Precisa ser rico para falar de finanças?

Como leciono finanças, não muito raro os alunos questionam se sou muito rico para falar sobre investimentos, orçamento, financiamentos ou até mesmo para uma breve análise de mercado.
Por  Eli Borochovicius
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A esse tipo de pergunta considero responder, muitas vezes, com sarcasmo, mas a razão supera a emoção e como vivemos no mundo do politicamente correto, acabo sendo gentil e faço uma enorme explanação fundamentada em autores de prestígio e resultados de mercado.

Como esse texto é para reflexão, optei por abrir o meu coração, deixar a politicagem de lado e dizer o que gostaria de responder de fato a esse tipo de pergunta.

Você se aconselharia sobre um problema de saúde com algum médico que fica doente?

Não é porque se trata de um profissional da saúde, que esteja imune às doenças. Teoricamente todo médico ao se formar em medicina, tem plena capacidade de clinicar, embora cada um busque a sua especialidade.

Em finanças, a analogia me parece razoável. Não é porque estudo finanças que estou imune às fatalidades políticas, econômicas e sociais.

Assim como nas especialidades médicas, nas finanças existem aqueles que se especializam em controladoria, outros em operações de tesouraria, seguros, previdência, câmbio, mercado de crédito, acionário, os que conhecem mais derivativos e aqueles que aprofundam seus conhecimentos em agro, apenas para exemplificar.

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Na medicina, existem aqueles que montam consultórios enormes – cuja antessala mais parece uma sala presidencial – e trabalham com equipes gigantescas nas grandes metrópoles, assim como existem aqueles médicos que atuam em cidades menores, mais pacatas e optaram por uma vida mais simples, ganhando menos. Seu padrão de riqueza não está diretamente relacionado com a sua capacidade intelectual, tampouco com a probabilidade de adoecer, mas sim com o padrão de vida que escolheu para si.

Resposta à pergunta inicial: Já viu algum professor nesse país ficar rico?

Acordo todos os dias cheio de energia. Tomo o meu café da manhã com a minha família. Levo e busco filhos da escola. Encontro meus alunos, ávidos pelo conhecimento e troca de experiências em sala de aula, encontro os meus pares, sempre pensantes, passo o dia sorridente, com aquela alegria contagiante, sem stress.

Termino o semestre certo de que fiz o meu melhor. Tenho plena convicção de que depois nos nossos encontros, muitos desses jovens serão pessoas brilhantes em suas relações familiares, matrimoniais e profissionais.

Minha felicidade é o reconhecimento do meu trabalho, é ver esses jovens crescendo, desenvolvendo-se, rompendo barreiras, alcançando os seus objetivos, sentindo-se vitoriosos.

Pensando bem, se eu vendesse essa minha felicidade, possivelmente eu seria muito, mas muito rico mesmo. Como felicidade não é patrimônio líquido, afirmo categoricamente que não, definitivamente não sou rico, apenas vivo a vida que escolhi.

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Tenho as minhas pequenas reservas financeiras e muitas vezes preciso priorizar a reforma da casa ou a viagem ao exterior. As duas coisas infelizmente não cabem no bolso.

De qualquer forma, sinto-me bem confortável ao versar sobre política, economia e finanças, independentemente da minha conta bancária estar mais ou menos recheada, afinal de contas, capacidade intelectual não está diretamente relacionada ao padrão de riqueza.

Eli Borochovicius Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas

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