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“V” de vagareza

Em condições normais, a indústria de transformação lideraria o ciclo econômico e a recuperação dos últimos meses seria motivo de otimismo. Contudo, a dinâmica da atual recessão é distinta, com peso bem maior do setor de serviços por razões sanitárias. Nesse contexto é difícil acreditar retorno rápido ao nível de atividade observado no final de 2019
Por  Alexandre Schwartsman -
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Os últimos números da atividade industrial foram alentadores. Depois da forte queda no bimestre março-abril, a produção da indústria de transformação cresceu de forma ininterrupta no trimestre maio-julho.

Muito embora ela ainda se encontre algo como 6,5% abaixo dos níveis observados no começo do ano, pode atingir os níveis pré-crise nos próximos meses, mesmo que não mantenha o ritmo recente.

Em condições normais, a recuperação do setor industrial seria motivo para otimismo no que diz respeito à economia como um todo.

De fato, tanto nas recessões como nas recuperações dos últimos 25 anos, a indústria de transformação revelou-se tipicamente não apenas mais volátil do que o PIB, como também do que o setor de serviços, sugerindo a liderança do ciclo econômico.

Mesmo dando o desconto devido às dificuldades de mensuração de serviços, a verdade é que quase sempre a indústria cai, durante a recessão, mais rapidamente que aquele setor (que, por vezes, sequer se retrai no período) e também se recupera de maneira mais vigorosa.

Diga-se, aliás, que a fraqueza relativa do setor industrial entre 2017 e 2019 foi um dos sintomas mais marcantes da incapacidade de a economia brasileira voltar aos patamares vigentes no começo de 2014.

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Com base, portanto, nessa experiência, naturalmente saudaríamos o crescimento industrial dos últimos meses como evidência de uma recuperação em “V”, capaz de nos levar aos níveis de atividade observados no final do ano passado e começo deste ano em prazo relativamente curto.

Não vivemos, porém, em tempos normais.

Embora a queda do produto industrial tenha sido mais abrupta que a dos serviços (19% contra pouco menos de 12%), há motivos para crer que – ao contrário do registrado em ciclos anteriores – a recuperação industrial dificilmente trará os serviços a reboque, pelo menos até debelarmos a crise sanitária.

De fato, as maiores quedas registradas nesse setor (comércio, transportes e outros serviços) ocorreram em segmentos em que há necessidade de interação próxima, portanto em conflito com o distanciamento social requerido para moderar a transmissão do coronavírus, ainda que muitos pareçam ter se esquecido do assunto.

Note-se, a propósito, que tais segmentos representavam no ano passado perto de 50% do valor adicionado no setor de serviços, ou cerca de 30% do PIB.

Já do ponto de vista do emprego, somavam em fevereiro (em termos dessazonalizados) algo como 40 milhões de postos de trabalho, ou seja, 42% da ocupação observada naquele mês (94 milhões).

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Isso dito, quase dois terços da redução do emprego registrada entre fevereiro e junho concentrou-se precisamente lá (7 milhões de uma perda total de 10,7 milhões).

Posto de outra forma, na ausência de vacinas ou outras formas de tratamento, o distanciamento social, ainda que enfraquecido, deve impedir o retorno rápido aos níveis de atividade prevalecentes pré-pandemia, seja pela perspectiva da produção (ou seja, o PIB), seja pela do emprego.

Espero, a bem da verdade, forte expansão do PIB no terceiro trimestre deste ano, mas que ainda nos deixaria 6-7% abaixo do registrado no final de 2019. O retorno àquele nível deve demandar, portanto, mais dois ou três trimestres, ou seja, em algum momento na primeira metade de 2021.

Isto dito, mesmo considerando o baixo crescimento do produto potencial, dificilmente voltaremos à tendência pré-crise antes do final daquele ano.

A recuperação em “V” é mais um desejo do que uma possibilidade concreta.

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Alexandre Schwartsman Alexandre Schwartsman foi diretor de assuntos internacionais do Banco Central e economista-chefe dos bancos ABN Amro e Santander. Hoje, comanda a consultoria econômica Schwartsman & Associados. Formou-se em administração pela Fundação Getulio Vargas, fez mestrado em economia na Universidade de São Paulo e doutorado em economia na Universidade da Califórnia em Berkeley.

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