Cielo toma mais um golpe na Bolsa e XP Investimentos reduz preço-alvo da ação

Cenário de maior competitividade após uma série de iniciativas da Rede está minando a lucratividade da companhia

Ricardo Bomfim

Prédio da Cielo

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SÃO PAULO – A ação da Cielo (CIEL3) voltou a ficar no negativo nesta terça-feira (28) após cair 4,35% na véspera por conta da mudança nas projeções de lucro para os próximos anos. Hoje, diante de todas as notícias do setor, que não são nada boas para a empresa, o analista André Martins, da XP Investimentos, decidiu reduzir o preço-alvo do papel para R$ 7,00, praticamente em linha com a cotação de R$ 7,10 em que o papel chegou a ser negociado nesta sessão. A recomendação para os ativos segue neutra.

Segundo Martins, o segmento de atuação da Cielo, que é o serviço de adquirência, está com uma dinâmica mais competitiva e tornou-se algo “commoditizado” (mais simples, com menor valor agregado). Por causa disso, os preços vem sendo cortados agressivamente pelos incumbentes para reter clientes em suas plataformas.

“Nesse contexto, vemos os acionistas de adquirentes puras, como a Cielo, em uma posição de risco, já que o segmento sozinho não é tão relevante para os bancos e é bastante desafiador avaliar qual é o limite para cortes de preços a fim de proteger a participação de mercado”, afirma o analista. 

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Em maio, as ações da Cielo já caem 5,9% pressionadas pela ofensiva da Rede, que no início do mês anunciou uma nova rodada de cortes nas taxas em meio à guerra das maquininhas. O MDR, que é a taxa cobrada por transação nas maquininhas, passou a 1,99% no débito e 3,49% no crédito à vista para clientes com faturamento de até R$ 10 mil por mês. 

O Itaú Unibanco (ITUB4), dono da Rede, anunciou ainda que irá isentar lojistas clientes de tarifas sobre a transferência de recursos para contas em outros bancos. Antes disso, a Rede já havia divulgado que faria uma política de taxa zero para a antecipação de recebíveis entre clientes da empresa com domicílio bancário no Itaú e faturamento de até R$ 30 milhões anuais. 

 De acordo com o analista da XP, a Cielo, neste cenário, decidiu não seguir as condições propostas e reforçou seu compromisso de prestar serviços a um custo total competitivo. “Essa iniciativa impactará profundamente o potencial de lucros do setor e eventualmente levará os players, inclusive a Cielo, a convergir para a nova referência mais baixa, a fim de evitar maiores perdas de participação de mercado”, comenta. 

Na última sexta (28), a companhia anunciou uma redução de dividendos de R$ 3,5 bilhões fixos em 2018, para 30% do lucro líquido nos próximos três trimestres de 2019. Em comunicado ao mercado, a companhia também anunciou que não seguirá com seu guidance (projeção) de lucro de R$ 2,3 a R$ 2,6 bilhões este ano. “Tais decisões refletem o ambiente competitivo no qual a Cielo está inserida e que tem se tornado mais acirrado ao longo dos últimos meses em face de ações anunciadas e implementadas por outras companhias do setor”, justificou a empresa.

Diante dessas informações, a XP reduziu suas projeções de lucro líquido de R$ 2,6 bilhões para R$ 2 bilhões (queda de 23%) em 2019 e de R$ 2,7 bilhões para R$ 1,8 bilhão em 2020 (corte de 33%). Assim, o preço-alvo para a ação da empresa foi reduzido pelo analista de R$ 10,00 para R$ 7,00. 

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.