As ‘leis imutáveis’ que os EUA enfrentam com a política econômica de Trump

Os EUA enfrentam essas regras inalteráveis ao buscar reduzir rapidamente os déficits comerciais

Axel Christensen

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Existem regras ou princípios geralmente considerados inalteráveis devido à sua natureza fundamental, tanto na ciência (como a conservação da energia) quanto no comportamento humano (como o equilíbrio de Nash). Essas regras são conhecidas como leis imutáveis, e as vimos em ação recentemente, afetando as medidas de política econômica dos EUA.

É importante reconhecer que mega forças, como a fragmentação geopolítica e a inteligência artificial, estão transformando o mundo de maneira estrutural e de longo prazo. Prever o estado final de uma transformação é quase impossível, agravado agora por negociações comerciais imprevisíveis. No entanto, o processo de formulação de políticas econômicas nos EUA enfrenta leis econômicas imutáveis, que impõem limites ao que é possível.

Assim, os EUA têm grandes déficits fiscais e uma elevada dívida governamental, da qual aproximadamente 30% está nas mãos de estrangeiros, segundo dados do Federal Reserve. Aqui se aplica uma lei imutável: o déficit em conta corrente não pode ser reduzido sem uma queda correspondente no financiamento estrangeiro. Ao tentar reduzir rapidamente o déficit comercial, os EUA encontrarão mais dificuldade em financiar sua dívida, especialmente se as negociações tarifárias imprevisíveis afetarem a confiança dos investidores estrangeiros. Isso indica que as taxas dos títulos do Tesouro dos EUA permanecerão mais altas e, com isso, os custos de serviço da dívida aumentarão, complicando ainda mais a já complexa aritmética orçamentária.

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Outra lei imutável em ação é a que indica que as cadeias de suprimento globais podem evoluir com o tempo, mas não podem ser reconfiguradas rapidamente sem graves disrupções. As tarifas não apenas aumentam os custos, como também podem restringir o acesso a insumos-chave e potencialmente interromper a produção. Isso gera o risco de uma desaceleração do crescimento ou até mesmo de uma recessão com alta inflação, como na pandemia, limitando qualquer margem de resposta do Federal Reserve.

Os EUA enfrentam essas regras inalteráveis ao buscar reduzir rapidamente os déficits comerciais. Isso parece já ter ocorrido com a recente venda acelerada de títulos do Tesouro e com as isenções tarifárias para artigos eletrônicos importados da China, a fim de evitar as interrupções mais óbvias nas cadeias de suprimento. Utilizar o referencial das leis econômicas imutáveis ajuda a avaliar onde as negociações comerciais podem se estabilizar e permite antecipar uma possível redução da incerteza em um horizonte de seis a doze meses.

No entanto, muitas perguntas permanecem sobre os danos que as tarifas podem causar, mesmo que o efeito vinculante das regras econômicas indique que levará tempo para desarraigar as relações comerciais atuais. Para avaliar quanto tempo o impacto pode durar, é necessário monitorar indicadores como os planos de investimento de capital, a confiança do consumidor e o tráfego portuário. Também é preciso buscar sinais de pressão nas empresas em seus relatórios de lucros, como mudanças nas cadeias de suprimento ou na capacidade de repassar custos mais altos aos clientes. Isso permitirá determinar quanto do dano é transitório e quanto é mais permanente.

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Axel Christensen

Estrategista-chefe da BlackRock para América Latina