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SÃO PAULO – Há duas semanas falei aqui que “Em Ritmo de Fuga” era o melhor film deste ano. Não mudo minha opinião sobre o que achei do longa de Edgar Wright, mas “Dunkirk”, que estreia nesta quinta-feira (27) no Brasil agora está junto na lista de filmes imperdíveis de 2017. Ainda faltam 5 meses para o ano acabar, mas já é possível listar algumas várias categorias que o longa sobre a guerra irá disputar no Oscar.
“Dunkirk” é dirigido por Christopher Nolan, que se tornou um dos diretores mais conhecidos do mundo nos últimos anos, principalmente após a trilogia do Cavaleiro das Trevas. Mas sua obra nem sempre foi unanimidade: suas produções são sucessos de bilheteria, mas seu estilo tem sérios problemas. E neste novo filme, ele consegue entregar seu melhor trabalho, mesmo que insista em certas manias.
Mesmo trabalhando com Batman, viagens por sonhos ou outras dimensões, Nolan ficou conhecido por tentar sempre entregar algo mais realista, fugindo do tom de fantasia e ficção que estes temas são. Mas é neste estilo mais frio e distante que está um dos grandes méritos de “Dunkirk”. Sem romantizar a guerra, ele consegue mostrar o sofrimento, a dor e a realidade por trás do conflito.
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O diretor foge daquela narrativa visual no estilo “O Resgate do Soldado Ryan” e outras produções sobre a guerra, onde temos sangue e vísceras jogadas pela tela, mas usando um clima de tensão, com uma edição de som impecável, Nolan entrega o pior do combate de forma que não costumamos ver no cinema.
O som, diga-se de passagem, é um dos pontos altos da produção, colocando o espectador no meio de tudo, assustado com a realidade do que é apresentado. A fotografia e a edição também são destaque, com uma narrativa não-linear que separa os acontecimentos em três linhas e locais diferentes.
Nolan separa a história em três momentos: dois jovens soldados tentando fugir de Dunkirk durante uma semana; uma família usa seu barco para ajudar no resgate dos soldados, um dia antes da evacuação; e soldados da Força Aérea Real Britânica com uma hora para proteger os evacuados. Com essa montagem, o diretor entrega emoção e tensão durante o filme inteiro, sem confundir o espectador e mostrando todos os ângulos daquele momento histórico.
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A forma como tudo é dirigido e apresentado acaba tirando o protagonismo dos personagens, mas não afasta o espectador. Isso porque não tem como não se solidarizar com aquelas pessoas e sofrer junto com elas para ver qual será seu destino. A proximidade criada é tanta, que mesmo quando vemos os figurantes morremos, sabemos que aquilo aconteceu, e isso nos toca tanto quanto se fosse o personagem principal.
Por falar nos personagens, “Dunkirk” não chega a ter um grande destaque, mas não tem como falar de Fionn Whitehead, que lidera boa parte da trama, e Harry Styles, que ganhou fama por fazer parte do grupo One Direction. Sem muitas falas, os atores conseguem entregar o sofrimento e levar ao espectador os dramas de um dos momentos mais históricos da Segunda Guerra Mundial.
Nolan insiste em algumas marcas de seus filmes, como querer ficar explicando tudo para quem está assistindo. “Dunkirk” é incrível, mas não deixa de incomodar quando os personagens precisam reforçar seus dramas ou precisam falar que estão sem tempo para fugir. Mas nada supera uma cena em que um grupo de soldados debate a realidade da guerra e as injustiças que o combate trouxe.
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“Dunkirk” com certeza é um dos melhores filmes do ano e já garantiu sua vaga no Oscar. Nolan consegue mostrar a guerra de uma forma que poucas pessoas conseguem e entregou seu melhor trabalho até hoje. Mais que imperdível, este filme é uma bela aula de cinema.