Boa surpresa, filme sobre o Plano Real supera problemas, mas perde a chance de ser memorável

"Real - O Plano por Trás da História" evita linguagem difícil, mas torna trama superficial e que não arrisca em mostrar o todo da história

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Um filme sobre a criação do Real já é, logo de cara, um grande desafio – seja para conseguir contar a história sem se tornar chata e cansativa, ou mesmo por conta do viés político que a trama poderia tomar -, mas o primeiro trailer de “Real – O Plano por Trás da História” fazia o longa dirigido por Rodrigo Bittencourt parece mais um “clichezão” econômico cheio de bordões e piadas.

Porém, o filme que estreia nesta quinta-feira (25) mostra que consegue ser muito mais que estes esteriótipos e supera boa parte dos riscos que poderia ter. Nem por isso o longa evita alguns problemas, principalmente em sua primeira parte, com diálogos que soam como falsos e com situações que distanciam o espectador da realidade que a obra pretende passar.

A trama, baseada no livro de Guilherme Fiuza “3.000 dias no bunker”, mostra a criação e execução do Plano Real com o economista Gustavo Franco (Emílio Orciollo Netto) como protagonista. O filme mostra ainda a atuação de grandes nomes da política como Fernando Henrique Cardoso (Norival Rizzo), Itamar Franco (Bemvindo Sequeira), Pedro Malan (Tato Gabus Mendes), Pérsio Arida (Guilherme Weber), entre outros.

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Bittencourt consegue evitar politizar demais o filme, tirando qualquer possibilidade de “endeuzar” alguns dos nomes que fazem parte desta história. Mas o maior perigo da trama está exatamente em acompanhar Franco, um homem com uma visão bastante única e polêmica sobre o País, o que tem levado o longa a ser taxado como “de direita”.

Mesmo assim, é possível identificar que esta visão é do personagem e não exatamente a do filme em si. Questionado em entrevista coletiva sobre essa politização Netto reforçou essa ideia de que isso era necessário para se contar a história, mas que ele mesmo tem uma visão política “completamente oposta” do economista.

Por outro lado, o grande foco em Franco tira de outros personagens qualquer chance de se destacarem. Alguns acabam se tornando grandes clichês, como é o caso do presidente Itamar Franco, enquanto outros, como FHC acabam deixados de escanteio, aparecendo apenas em pontos-chave para lembrar-nos de sua importância na história.

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A duração do filme se mostra outro ponto bastante acertado. Com cerca de uma hora e meia, “Real” consegue trazer os fatos de forma rápida e direta, sem se enrolar em termos econômicos ou tornar a história cansativa. Para quem espera detalhes sobre aquela época, talvez se decepcione, mas para quem não lembra ou mesmo não sabe o que foi tudo aquilo, o filme é um prato cheio.

“Real – O Plano por Trás da História” tinha tudo para se um fracasso, mas consegue evitar os maiores problemas, mesmo que isso tire do filme a chance de entrar para lista de obras memoráveis do cinema nacional. É um filme que merece ser visto, até porque foge da típica comédia brasileira e traz um gênero pouco visto por aqui, mas que será logo esquecido.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.