolsa dos Estados Unidos. Chegando às 12h30, o mercado em Wall Street abriu e junto com ele as ações da Petrobras consolidaram um movimento negativo. Resultado: tanto Ruschel quanto Bisi foram “stopados” (tiveram suas ordens de stop loss acionadas) com perdas.

13h: a ação PN da Petrobras já era cotada abaixo de R$ 17,80 e os operadores estudavam uma nova operação com o papel, agora na ponta vendedora. Até às 13h30, os dois operadores que haviam perdido no primeiro trade com Petro, juntamente com Stormer, montaram posições de venda a seco em PETR4. A partir daí, os papéis da estatal foram gradualmente intensificando as perdas, e a medida que eles caíam o trio posicionava o “stop loss” cada vez mais abaixo do preço de entrada na operação, garantindo assim o resultado positivo do trade caso a ação se recuperasse – o que de fato não aconteceu.

14h40: ação da Petrobras vai para perto de R$ 17,55 e queda supera a faixa dos 8%; Stormer ajusta seu stop loss para R$ 17,60 (ele entrou na operação perto de US$ 17,72).

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15h10: PETR4 perde a região dos R$ 17,50. Bisi lembra que no começo do dia o livro de ofertas de PETR4 mostrava que havia cerca de 800 mil ofertas de compra neste valor. “Geralmente, o mercado vê isso como um convite para testar a força compradora”, disse o operador.

15h30: o “teste” da força dos compradores foi feito e eles conseguiram mostrar um bom resultado entre 15h15 e 15h35 – o que levou inclusive a acionar o stop gain (similar ao stop loss, mas utilizado para zerar uma operação com resultado positivo) de Stormer e Bisi.

16h40: quando parecia que o cenário da Petrobras não podia piorar, a ação acentuou suas perdas nos 20 minutos finais da Bovespa. “Do jeito que ela não está conseguindo mostrar um repique forte, tudo sinaliza para a Petrobras fechar o pregão na mínima do dia”, adiantou Ruschel, embora ele não tenha montado uma nova operação de venda com a ação. E não deu outra: PETR4 fechou o pregão a R$ 17,36, um centavo acima do menor patamar do dia, alcançado antes do leilão de fechamento da bolsa.

Thiago Salomão Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers

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