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Presidentes: amados ou odiados?

Historicamente, podemos observar alguns padrões no modo como a população enxerga o seu principal governante, o Presidente da República
Por  Felipe Berenguer
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

O fim de ano se aproxima e, com ele, o encerramento de mais um ciclo na história do Brasil e do mundo. No cenário político, o clima é de reta final para as festas já que, em duas semanas, se inicia o recesso parlamentar.

Nesse ritmo, resolvi reservar algumas colunas para traçar balanços importantes da política doméstica. Ainda não há um número de artigos definido, mas pretendo fazer, no mínimo, uma retrospectiva política de 2018, um fechamento do governo Temer e uma análise sobre a aprovação e reprovação dos presidentes pós-redemocratização. Hoje, começarei pela avaliação: afinal, o que podemos aprender da crítica da população?

Disclaimer: como estamos falando do futuro e – ainda mais ­– por se tratar do Brasil, não se surpreenda se semana que vem o tema for completamente adverso à essa linha de retrospectivas.

Vox Populi, Vox Dei

Historicamente, podemos observar alguns padrões no modo como a população enxerga o seu principal governante, o Presidente da República. Para isso, usei dois gráficos elaborados pelo Ibope, com as séries históricas da porcentagem de avaliação de governo em ótimo/bom e também em ruim/péssimo. Não necessariamente a soma das porcentagens resultará em 100%, uma vez que as avaliações neutras ou descartadas (não soube opinar) não são consideradas. No entanto, fica claro que existe certa correlação entre os gráficos: períodos de altas avaliações positivas denotam também baixa porcentagem de avaliação ruim ou péssima do governo, e vice-versa.

O primeiro padrão é identificável na alternância de poder. É possível destacar um claro aumento da avaliação em ótimo/bom do governo assim que novos presidentes assumem – os casos mais acentuados são de Sarney para Collor e de FHC para Lula. O inverso também se demonstra verdadeiro: com alternância na presidência, a avaliação em ruim/péssimo tende a diminuir.

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O segundo padrão diz respeito às crises políticas e à falta de respaldo popular: dos presidentes diretamente eleitos, somente Collor, Itamar e Dilma Rousseff tiveram o patamar ótimo/bom na casa dos 15%. Collor e Dilma foram impeachados pois também colecionavam os recordes de avaliação negativa, bastando qualquer faísca política e crime de responsabilidade para os parlamentares articularem a destituição do presidente. No caso do pior momento do governo Itamar, sua avaliação de governo em ruim ou péssima não ultrapassou os 40%, salvando-o de maiores complicações.

O terceiro e último padrão se refere às crises econômicas e seu poder de corroer a popularidade de um governo. Baseando-se no fato de que o eleitor altera seu comportamento de acordo com sua expectativa de felicidade e que a expectativa de felicidade está diretamente ligada à sua situação financeira, crises econômicas são fatores determinantes para quedas bruscas nos indicadores. É o caso da desvalorização do real, em 1999, e da política fiscal irresponsável dos governos Dilma I e, principalmente (com o estouro da crise), do governo Dilma II.

O recordista

Ironicamente, durante todo o período da Nova República, quem obteve o melhor desempenho na avaliação foi o ex-presidente Lula, hoje condenado e preso por corrupção em seu governo. O petista terminou seu segundo mandato superando episódios como o Mensalão, com aproximadamente 80% de classificação “ótimo” ou “bom” e perto de míseros 5% de “ruim” ou “péssimo”. O diagnóstico de governo reforça a importância da economia na avaliação do presidente, uma vez que esses tempos eram de grande pujança econômica para quase todos os setores da sociedade, tendo pouco efeito as crises políticas ocorridas no Lula I e II.

Para se ter dimensão do feito, tal fato lhe deu capital político suficiente para eleger sua sucessora, Dilma. Certamente, se os escândalos que o condenaram tivessem sido escancarados antes, a história seria outra.

O ponto fora da curva

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O que chama atenção nas séries históricas é o desempenho bastante negativo do presidente empossado Michel Temer. O então vice-presidente de Dilma Rousseff assumiu o comando do governo após sua companheira de chapa ser afastada e impeachada do cargo. Obviamente, seu governo se formou em meio a um caos político e forte recessão econômica, refletindo na altíssima avaliação negativa e quase nula avaliação positiva.

Vale lembrar que Temer só não caiu após o fatídico Joesley Day porque foi convencido de não renunciar e enfrentar a crise, e também porque o Congresso não autorizou o prosseguimento da denúncia feita pela Procuradoria Geral da República contra o presidente.

Um novo ciclo

Para fechar, é de se esperar que Jair Bolsonaro comece com uma boa avaliação de governo neste primeiro ano. Sabendo e usando desse seu capital político, pode até aumentá-lo se surfar na onda da retomada de crescimento econômico. Agendas tidas como impopulares não são suficientes para provocarem grandes quedas na popularidade, apenas pequenas oscilações.

É claro que não existe fórmula mágica, mas os ventos sopram a favor do militar que – a não ser que tenha outros planos muito nobres – sonha em uma possível reeleição.

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