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No começo de 2025, quando falei publicamente sobre o que chamei de “A Oportunidade da Década” (inclusive com uma matéria que saiu no InfoMoney neste link), o mercado ainda parecia anestesiado. O noticiário era dominado por incertezas políticas, juros altos, desconfiança do investidor estrangeiro e um pessimismo generalizado sobre o crescimento do país.
Ainda assim, os sinais estavam ali, visíveis para quem tivesse a paciência de olhar além do ruído. O ciclo anterior de alta havia se esgotado em 2021, os preços estavam comprimidos, o câmbio em patamar alto, mas começando a se desvalorizar, e, principalmente, a perspectiva de inflação futura começava a ceder, segundo o relatório Focus. Tudo isso compunha um cenário clássico de reprecificação positiva.
O que eu disse na época era simples: o Brasil estava prestes a viver um novo ciclo de valorização estrutural na Bolsa, e quem conseguisse enxergar isso antes do consenso teria diante de si a melhor janela de oportunidade da década.
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O início da tese: o mercado precifica o futuro, não o presente
A tese não nasceu de otimismo. Nasceu da observação de que os grandes movimentos de preço na história da Bolsa brasileira sempre começaram quando as manchetes ainda eram negativas.
Em 2002, por exemplo, o Ibovespa subiu 145% entre o pânico eleitoral e a confirmação de uma política econômica previsível. Em 2016, em meio à recessão e crise política, o índice iniciou um dos ciclos mais fortes da história recente.
O ponto comum em ambos os casos é o mesmo: o mercado não espera as condições perfeitas, ele as antecipa.
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E 2025 apresentava exatamente esse desenho: uma economia patinando, inflação começando a recuar, e um valuation comprimido que colocava o Brasil entre os mercados mais baratos do mundo. Era o tipo de contexto que sempre precedeu uma grande virada.
A maior perna da década e o despertar dos setores esquecidos
Meses depois, a tese começou a se confirmar. O Ibovespa engatou uma alta superior a 27%, igualando o maior movimento de alta da última década, registrado em 2023. Mas, diferentemente daquele momento, agora o avanço não veio de uma única força, e sim de um leque mais amplo de setores.
O que vimos foi um renascimento cíclico. Empresas de varejo, que haviam sido massacradas pela alta de juros, voltaram a respirar. Algumas empresas, como Aura, Cogna e Lavvi dobraram de valor em 12 meses. Setores de construção e consumo começaram a reagir. O setor elétrico se manteve resiliente. E até papéis de pequenas e médias empresas, que haviam sido deixados de lado, começaram a mostrar força.
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Esse tipo de movimento amplo não é comum em mercados frágeis. Ele sinaliza que o capital está voltando a buscar risco, e que o investidor institucional começa a ajustar posições de médio prazo.
É o típico início de ciclo, quando o preço começa a se mover antes do sentimento.
O que ainda não aconteceu e por que o melhor ainda pode estar à frente
E é aqui que a história fica interessante. Tudo o que vimos até agora é, possivelmente, só a primeira etapa do ciclo. Alguns dos pilares centrais que sustentam a tese ainda nem se concretizaram.
1. O ciclo de queda de juros ainda não começou.
A Selic continua alta, mesmo com a inflação em clara trajetória de queda. É muito provável que, a partir do início de 2026, o Banco Central seja pressionado a retomar cortes, e, quando isso acontecer, o impacto sobre o fluxo para a renda variável será imediato. Historicamente, cada ciclo de afrouxamento monetário no Brasil é acompanhado por um rali expressivo na Bolsa, pois as empresas alavancadas respiram, o custo de capital cai e os múltiplos se expandem.
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2. O rali eleitoral ainda não começou.
A incerteza sobre os candidatos e a indefinição do cenário político têm mantido o investidor em compasso de espera. Mas, se há algo que se repete em todos os ciclos eleitorais, é que o mercado sempre antecipa o resultado provável. A cada novo sinal de estabilidade, a precificação se ajusta para cima. O rali eleitoral costuma ser um dos movimentos mais potentes da década em termos de fluxo.
3. O fluxo estrangeiro ainda é tímido diante do potencial.
O dinheiro gringo voltou, mas em ritmo menor do que o esperado. Parte desse comportamento se explica pelo cenário americano: juros elevados e incerteza sobre o Fed têm mantido o capital preso em ativos de curto prazo nos EUA.
Contudo, a indefinição por lá pode se tornar um catalisador para cá. Se a economia americana desacelerar e o dólar global continuar perdendo fôlego, o Brasil tende a ser um dos maiores beneficiários. Nosso diferencial de juros, aliado à estabilidade cambial e valuations baixos, cria uma combinação difícil de ignorar.
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Por que o Ibovespa a 200 mil pontos não é utopia
Falar em 200 mil pontos pode soar como projeção ousada, mas é apenas uma questão de proporção histórica. Em todos os grandes ciclos de valorização, o índice multiplicou-se entre 2 e 3 vezes a partir do fundo anterior. Se aplicarmos essa mesma métrica ao ciclo atual, chegar aos 200 mil pontos não é sonho, é estatística.
Além disso, há fatores técnicos que sustentam o cenário. O Ibovespa rompeu estruturas de longo prazo e consolidou uma tendência de alta com fundamentos consistentes: lucros em recuperação, desalavancagem corporativa, e uma relação preço/lucro ainda muito abaixo da média histórica. Setores como energia, bancos e commodities continuam sólidos, enquanto o varejo, tecnologia e construção ainda têm muito espaço para retomar o terreno perdido.
O mercado de capitais brasileiro também amadureceu. Hoje temos mais investidores pessoa física, fundos estruturados e acesso digital do que em qualquer outro ciclo anterior. Isso amplia a profundidade do movimento e reduz a volatilidade relativa.
Portanto, o Ibovespa a 200 mil pontos não é um número mágico. É a continuação lógica de um processo que já começou.
A década ainda não acabou
Quando chamei este momento de A Oportunidade da Década, o que eu queria dizer é que o mercado, de tempos em tempos, oferece janelas raras. Elas surgem quando o medo ainda domina, mas os fundamentos começam a mudar silenciosamente. Foi assim em 2002. Foi assim em 2016. E está sendo assim agora.
O primeiro grande movimento já aconteceu. A maior perna da década foi feita. Mas quem entende de ciclos sabe que é o segundo movimento que faz a diferença, aquele em que o mercado deixa de precificar apenas esperança e começa a precificar crescimento real.
Por isso, para mim, a Oportunidade da Década não ficou para trás. Ela está diante de nós, viva, pulsante, à espera de quem tem clareza, controle e consistência para atravessá-la.
O Ibovespa ainda tem chão. E o investidor que souber enxergar isso com método e paciência, não com euforia, estará do lado certo da história.